Rio: procuradores chamam acusações de delator de “falsas e mentirosas”
Integrantes da extinta Lava Jato do Rio dizem que Nythalmar Dias Ferreira Filho é conhecido por “distorcer a realidade” dos fatos
atualizado
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Integrantes da extinta Lava Jato do Rio de Janeiro se manifestaram, nesta sexta-feira (4/6), após a revista Veja informar que, em delação premiada, o advogado criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho acusou o juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da força-tarefa, de negociar penas, orientar advogados, investigar, combinar estratégias com o Ministério Público, direcionar acordos, pressionar investigados, manobrar processos e ter tentado até influenciar eleições.
Em nota, os procuradores dizem que as acusações do advogado são “falsas e mentirosas”, e que Nythalmar é conhecido por “distorcer a realidade dos fatos” em benefício próprio.
“É surpreendente que a Procuradoria-Geral da República tenha celebrado acordo de colaboração com Nythalmar Dias Ferreira Filho, figura conhecida por distorcer a realidade de fatos para obter benefícios pessoais”, diz trecho da nota.
Os ex-integrantes da Lava Jato do Rio ainda falam que não tiveram acesso ao teor completo da delação, que se mostra “confusa”.
“A narrativa é confusa (confunde o nome do investigado “Paulo Preto” com “Paulo Pedro”), incongruente (afirma que os procuradores combinaram a revogação de prisão domiciliar de Adriana Ancelmo, mas recorreram) e mentirosa (investigadores teriam tentado transferir uma investigação de São Paulo para o Rio de Janeiro, quando na verdade o processo foi declinado de forma espontânea pela Justiça paulista), porém condizente com o que parece ser a forma com que conduz sua atividade profissional, moldada à base de mentiras para tentar obter benefícios pessoais.”
Por fim, os procuradores afirmam que “não têm nada a esconder”. “Reafirmamos o atuar correto em todos os processos da extinta Lava Jato e continuaremos a atuar de maneira independente no combate à corrupção, livres de pautas políticas”, finaliza o texto.
Entenda
Na delação, obtida pela revista Veja nesta sexta-feira (4/6), Nythalmar diz ter a gravação de uma conversa entre ele, o juiz e um procurador da República encarregado da Lava Jato em 2017 que provaria as acusações.
No áudio, os três falavam sobre possíveis estratégias para convencer o empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Construtora, a confessar seus crimes. Na época, Nythalmar representava Cavendish.
“Você pode falar que conversei com ele, com o Leo, que fizemos uma videoconferência lá, e o procurador me garantiu que aqui mantém o interesse, aqui não vai embarreirar”, diz Bretas. Leo é o procurador Leonardo Cardoso de Freitas, que coordenava a Lava Jato no Rio de Janeiro na época.
“E aí, deixa comigo também que eu vou aliviar. Não vou botar 43 anos no cara. O cara está assustado com os 43 anos”, afirma o juiz. Bretas se referia ao medo que se espalhou entre os investigados em relação à operação quando ele condenou o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, a 43 anos de prisão.
A estratégia funcionou e Cavendish assinou um acordo de delação premiada, na qual confessou o pagamento de cerca de R$ 370 milhões em propina a vários políticos em troca de responder em liberdade ao processo.
A lei, no entanto, proíbe que julgadores se aliem a acusadores ou advogados para obter um determinado resultado.
“O diálogo demonstra claramente que o juiz não só tinha ciência das colaborações antes de serem fechadas, bem como participava, negociava e intermediava com a ciência, participação e cooperação do MPF nas investigações, fato este gravíssimo”, diz Nythalmar.
O delator também acusa Bretas de intermediar um acordo informal com o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, no qual garantia não investigar por corrupção a esposa do político, Adriana Ancelmo.