Revolta no MPF: secretário-geral diz que Deus colocou Bolsonaro no poder
Etiel Santiago deu entrevista defendendo o presidente e atacando duramente Sergio Moro. Procuradores exigem saída do braço direito de Aras
atualizado
Compartilhar notícia
Em mais um capítulo da disputa interna na Procuradoria-Geral da República (PGR), quatro integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) pediram nesta terça-feira (7/7) a saída do secretário-geral do MPF, Eitel Santiago – muito próximo do chefe da PGR, Augusto Aras.
Assinam o documento os subprocuradores-gerais e conselheiros Nicolao Dino, Nívio de Freitas Filho, José Callou e Luiza Frischeisen. O texto menciona entrevista concedida por Santiago à CNN na véspera.
Além de já ter sido filiado ao PSL, partido pelo qual se elegeu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Santiago afirmou na entrevista que os adversários do chefe do Executivo precisam aceitar “que Deus foi responsável” por alçá-lo ao poder, que a pandemia do novo coronavírus é “vontade divina” e que o “Altíssimo vai, no momento certo, acabar com esse sofrimento”.
O número 2 da PGR também afirmou que o ex-juiz Sergio Moro aceitou “ilegalidades” que teriam sido cometidas “em investigações” e que abriu mão da magistratura para entrar na política e chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), dando a entender que, quando ministro, teria sido desleal a Bolsonaro depois de ver que seu nome não passaria no Senado Federal.
Eles listam ainda outros quatro tópicos da entrevista que consideraram graves: Santiago disse que as forças-tarefas do MPF funcionam, “por vezes de forma ilegal”; que a Lava Jato se valeu de prisões para forçar colaborações premiadas e como “instrumento de tortura”; que havia “rumores” de escutas sem autorização judicial na operação e que Aras enfrentou resistência porque “deseja restaurar o espírito republicano, combater o corporativismo, a demagogia e as ilegalidades” no MPF.
Memorando CSMPF Eitel Santiago by Bruna Aidar on Scribd
Para sustentar o pedido de providências, os procuradores lembram que o MPF é regido pelo princípio da imparcialidade, “que abrange a vedação de exercício de atividade político-partidária” e estabelece que promotores não demonstrem preferências por governos.
Ele também teria ferido incorrido em “desapego à premissa que o Estado é laico, confundindo sua fé pessoal religiosa com assuntos de atuação institucional do MPF”.
“Assim, por todos esses motivos, os signatários – membros do Conselho Superior do MPF – solicitam a Vossa Excelência que avalie a oportunidade e conveniência na manutenção do dr. Eitel Santiago de Brito Pereira na função”, conclui o ofício.