Prisão em 2º grau na Lava Jato tornou-se dispensável, diz Mendes
Ministro do Supremo afirma que provisórias decretadas a partir da operação tornam detenções dispensáveis após condenação
atualizado
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O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou as prisões da Operação Lava Jato e defendeu mudanças na forma como são feitas as detenções no Brasil. Segundo ele, as prisões provisórias estão ocorrendo de maneira eterna. Caso isso não mude, ele afirmou que haverá um fortalecimento exagerado dos juízes de primeira instância e do Ministério Público, e que os tribunais superiores serão desnecessários.
“Na verdade, a prisão em segundo grau em alguns casos, em especial no contexto da Lava Jato, se tornou algo até dispensável. Passou a ocorrer a prisão provisória de forma eterna, talvez até com o objetivo de obter delação. Aí, vem a sentença de primeiro grau, e com sentença de segundo grau iniciava a execução. É preciso saber ler estrelas. Ou se muda isso, ou se empodera de maneira demasiada a Justiça de primeiro grau e o MP [Ministério Público], em detrimento das outras cortes”, disse o ministro do STF.
O comentário foi feito nesta segunda-feira (4/12), no “Seminário Independência e Ativismo Judicial: Desafios Atuais”, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, evento que contou com a presença da presidente do STJ, ministra Laurita Vaz, da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, e teve como coordenadores o ministro do STJ Luis Felipe Salomão e o conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Henrique Ávila.Segundo Gilmar, sem a revisão da prisão em segunda instância, o papel do Supremo e do STJ fica reduzido na garantia dos direitos do cidadão. “Se tem quase uma demissão nossa”, disse Gilmar, sobre o tema.
Influência da mídia
No evento, Mendes afirmou que juízes se deixam influenciar pela mídia, ao decidir, e deixam a lei de lado. Responsável por decisões que retiraram da prisão preventiva uma série de investigados nos desdobramentos da Lava Jato no Rio de Janeiro, Gilmar afirmou que “quem decide habeas corpus tem que nadar contra a corrente em determinados momentos”.
“Quem decide reconhecendo direitos está decidindo, em mais das vezes, contra a opinião pública. É evidente. Os direitos fundamentais em geral, a sua segurança, a sua garantia se faz às vezes de forma mal compreendida”, disse.
O magistrado afirmou que, ao se fazer a defesa de direitos de forma conservadora, se está “protegendo aquele indivíduo que nos apedreja”. Segundo ele, “quando se cria Estado autoritário, com excesso de prisão preventiva, se esquece que a próxima vez será daquela pessoa”.
“Temos que atender a imprensa. O que ela espera de nós. Isso também é uma forma de ativismo. Eu saio da lei e deixo de adotar esses critérios. Por quê? Porque eu tenho que atender essa ânsia. Isso passa a ser um grave problema também. Eu passo a ver para fora, como os outros vão me avaliar. O critério da lei eu já deixei de lado.”
“Nadar contra a corrente não é apenas uma sina nossa, é nosso dever. Se nós estivermos sendo muito aplaudidos porque estamos prendendo muito ou negamos habeas corpus, desconfiemos. Nós não estamos fazendo bem o nosso job [trabalho]”, disse.
Opinião
Gilmar afirmou, também, que “quem muda de opinião de acordo com o interlocutor, obviamente, não será um bom juiz”.
Em outubro, um colega de Gilmar no Supremo, o ministro Luís Roberto Barroso, afirmou a ele que “Vossa Excelência vai mudando a jurisprudência de acordo com o réu”.