Novos diálogos: Deltan fez palestra para empresa citada na Lava Jato
De acordo com as conversas, o procurador teria descoberto a situação alguns meses depois e discutiu com colegas como se defender de críticas
atualizado
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Novas conversas vazadas mostram que o procurador Deltan Dallagnol recebeu R$ 33 mil por uma palestra em uma empresa citada em acordo de delação na Operação Lava Jato. Os diálogos foram obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados pelo jornal Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (26/07/2019).
Além disso, o coordenador da força-tarefa em Curitiba teria aproximado outros procuradores da Neoway com o objetivo de usar produtos da empresa, do setor de tecnologia, nos trabalhos do grupo.
Em chat no Telegram, em março de 2016 — dois anos antes da palestra — o nome da empresa foi mencionado em documento da delação do lobista do MDB Jorge Luz. Ele teria afirmado que atuou em favor da Neoway em um projeto de tecnologia da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Os relatos aparecem em documento compartilhado entre os procuradores.
Em uma mensagem enviada a colegas cerca de dois anos após a citação, em março do ano passado, Deltan teria comemorado a futura participação na palestra: “Olhem que legal. Sexta vou dar palestra para a Neoway, do Jaime de Paula. Vejam a história dele”. Em seguida, enviou um link para os procuradores.
Depois disso, alguns colegas o incentivaram a marcar uma reunião com Jaime para negociar o uso de produtos da empresa para o Laboratório de Investigação Anticorrupção (Lina), projeto da procuradoria. “Exatamente. Isso em que estava no meu plano. Vou até citar ele na palestra para ver se sensibilizo. kkk”, respondeu Deltan.
O coordenador da força-tarefa teria ainda gravado um vídeo em que falava dos produtos da empresa. O procurador estaria com medo de parecer garoto propaganda da Neoway e, por isso, teria pedido a assessores da procuradoria que avaliassem o material.
Críticas
Cerca de quatro meses após a palestra, Deltan teria dito a outros procuradores que havia descoberto a citação da empresa na Lava Jato e afirmou: “Isso é um pepino para mim. É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a LV), porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende tecnologia para compliance e due diligence, jamais imaginando que poderia aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada”.
Ele também teria discutido com procuradores como agiria se a informação fosse descoberta e ele recebesse críticas. Ele cogitou dizer que não tinha conhecimento e não participou da negociação para a aquisição dos produtos.
De acordo com a Folha, com essa situação, Deltan e alguns procuradores deixaram as investigações relacionadas a Jorge Luz.
Em um outro momento, o coordenador da Lava Jato teria perguntado a colegas sobre a possibilidade de participar de um evento organizado pela Odebrecht Ambiental. A empresa fez uma das maiores colaborações durante a Lava Jato, conhecida como a delação do fim do mundo.
Procurado, Dallagnol informou ao jornal que não sabia da citação na Lava Jato antes da palestra. Ele reforçou ainda que não reconhece a autenticidade e a integridade das novas mensagens divulgadas. “O que posso afirmar, e é fato, é que eu participava de centenas de grupos de mensagens, assim como estou incluído em mais de mil processos da Lava Jato. Esse fato não me faz conhecer o teor de cada um desses processos”, afirmou.
A Neoway negou ter usado o operador Jorge Luz para conseguir vantagens com a Petrobras e que a contratação de Deltan para a palestra foi feita com valores compatíveis com o mercado para a atividade. A empresa também garantiu que não prestou serviços ou forneceu produtos para a procuradoria.