“Natural que os poderosos reajam”, diz Deltan sobre Lula
Em referência às reações que suas denúncias feitas ontem (14/9) geraram, o procurador Deltan Dallagnol não ficou surpreso e disse que o problema da corrupção no Brasil não tem partido ou governo, é uma questão enraizada
atualizado
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O procurador da República Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, afirmou nesta quinta-feira (15/9) que “é natural que pessoas investigadas reajam” – numa referência aos ataques do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, denunciado na quarta (14) por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, que o petista nega ser dono.
Além de Lula, a mulher dele, Marisa Letícia, e outros seis investigados são alvo da acusação por suposto envolvimento no esquema Petrobras de propinas.
O procurador falou sobre o projeto 10 Medidas contra a Corrupção, iniciativa do Ministério Público Federal que Deltan defende vigorosamente. Na quarta, 14, o procurador classificou Lula de “comandante máximo do esquema de corrupção” instalado na Petrobras.
Ele e outros procuradores da força-tarefa deram entrevista coletiva a dezenas de jornalistas, inclusive do exterior, com uso de power point – expediente que rendeu críticas de aliados de Lula nas redes. Deltan relembrou que esse modo de divulgação da acusação contra investigados já foi adotado em outros “momentos decisivos e transformadores da Lava Jato”, ao longo de seus dois anos e meio de existência.
Sobre os questionamentos que tem ouvido e lido de que não teria apontado provas contra o petista, o procurador reportou-se à sétima fase, deflagrada em novembro de 2014, que levou para a cadeia o primeiro grupo de empreiteiros acusados de liderar o cartel que corrompia agentes públicos e políticos. E lembrou, ainda, da 14.ª etapa, Erga Omnes, em junho de 2015, que alcançou a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, as duas maiores construtoras do País.
“Na 14.ª fase chegamos a duas das maiores empreiteiras. No mesmo dia uma dessas empresas fez uma (entrevista) coletiva afirmando que não tínhamos mais do que indícios e presunções”, disse Deltan, numa alusão direta à estratégia de defesa de Lula que questiona o rol probatório da Lava Jato na denúncia contra o ex-presidente.
“Falamos em presunções, embora tivéssemos provas que consistiam nos depósitos pelas empreiteiras no exterior nas contas de funcionários públicos corrompidos”, destacou Deltan Dallagnol. “Os próprios agentes alvos de corrupção vieram a confirmar que o dinheiro nas contas era oriundo de propinas”, disse o procurador. Ele reafirmou que o diagnóstico da Lava Jato é “perturbador”.
Segundo o procurador, o esquema “mostrou-se muito mais amplo, envolvendo outras estatais como a Eletrobrás e o Ministério do Planejamento”. Ele rechaçou argumento reiterado de aliados de Lula sobre uma suposta motivação político-partidária da acusação. Disse que mais de trezentos investigadores estão mobilizados para as investigações.
“Somos treze procuradores, cinquenta técnicos do Ministério Público Federal, quarenta auditores da Receita e equipes numerosas da Polícia Federal, todos concursados e sem qualquer histórico de vida político-partidária. Todos fazem parte dessa ‘conspiração’?”
“A corrupção é enraizada e histórica no Brasil.” “A corrupção não está vinculada a um partido A ou partido B, a um governo A ou um governo B.” “As pessoas podem questionar por que não denunciamos os crimes anteriores aos governos do PT. Porque os crimes prescreveram, demoramos muito para descobrir isso (a corrupção sistêmica no governo).”
No início de sua palestra, Deltan arrancou aplausos e gargalhadas da plateia, ao ironizar a repercussão sobre o uso de power point na coletiva da quarta-feira, quando foi anunciada a denúncia formal contra Lula. “Vou decepcionar vocês porque não vou falar (sobre a denúncia), nem vou usar nenhum slide aqui.”