Mônica Moura diz ter negociado caixa 2 diretamente com Dilma
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, ela voltou a falar do acerto de valores não declarados para a campanha à reeleição, em 2014
atualizado
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A marqueteira de campanhas petistas, Mônica Moura voltou a afirmar, nesta sexta-feira, 10, que acertou caixa dois de campanha diretamente com a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014. Ela prestou depoimento ao juiz federal Sérgio Moro em que é acusada ao lado de João Santana e de delatores da Odebrecht de crimes relacionados ao departamento de propinas da empreiteira.
“Negociei com a Dilma. O valor foi todo negociado com ela, eu e ela. Pela primeira vez na vida eu negociei diretamente com a presidente”, afirmou. Depois disso, segundo Mônica, quem ficou responsável pela organização do pagamento foi o então ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Ela disse ainda que o ex-ministro mandou que ela procurasse o chefe do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas Silva. O departamento é conhecido como “setor de propina” da empreiteira. De acordo com a publicitária, o valor de R$ 25 milhões foi acordado com a Odebrecht, mas a marqueteira teria recebido R$ 10 milhões, pagos no Brasil, em dinheiro.
“Eu tinha que ter recebido nessa época, da Odebrecht, como a parte que eles iriam pagar da campanha da Dilma Rousseff em 2014, R$ 25 milhões, que eu nunca recebi. Eles pagaram R$ 10 milhões para mim. Em espécie, aqui (no Brasil)”.
Outra parte do dinheiro, segundo a publicitária, deveria ser depositada pela Odebrecht em contas no exterior. “A parte que ia ser depositada lá fora, que sempre eles faziam depois, quando passava a eleição e tal, nunca chegou a acontecer”, disse.
Em nota, a assessoria de imprensa de Dilma Rousseff negou que ela tenha negociado doações eleitorais e classificou as acusações da publicitária como “mentirosas”.
O PT afirmou, por meio de nota, que “como sempre, a Lava Jato arma espetáculos de olho nas eleições, desta vez para criar notícias falsas contra o PT às vésperas do registro oficial da candidatura do ex-presidente Lula, que será na próxima quarta-feira.”
Setor de propina
A ação penal se refere ao funcionamento do Setor de Operações Estruturadas na Odebrecht, destinado especificamente à operacionalização e coordenação dos pagamentos sistemáticos de propina, tanto no Brasil como no exterior. Após serem presos pela Operação Lava Jato, os dois fecharam acordo de delação premiada e já afirmaram em outros depoimentos à Justiça que receberam dinheiro de caixa dois para todas as campanhas que fizeram.
Mônica ainda disse que a prática não era exclusiva do PT. “Não davam [dinheiro não contabilizado] só para o PT, ou para um partido. Inclusive descobriu-se depois que o mesmo valor de caixa 2 da Dilma foi para o Aécio (Neves, então candidato à Presidência pelo PSDB)”.
A publicitária ainda informou ter recebido dinheiro de caixa dois para campanhas fora do Brasil, como na reeleição do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em 2012, e de José Eduardo dos Santos para a presidência de Angola.