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Médico do Paraná é denunciado por lesbofobia: “Não sei que espécie é”

Dorival Ricci Junior, de 49 anos, foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná por racismo social e falsidade ideológica

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O médico bolsonarista Dorival Ricci Junior, de 49 anos
1 de 1 O médico bolsonarista Dorival Ricci Junior, de 49 anos - Foto: Reprodução/ Redes sociais

O médico Dorival Ricci Junior (foto em destaque), de 49 anos, foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) pelos crimes de racismo social e falsidade ideológica após expulsar do hospital em que é administrador uma cuidadora de idosos lésbica.

Em referência à vítima, de 36 anos, o médico disse não saber “que espécie que é, se é homem ou se é mulher”. Dorival Ricci Junior também disse que “aqui não pode”, e perguntou como ela entrou na unidade de saúde. “Não quero saber, saia do meu hospital”, disse.

A denúncia, à qual o Metrópoles teve acesso, foi apresentada na última quinta-feira (11/3). Os crimes alegados, porém, ocorreram em 29 de janeiro de 2020, no Hospital Paraíso, em Paraíso do Norte – pequena cidade no interior do Paraná, a 516 quilômetros de Curitiba.

Segundo a Promotoria de Justiça, o médico, “agindo dolosamente, ciente da ilicitude e reprovabilidade da conduta, imbuído de ânimo lesbofóbico”, praticou discriminação em razão de orientação sexual contra a vítima, impedindo que ela exercesse o trabalho.

A mulher havia sido contratada para acompanhar um idoso que estava internado no Hospital Paraíso – herdado por Dorival Ricci Junior do pai, o médico Dorival Ricci, considerado pioneiro da cidade e morto no início do ano passado após apresentar problemas cardíacos.

Na ocasião, Dorival Ricci Junior, ao entrar na enfermaria onde trabalhava a vítima, indagou a uma enfermeira que o acompanhava se ela “teria estudado o caso dela”, em referência à homossexual. A profissional de saúde respondeu que a mulher era “feminina”.

“Isso não pode. O que isso aqui está virando?”, perguntou o médico, em estado de ânimo alterado, à enfermeira, na frente da vítima. Em seguida, Dorival Junior questionou outras enfermeiras: “Vocês não se sentiriam constrangidas se ela as visse urinando?”

“Após a vítima tentar, sem sucesso, interpelá-lo diante das ofensas lesbofóbicas, o acusado disse, ainda: ‘Não quero saber, saía do meu hospital’, ‘Não sei que espécie que é, se é homem ou se é mulher’ e ‘Aqui não pode'”, prosseguiu a promotoria.

O médico também é acusado de falsidade ideológica, pois, após a vítima se retirar do hospital, ele teria inserido informação falsa no “termo de responsabilidade de acompanhante” ao dizer que o paciente recusou a cuidadora de idoso por ser do sexo feminino.

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“Cientes da ilicitude e reprovabilidade de suas condutas, em concurso de agentes, um aderindo à conduta do outro, inseriram declaração falsa em documento particular, com o fim de alterar verdade sobre fato juridicamente relevante”, registrou o MPPR, sobre o médico e uma enfermeira também denunciada.

Segundo a promotoria, o médico colheu a assinatura do paciente, sem que lhe fosse explicado o teor do conteúdo do termo de responsabilidade, “aproveitando-se de sua situação de vulnerabilidade enquanto paciente em tratamento de dengue hemorrágica”.

O documento ainda foi utilizado por Dorival Ricci Junior como “prova” em um outro processo judicial que trata de ação de obrigação de fazer de reparação de danos morais movida pelo acusado em face da irmã da vítima.

O Metrópoles procurou o médico Dorival Ricci Junior desde a manhã de segunda-feira (15/3). Apesar da série de tentativas e de pedir para a secretária do profissional deixar um recado, o denunciado não retornou os contatos da reportagem. O espaço segue aberto.

Nas redes sociais, Dorival Ricci Junior se mostra apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Durante as últimas eleições presidenciais, em outubro de 2018, o médico divulgou vários posts a favor do então deputado federal. “#EleSim”, dizia um deles.

Durante a pandemia do novo coronavírus, Dorival Ricci Junior diz coordenar um grupo de 257 médicos no Paraná que têm utilizado a hidroxicloroquina como tratamento precoce da Covid-19. Ele também crítica a atuação dos governadores durante a crise sanitária.

Em entrevista no dia 10 de julho de 2020 ao site bolsonarista Brasil Sem Medo, lançado pelo professor de filosofia on-line Olavo de Carvalho, o médico garante ter zerado a quantidade de internações por Covid-19 após adotar o protocolo de tratamento precoce.

“Foram em torno de 100 pacientes tratados presencialmente ou por telemedicina, e tivemos apenas um óbito — justamente o primeiro paciente, que não recebeu tratamento precoce”, alegou o médico bolsonarista, descrito como “um dos heróis vestidos de branco” na pandemia.

“Quantas vidas teriam sido poupadas se tivéssemos usado antes a hidroxicloroquina? Estamos numa guerra, precisamos usar a arma que temos nas mãos. E a arma mais eficiente, hoje, é esse medicamento”, prosseguiu o médico, apesar de não haver, até hoje, dado científico que comprove a fala dele.

No último dia 2 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que a hidroxicloroquina – remédio amplamente divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro – não funciona no tratamento contra a Covid-19 e alertou ainda que seu uso pode causar efeitos adversos.

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