Manifestantes prometem defender Lula até “com sangue” em Porto Alegre
Protestos a favor e contra o ex-presidente ocorrem nesta quarta-feira (24/1) na capital gaúcha
atualizado
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Manifestantes do Uruguai atravessaram a fronteira com o Brasil para acompanhar o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (24/1), em Porto Alegre (RS). Eles engrossam o coro dos apoiadores do petista, que prometem defendê-lo “com sangue”, em caso de nova condenação e consequente inelegibilidade para as eleições deste ano. Por outro lado, há quem culpe Lula pela suposta corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).
Um grupo de 10 amigos (foto em destaque) viajou 803km, da capital uruguaia, Montevidéu, para apoiar o ex-presidente. Eles também integram centrais sindicais no país natal e acreditam que a manutenção da democracia no Brasil e nações irmãs na América do Sul passa pela absolvição de Lula. “Defendemos que a Justiça deixe o povo escolher o que é melhor para eles”, disse Tamara García, 27.
Por outro lado, antagonistas do petista o culpam pelos supostos crimes. A desempregada Enir Monteiro, 53, mora no centro histórico de Porto Alegre e foi com o filho Leonardo Monteiro ao local do julgamento por curiosidade.
A mulher ficou impressionada com o aparato policial e diz não entender o porquê de as pessoas defenderem o Lula, “mesmo com tantas provas”. “As pessoas são meio alienadas, não é? Mas, pelo menos uma vez na vida, temos segurança nesta cidade”, ironizou.
Em meio ao fogo cruzado dos aliados e opositores do ex-presidente, há quem esteja neutro. É o caso de Guilherme Moraes da Silva, 18. Ele aproveita o embate para adaptar o trabalho do dia a dia e faturar grana extra. Ele ganha a vida vendendo bandeiras do Internacional e do Grêmio — seu time do coração — nas portas dos estádio Beira Rio (do Colorado) e da arena tricolor.
Na terça-feira (23), em Porto Alegre, Silva encomendou confecção de 500 bandeiras do Brasil e do PT. E a visão empreendedora do jovem deu resultados. “Em três horas de anúncio, vendi 80 flâmulas do partido e 70 do país, ganhei mais de R$ 300”, contou. Até o fim desta quarta-feira (24), ele acredita voltar para casa com mais de R$ 2 mil.
Julgamento
Três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) julgam recurso do petista já condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não somente o destino do petista está em jogo. O veredito da Corte federal terá grande influência no cenário político nacional, visto que Lula é um dos principais pré-candidatos à Presidência da República nas eleições deste ano.
Em sua primeira sessão em 2018, a 8ª Turma analisa recursos do Ministério Público Federal (MPF) e da defesa do petista, condenado pelo juiz federal Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses de reclusão no caso do triplex do Guarujá (SP) em julho passado. Segundo a acusação, o ex-presidente beneficiou, em troca de propina, a construtora OAS em contratos com a Petrobras.
Os advogados pedem a absolvição de Lula. Já o MPF, o aumento da pena para até 18 anos de prisão e a condenação de outros três acusados, todos ex-diretores da empreiteira, que foram absolvidos em primeira instância.
Cenário turvo e polarizado
No entanto, o julgamento desta quarta (24) não representa uma desfecho no processo contra Lula, já que, independentemente do resultado, tanto a defesa quanto o Ministério Público podem apresentar novas apelações. A sessão, contudo, pode indicar a inelegibilidade do petista, líder das intenções de voto na disputa para o Palácio do Planalto nas eleições gerais de outubro.
Segundo a Lei da Ficha Limpa, condenados em segunda instância não podem se candidatar a cargos públicos. Portanto, caso o TRF-4 mantenha a sentença de primeira instância, Lula se torna, em tese, inelegível. Se esse for o cenário confirmado, a disputa pela Presidência, que já é incerta, torna-se ainda mais turva.