Lava Jato: força-tarefa combinava com Receita quebra de sigilo de ministros
Novos diálogos, enviados pela defesa de Lula ao STF, mostram procuradores falando sobre parceria com o órgão
atualizado
Compartilhar notícia
Os procuradores da Lava Jato de Curitiba tinham um suposto acerto clandestino de troca de informações com a Receita Federal para quebrar o sigilo de seus alvos, inclusive de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A informação consta em mensagens entregues pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo os diálogos entre os integrantes da força-tarefa, os acertos ilegais eram feitos com Roberto Leonel de Oliveira Lima, chefe do Escritório de Pesquisa e Investigação na 9ª Região Fiscal.
Veja a íntegra do documento:
Conversas Lava Jato by Metropoles on Scribd
Em julho de 2015, por exemplo, os procuradores discutiam uma anotação encontrada com Flávio Lúcio Magalhães, apontado como operador de propina da Andrade Gutierrez. A lista citava diversas pessoas, entre elas, ministros do STJ.
“A RF [Receita Federal] pode, com base na lista, fazer uma análise patrimonial [dos ministros], que tal?”, diz Dallagnol. Em seguida o procurador informa: “Combinamos com a Receita.”
A conversa não indica quais ministros foram investigados, mas mostra que o MPF no Paraná só tinha por honestos ministros que atendiam, incondicionalmente, os pedidos da Lava Jato. “Felix Fischer eu duvido. Eh (sic) um cara sério”, diz o procurador Diogo Castor em referência ao relator dos processos da operação no STJ.
O próprio Dallagnol admite não acreditar que a lista encontrada com Magalhães envolvia pessoas que recebiam propina. Mas decidiu pedir a análise patrimonial mesmo assim. “Aposto que não são propina. São muitos pra serem corruptos”, afirmou.
Marisa Letícia
Os alvos vão desde ministros até figuras relacionadas a políticos, como é o caso de Marisa Letícia, esposa de Lula, morta em 2017.
“Dona Marisa comprou árvores e plantas no Ceagesp em dinheiro para o sítio. Pedi pro Leonel ver se tem nf [nota fiscal]”, disse o procurador Januário Paludo em uma conversa de fevereiro de 2016.
Na sexta-feira (5/2), o presidente do STJ, Humberto Martins, solicitou que o procurador-geral da República, Augusto Aras, instaure inquérito para investigar a conduta de procuradores da Lava Jato.
Martins cita a notícia de que os procuradores Deltan Dallagnol e Rodrigo Castor tinham intenção de investigar ministros do STJ sem autorização do Supremo.
A reportagem demandou a Receita Federal e o Ministério Público sobre os diálogos e espera as respostas. O espaço continua aberto para manifestações.