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Grampo deu à Lava Jato rastro da propina para filho de Edison Lobão

Fase 65 da Lava Jato que prendeu Márcio Lobão por suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio da compra de obras de arte e imóveis

atualizado

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Agência Brasil
Márcio-Lobão
1 de 1 Márcio-Lobão - Foto: Agência Brasil

A quebra de sigilo telefônico foi o tiro certo para que a força-tarefa da Operação Lava Jato traçasse o caminho da propina ao filho e suposto “operador” do ex-senador Edison Lobão (MDB/MA), ex-ministro de Minas e Energia dos governos Lula e Dilma. Estações rádio base ajudaram a reconstruir a movimentação de investigados em torno do escritório de advocacia de Marta Lobão, nora do emedebista, onde delatores apontam como destino do dinheiro pago pelas companhias Estre Ambiental e Odebrecht.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as empresas pagaram, ao menos entre 2008 e 2014, cerca de R$ 50 milhões em propinas a Edison e a Márcio Lobão. Neste período, segundo a Lava Jato, o patrimônio de Márcio teria saltado de R$ 8 milhões para R$ 44 milhões.

A fortuna teria sido ocultada por meio da aquisição de obras de arte em um esquema que o delegado Luciano Flores, chefe da PF no Paraná, definiu como “uma aula de lavagem de dinheiro”. As propinas da Estre foram narradas inicialmente pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

O ex-presidente da Estre, Wilson Quintella, admitiu à Lava Jato que fazia repasses ao grupo político de apoio de Machado. Para viabilizar o dinheiro, segundo a investigação, ele fez uso do escritório de advocacia de Mauro de Morais, que teria emitido notas fiscais frias.

Segundo a Lava Jato, o dinheiro em espécie gerado era então repassado para Antonio Kanji, então funcionário da Estre encarregado por Wilson Quintella Filho de realizar as operações de entrega de propinas, que, ‘no caso das propinas pagas ao então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, as entregas de dinheiro ocorriam na Rua México, 168, Centro, Rio, em escritório da família de Márcio Lobão, filho de Edison’.

De acordo com a força-tarefa, ‘foram identificados dados telefônicos que, associados aos elementos probatórios já relatados, permitem concluir pela existência de fortes indícios da ocorrência de operação de entrega de propina no escritório da Rua México, 168, nos dias 22 de fevereiro de 2013, 3 de abril de 2013, 28 de agosto de 2013 e 19 de novembro de 2013’.

A partir da quebra do sigilo telefônico, a Lava Jato mirou principalmente os deslocamentos de Kanji, usado pela Estre para entregar as propinas. “Os deslocamentos de Antonio Kanji foram inferidos a partir de dados de localização, data e hora relativos a Estações Rádio Base (ERB) que captaram sinais do celular de Antonio Kanji, permitindo, assim, estabelecer as localizações aproximadas de Antonio Kanji nas referidas datas e horários”.

“Algumas das ERB – Estações Rádio base (Antenas) que captaram sinal do aparelho celular de Antonio Kanji nas datas mencionadas são as localizadas na Av. Rio Branco, 156 e Rua México, 148, bem próximos da Rua México, 168, onde eram entregues propinas tendo como destinatário Márcio Lobão, intermediário de seu pai o então Ministro de Minas e Energia Edison Lobão”.

De acordo com a Lava Jato, as localizações ficam a 88 metros e 178 metros de distância do escritório.

A Lava Jato dá conta de que ‘houve diversos contatos telefônicos entre Antonio Kanji e terminais telefônicos atribuídos ao escritório Sérgio Sahione Fadel Advogados Associados, possivelmente para o ajuste de entregas de propina no endereço do referido escritório Rua México, 168, 12o andar, Centro, Rio de Janeiro’.

Depois, segundo os procuradores, ‘Antonio Kanji deslocava-se de São Paulo para Rio de Janeiro e horas depois já estava localizado em endereço bem próximo do escritório Sérgio Fadel, na Rua México, 168, Centro, Rio de Janeiro; momento em que efetuava entrega de dinheiro em espécie naquele endereço’.

Logo depois, o ‘japonês de confiança’ da Estre ‘deslocava para o Rio de Janeiro e, em poucas horas, já retornava para São Paulo; permanecia poucas horas no Rio de Janeiro, provável que somente para cumprir o encargo de efetuar entrega de dinheiro em espécie no escritório da Rua México, nº 168’.

Como exemplo, a Lava Jato faz um relato detalhado de três dias em que teriam ocorrido entregas de dinheiro.

No dia 21 de fevereiro, de 2013, por exemplo, Kanji recebeu uma ligação do escritório Fadel, na rua México, Pas 15h15. “Na manhã do dia seguinte (22/02/2013, às 07h01), sinal emitido pelo aparelho celular de ANTONIO KANJI foi captado por ERB localizada no Alto da Lapa, São Paulo-SP. Poucas horas depois (às 11h20), sinal emitido pelo aparelho celular de ANTONIO KANJI foi captado por ERB localizada no Centro do Rio de Janeiro – RJ”.

Segundo a Lava Jato, depois ‘de mais algumas horas (22 de fevereiro de 2013, às 14h59), sinal emitido pelo aparelho celular de Antonio Kanji foi captado por ERB localizada na Rua Mexico, nº 148, Centro, Rio de Janeiro – RJ, a poucos metros portanto do escritório da família Fadel (Rua México, nº 168), endereço esse onde eram entregues propinas tendo como destinatário Márcio lobão, intermediário de seu pai o então Ministro de Minas e Energia Edison Lobão’.

“Logo depois, às 16h39 do dia 22 de fevereiro 2013, sinal emitido pelo aparelho celular de Antonio Kanji foi captado por ERB localizada no Bairro Vila Leopoldina, em São Paulo-SP”, narra a Lava Jato.

De acordo com a força-tarefa, por meio dos contatos, foi possível reconstituir as movimentações de Kanji da seguinte forma:

  • “(1) 21/02/2013, 15h15: Antonio Kanji entrou em contato telefônico com o escritório de Sérgio Fadel (sogro de Márcio Lobão), possivelmente para tratar sobre entrega de propina no escritório localizado na Rua México, nº 168, Centro, Rio de Janeiro-RJ, que seria realizada no dia seguinte (22/02/2013);
  • (2) 22/02/2013, entre 07h01 e 11h20: Antonio Kanji desloca-se de São Paulo para Rio de Janeiro;
  • (3) 22/02/2013, 14h59: Antonio Kanji está localizado bem próximo do escritório de Sérgio Fadel, na Rua México, nº 168, Centro, Rio de Janeiro; local onde efetua a entrega da propina em espécie;
  • (4) 22/02/2013, 16h39: Antonio Kanji já está em São Paulo novamente; observa-se que permaneceu poucas horas no Rio de Janeiro, possivelmente para cumprir o encargo de efetuar entrega de dinheiro em espécie no escritório da Rua México, nº 168”.

Com a palavra, a defesa
“A defesa de Márcio Lobão obteve recentemente acesso ao conteúdo da decisão judicial que determinou sua prisão. Tratam-se de fatos antigos, que envolvem investigações diferentes, sobre as quais não houve nenhuma ação dos investigados a impedir ou dificultar o trabalho do órgão de acusação. Pelo contrário, a defesa, sempre que intimada, prontificou-se a prestar esclarecimentos e colaborar com a Justiça. Diante disto, a decretação de prisão mostra-se desnecessária e viola princípios básicos do direito, que devem ser restabelecidos pelo Poder Judiciário.”

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