Gilmar: comparação entre STF e vara de Moro é absolutamente imprópria
O ministro do STF acrescentou que o juiz federal tem conseguido destaque porque trabalha em “condições especialíssimas”
atualizado
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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse, nesta quinta-feira (20/4), que a comparação entre os trabalhos apresentados na Corte e na 13ª vara de Curitiba é “absolutamente imprópria”. O magistrado, que também preside o Superior Tribunal de Justiça (STJ), acrescentou que o juiz federal Sérgio Moro tem conseguido destaque porque trabalha em “condições especialíssimas”.
“Ele (Moro) só faz isso”, afirmou em relação ao julgamento dos casos ligados à Operação Lava Jato. Mendes considerou que o judiciário brasileiro de primeira instância não pode ser representado pelo que ocorre na 13ª vara de Curitiba. “O judiciário de primeira vara é o que não julga, tem problemas seríssimos”, avaliou.
“Este não é o caso de todos os juízes, que têm competências das mais diversas. Portanto, quando se faz comparação com a primeira instância, como se funcionasse, isso é uma bobagem. Mas é uma bobagem tão retumbante…”, criticou.
Em meio a dúvidas sobre atrasos nos julgamentos com possibilidades de prescrição, o ministro disse que não há “nenhum risco” de paralisia no STF em relação aos casos referentes à Operação Lava Jato. Mendes também disse não ter claro se o momento é o mais adequado para reivindicação de mudança de foro, como sugerem algumas correntes e investigados.
Mendes também rebateu críticas sobre problemas de prescrição no Supremo. “Quando se fala isso, é preciso comparar com o que está acontecendo na vara lá em Caratinga, em Diamantino, em Cabrobó. Em suma, essa é a realidade brasileira.”
Ele voltou a dizer que Curitiba não é o padrão da primeira instância e nem da Justiça Federal. “Não estou fazendo nenhuma censura, mas um juízo de comparação. Então essa constatação, do ponto de vista acadêmico, é até irresponsável”, afirmou.
O ministro lembrou que foi presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e que, por isso, poderia fazer essa avaliação com tranquilidade. Ele citou como exemplo que cinco mil homicídios em Alagoas não têm inquérito aberto, o que quer dizer que sequer terão um processo ao final. “Em 2013, o Conselho Nacional do Ministério Público mostrou uma pesquisa de que apenas 8% dos homicídios do Brasil são revelados, e isso é responsabilidade da primeira instância”, exemplificou.
Seria muito bom para o Brasil, de acordo com Mendes, que a Justiça de primeiro grau funcionasse melhor, inclusive para segurança pública. “O CNJ e CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) funcionam mal e precisam melhorar muito para dizermos que são ruins”, criticou, acrescentando que os órgãos perderam o impulso nos últimos anos para melhorar a Justiça no Brasil.
O ministro sai de Lisboa e segue para a França, onde acompanhará as eleições presidenciais que ocorrem no próximo domingo (23). Ele volta para o Brasil na terça-feira (25). Mendes falou com jornalistas no último dia do V Seminário Luso-Brasileiro de Direito, promovido na capital portuguesa pela Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (EDB/IDP) e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL).