Garotinho priorizava Odebrecht em obras de Campos, afirma delator
Empreiteira obteve dois contratos cujos valores somados chegam a R$ 800 milhões para a construção de casas populares na cidade
atualizado
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O executivo da Odebrecht Leandro Andrade Azevedo, responsável por contratos da construtora com a Prefeitura de Campos dos Goytacazes durante a gestão Rosinha Garotinho (PR-RJ), afirmou, em delação premiada, ter se reunido com o ex-governador do Rio Anthony Garotinho para tratar de atrasos em obras do município, sempre que os pagamentos atrasavam.
De acordo com o delator, como reação às cobranças, Garotinho, marido da prefeita, “determinava prioridade” aos pagamentos à construtora aos secretários municipais. A Odebrecht obteve dois contratos cujos valores somados chegam a R$ 800 milhões para a construção de casas populares em Campos.
O conjunto de planilhas de depoimentos entregue pela empreiteira no inquérito que investiga Garotinho dá conta de que R$ 12 milhões foram pagos, por meio de caixa dois, ao ex-governador do Rio, para financiar campanhas eleitorais dele e da mulher, Rosinha, no período entre 2008 e 2014.
Somente para as campanhas de Rosinha Garotinho à Prefeitura de Campos, em 2008 e 2012, os executivos dizem ter repassado R$ 3,3 milhões de reais por meio de caixa dois. Os valores eram operacionalizados pelo departamento de propinas e repassados, via doleiros, em dinheiro vivo, ao escritório pessoal de Garotinho. De acordo com os relatos, o local, no centro do Rio de Janeiro, é a sede da produtora Palavra de Paz, pertencente ao ex-governador.
Uma das bandeiras de campanha e promessa política de Rosinha para Campos de Goytacazes era a construção de moradias populares Em 2009, quando assumiu o cargo, a então prefeita anunciou o “Programa Morar Feliz I”, para erguer mais de 5 mil casas, no valor de R$ 357 milhões.
Os depoimentos de executivos dão conta de que a Odebrecht tinha “expertise” nessa modalidade de obra e, estudos feitos pela construtora apontavam que somente ela poderia executar as obras nos padrões do edital lançado pela Prefeitura, à época. “Pelas condições nele (no edital) previstas, acredito que foi levado em consideração o interesse e capacitação da Odebrecht nesta obra”, afirmou o delator Leandro Azevedo.
“Para que não participássemos sozinhos da licitação, pedimos para que a Carioca Engenharia e a Queiroz Galvão darem um preço acima do nosso”, relata o ex-diretor de contratos no interior do Rio.
O programa Morar Feliz teve ainda continuidade no segundo mandato de Rosinha Garotinho. No edital divulgado em 2012, a construção de 4,5 mil casas estava prevista, com o custo de R$ 476 milhões aos cofres públicos. Dessa vez, a Odebrecht participou sozinha da concorrência e, mais uma vez, venceu o edital.
O executivo Leandro Azevedo disse ter comparecido a diversas reuniões em que houve cobranças referentes a atrasos nos pagamentos da prefeitura à empreiteira, quando era diretor de contratos no interior do Rio. “Essas reuniões geralmente se davam para reportar algum atraso de pagamento em decorrência de contratos que tínhamos em Campos de Goytacazes, o que resultava na determinação por ele para que fosse dada prioridade aos pagamentos. presenciei algumas vezes, Garotinho telefonando para os secretários da fazenda durante a gestão de Rosinha (Suledil Bernardino da Silva e Francisco Arsenio de Mello Esquef) e pedindo que tivéssemos preferência na regularização de pagamentos em atraso, o que de fato aconteceu”.
Defesa
“Os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho negam que tenham recebido qualquer contribuição irregular da Odebrecht Como os próprios delatores afirmaram, não houve benefício pessoal para eles ou favorecimento à empresa em nenhuma obra. Afirmam ainda que, se a petição virar inquérito, ficará claro que os delatores estão mentindo, já que não apresentaram nenhuma prova do que falaram”.