Ex-ministro Geddel depõe em Brasília sobre suposta pressão em Funaro
Caso resultou na primeira prisão do ex-ministro, em julho de 2017. O emedebista teria tentado atrapalhar investigações
atualizado
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Em depoimento na 10ª Vara Federal em Brasília, nesta terça-feira (6/2), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) afirmou que as 17 ligações feitas à mulher de Lúcio Funaro foram “coisa do Iphone, que toca e não completa a ligação.” O político responde por suposta tentativa de barrar a delação premiada de Funaro, homem identificado como operador financeiro do então PMDB em esquema de recebimento de recursos ilícitos por empresários e pagamento a políticos. O caso, investigado na Operação Cui Bono?, levou o emedebista pela primeira vez à prisão em julho de 2017, antes da descoberta do “bunker” dos R$ 51 milhões em um apartamento de Salvador.
Geddel chegou à sala da 10ª Vara, às 10h30, acompanhado por advogados e com o uniforme todo branco que usa no Complexo Penitenciário da Papuda, onde está preso. Na audiência, comandada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, o primeiro a depor foi o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que falou na condição de testemunha por meio de videoconferência.
Na denúncia contra Geddel, o Ministério Público Federal (MPF) sustenta que, após a prisão de Funaro, o ex-ministro monitorou e constrangeu a mulher do operador, Raquel Pitta, com a intenção de “influenciá-lo” a não colaborar com as investigações sobre desvios na Caixa Econômica Federal.
Geddel tentou desconstruir o depoimento de Raquel Pitta e a denúncia do MPF. Disse que, das 17 ligações à mulher citadas na denúncia, apenas uma foi efetiva e as outras teriam sido registradas por uma falha no celular. “Coisa do iPhone, que toca e não completa a ligação”, afirmou.
Negou também que qualquer das chamadas tenha sido feita à mulher de Funaro às sextas-feiras, dia de visita na Papuda – onde o operador financeiro ficou detido até 19 de dezembro passado, quando o juiz Vallisney determinou a progressão para o regime domiciliar.
Em seguida, Geddel questionou as motivações de Raquel Pitta: “Ela só começou a printar as mensagens após o início dos boatos de delação. Me parece uma coisa muito encaixada, orientada, dirigida”. Segundo o ex-ministro, as ligações eram “absolutamente humanitárias” e tinham o objetivo de prestar solidariedade após a prisão de Funaro.
Negou, ainda, ter tratado sobre a escolha de advogado de Funaro, que, supostamente, teria sido indicado pelo ex-ministro. “Nunca o vi (advogado), nunca falei por telefone ou por qualquer outro meio de comunicação”, afirmou o ex-ministro, que se emocionou ao lembrar o dia em que foi preso. “Naquele 8 de setembro, eu já fui condenado à pior das penas. Ali não há indulto, anistia ou graça. Fui condenado à morte civil.”
O ex-ministro confirmou que teve encontros com Funaro e chegou a ir à casa do operador financeiro “uma ou duas vezes”. Questionado sobre como o conheceu, disse crer que tenha sido por intermédio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. “Não tenho como lembrar de tudo, mas provavelmente, sim”.
Após as perguntas do juiz, o procurador Anselmo Lopes fez questionamentos ao réu. A defesa de Geddel, no entanto, orientou o cliente a não responder às perguntas da acusação. Em alguns momentos, inclusive, houve tensão entre os defensores do ex-ministro e o representante do Ministério Público.
Em seguida, foi a vez da defesa fazer perguntas ao ex-ministro. Aos seus advogados, Geddel disse que nunca foi avisado de que não poderia se comunicar com Raquel Pitta, e que ela também se comunicava com ele. Segundo Geddel, em nenhum instante, a mulher de Funaro pediu para que ele parasse de contatá-la.
O juiz Vallisney, então, passou a palavra para que o MPF pudesse fazer as alegações finais no processo, mas a acusação pediu mais tempo para se manifestar por escrito. O magistrado concedeu prazo de cinco dias para a apresentação do documento. A audiência, então, foi encerrada.
Após a oitiva, o procurador Anselmo Lopes afirmou que o MPF pretende apresentar as alegações finais na próxima sexta-feira (9/2). Segundo o procurador, o pedido de prazo foi necessário porque a acusação precisa checar o que foi dito na audiência de hoje e na de custódia. Segundo Lopes, “a exploração das contradições ficou prejudicada porque Geddel se recusou a responder às perguntas do MPF”.
O advogado Gamil Föppel, que representa Geddel Vieira Lima, reiterou que a defesa estava pronta para apresentar as alegações finais durante a audiência. “O MPF certamente se deu conta da fragilidade da acusação”, disse. O defensor menciona ainda que orientou o ex-ministro a não responder às perguntas do Ministério Público por “coerência processual”, já que, segundo ele, Geddel se ofereceu formalmente para se manifestar junto ao MPF. No entanto, de acordo com o advogado, não houve interesse por parte da acusação.
A denúncia
Os procuradores Anselmo Lopes Cordeiro e Sara Moreira denunciaram, em agosto de 2017, o ex-ministro Geddel pelo crime de obstrução de Justiça e pela suposta pressão exercida pelo emedebista para que Funaro permanecesse em silêncio e não fizesse acordo de colaboração premiada.
Em depoimentos na mesma 10ª Vara, em novembro passado, Lúcio Funaro e Raquel Pitta confirmaram a suposta pressão de Geddel sobre ela para evitar a delação do operador financeiro.
Na ocasião, Funaro afirmou que a esposa teria tirado print das ligações do ex-ministro após um pedido seu. “Tinham a finalidade de provar que o ministro Geddel Vieira Lima entrava em contato frequente com a minha esposa”, disse o operador financeiro. Os documentos foram entregues ao advogado de defesa de Funaro na época em que o operador prestava depoimento na Polícia Federal.