Ex-executivo da Odebrecht diz que gerenciava fortuna de Duque
João Antonio Bernardi Filho foi o primeiro funcionário do empresário a fechar acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato
atualizado
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Primeiro ex-executivo da Odebrecht a fechar acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato, João Antonio Bernardi Filho afirmou que abriu a offshore Hayley S.A, no Uruguai, e sua filial no Brasil para ocultar a fortuna do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque – braço do PT no esquema de corrupção na estatal, que envolvia ainda o PMDB e PP.
“Entre 2009 e 2010 a Hayley recebeu por volta de 5 milhões de dólares”, afirmou Bernardi, em seu termo de delação premiada, homologado nesta segunda-feira, 26 pelo juiz federal Sérgio Moro – que conduz os processos da Lava Jato.
Bernardi conta que, em 2009, Duque – que está preso em Curitiba, desde março – o procurou informando que tinha “valores a receber no exterior” e teria oferecido a ele que “administrasse tais valores”.
“Foi aberta a Hayley Sociedad Anonima”, contou Bernardi à força-tarefa da Lava Jato, no termo número 1, ouvido no dia 15. “Foi aberta uma conta no Millenium no BCP, em Genebra”, afirmou. O convite decorreria da longa amizade e do conhecimento adquirido por ele no trabalho com empresas offshores – usadas, neste caso, para abertura de contas secretas no exterior.
Imóveis
Além de quadros – foram apreendidos mais de cem na casa de Duque, no Rio -, o patrimônio de propina do ex-diretor teria sido oculto em bens imóveis.
“A ideia inicial era aplicar esses recursos em papel (bonds, ações, etc) e depois esta ideia evoluiu para também aplicar esses valores no Brasil, em imóveis, de modo a ter renda para quando Renato Duque saísse da Petrobras”, contou o novo delator da Lava Jato.
Bernardi diz ter contrato o advogado José Reginal Filpi para abrir uma offshore para operar esses recebimentos que Duque disse ter. “(Duque) não disse inicialmente qual montante tinha a receber, mas informou que o valor viria de uma única empresa.” Teria sido Filpi, o advogado, que sugeriu o Uruguai para abertura de uma offshore, diz o ex-executivo da Odebrecht.
Bernardi foi solto nesta segunda-feira. Ele diz que foi engenheiro da Odebrecht por 22 anos, até 2002. Depois trabalhou na Saipem – multinacional italiana com contratos investigados na Petrobras – até junho deste ano. Sua amizade com Duque é anterior, “mais de 30 anos”, quando os dois começaram carreira na Petrobras no setor de perfuração de poços para exploração de petróleo.
Bernardi apontou um total de ativos de US$ 10,6 milhões. Desses, ele entregou US$ 1,65 milhão, da conta Worly, no banco Credit Agricole, em Genebra, Suíça, R$ 891 mil em 14 quadros comprados pela Hayley do Brasil, um quadro do artista Guignard em nome da offshore já apreendido e US$ 1,5 milhão do valor das ações do fundo de investimento.