metropoles.com

Entenda a guerra de liminares no STF que inflamou a República

Nas cinco horas em que vigorou, decisão de ministro Marco Aurélio provocou reação de políticos, juristas, apoiadores e opositores de Lula

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
STF
1 de 1 STF - Foto: Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles

Em um momento no qual membros do Legislativo e do Judiciário se preparavam para entrar de recesso de fim de ano, nessa quarta-feira (19/12), antes do Natal, o Brasil viveu dia atípico, de muita tensão. Durante cinco horas, integrantes da magistratura, do Ministério Público, da cena política, de movimentos sociais e cidadãos comuns debateram e trocaram farpas no mundo real e no virtual. Todos se debruçavam sobre a possibilidade de presos condenados em segunda instância judicial, mais ainda com apelações a serem apreciadas, poderem sair às ruas a partir da decisão de um único integrante do Supremo Tribunal Federal (STF).

A polêmica começou no início da tarde, quando o ministro do STF Marco Aurélio Mello deferiu liminar impetrada pelo PCdoB que determinava a soltura de presos condenados após segunda instância sem o trânsito em julgado, e no instante em que o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, revogou a decisão. No epicentro do terremoto político-jurídico que estremeceu a nação, estava a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e outros condenados em casos de corrupção, especialmente os enrolados na Operação Lava Jato – sair da prisão.

A guerra de liminares deixou o país em polvorosa, mexendo com as instituições. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, teve atuação decisiva no episódio. Rapidamente, assim que Marco Aurélio publicou seu despacho, Dodge enviou ao STF pedido para que a medida fosse derrubada.

Para a procuradora, a decisão era “temerária e desrespeitava o princípio da colegialidade, uma vez que o plenário do STF já se manifestou, por diversas vezes, pela constitucionalidade da chamada execução provisória da pena”.

Dias Toffoli atendeu ao pedido de Dodge, escrevendo, em decisão proferida no início da noite de quarta (19), que caberá ao colegiado do Supremo apreciar a matéria de forma definitiva, já pautada para 10 de abril do próximo ano judiciário.

Embate saiu da web e foi para a praça
Após a divulgação da decisão de Marco Aurélio – que a tomou e saiu de férias –, os ânimos também se acirraram nas redes sociais e nas ruas. Pela web, grupos contrários e favoráveis à soltura do ex-presidente Lula convocaram mobilizações em várias capitais. Em Brasília, com apenas uma hora de diferença, os dois lados marcaram manifestação em frente à sede do Supremo, na Praça dos Três Poderes, onde se enfrentaram (veja galeria abaixo).

Houve bate-boca, empurra-empurra e troca de acusações. A Polícia Militar precisou intervir para separar as duas turmas e evitar que o embate de ideias se transformasse em confronto físico. Foi montado um cordão de isolamento para dividir os manifestantes. Em dois momentos, os PMs precisaram agir de forma mais enérgica, mas não houve violência nem prisões.

Segundo a polícia, cerca de 30 pessoas estavam ali para pressionar a Corte pela liberação imediata do ex-presidente da República. Em torno de 150 manifestantes, exigiam que nenhum dos condenados por corrupção que poderiam ser beneficiados, especialmente o petista, ganhasse a liberdade. Já anoitecia, quando o Movimento Brasil Livre (MBL) projetou sobre o Supremo: “Corte sem vergonha”. Dessa vez, os antipetistas levaram a melhor, comemorando bastante após o parecer do presidente do STF deixar tudo como antes: ninguém seria liberado do cárcere.

Filipe Cardoso/ Especial para o Metrópoles

15 imagens
Segundo a PM, cerca de 30 pessoas estavam ali para pressionar a Corte pela liberação imediata do ex-presidente Lula
Os manifestantes pró-Lula carregavam bandeiras estampadas com o rosto do ex-presidente e os dizeres: “Lula livre”
Os dois grupos trocam ofensas no local. Enquanto os manifestantes favoráveis a Bolsonaro gritam: “Lula ladrão”, os petistas perguntam: “Cadê o Queiroz?”
Os petistas prometem manter a pressão pela liberdade de Lula: alegando que o instrumento usado pelo presidente do STF não é o mais adequado
Manifestantes insatisfeitos com a sentença foram à Praça dos Três Poderes e entraram em conflito com um grupo que pressiona o Supremo pela soltura imediata do ex-presidente
1 de 15

Em dois momentos, os PMs que atuavam no local precisaram agir de forma mais enérgica, mas não houve prisões nem embates físicos

JP Rodrigues/Metrópoles
2 de 15

Segundo a PM, cerca de 30 pessoas estavam ali para pressionar a Corte pela liberação imediata do ex-presidente Lula

JP Rodrigues/Metrópoles
3 de 15

Os manifestantes pró-Lula carregavam bandeiras estampadas com o rosto do ex-presidente e os dizeres: “Lula livre”

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
4 de 15

Os dois grupos trocam ofensas no local. Enquanto os manifestantes favoráveis a Bolsonaro gritam: “Lula ladrão”, os petistas perguntam: “Cadê o Queiroz?”

JP Rpdrigues/Metrópoles
5 de 15

Os petistas prometem manter a pressão pela liberdade de Lula: alegando que o instrumento usado pelo presidente do STF não é o mais adequado

JP Rodrigues/Metrópoles
6 de 15

Manifestantes insatisfeitos com a sentença foram à Praça dos Três Poderes e entraram em conflito com um grupo que pressiona o Supremo pela soltura imediata do ex-presidente

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
7 de 15

O clima ficou tenso até o final da manifetacão

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
8 de 15

Faixas e bandeiras mostravam a insatisfação dos manifestantes

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
9 de 15

Manifestantes na Praça dos Três Poderes

Jp Rodrigues/Metrópoles
10 de 15

A decisão do ministro do Supremo pode beneficiar o petista, visto que ele ainda tem recursos a serem analisados tanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto no STF

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
11 de 15

Manifestantes pró-Lula carregam bandeiras estampadas com o rosto do ex-presidente, com os dizeres: “Lula livre”

JP Rpdrigues/Metrópoles
12 de 15

Os manifestantes contrários a Lula podem receber notícias positivas nos próximos dias: o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, estará no comando do Supremo durante o recesso da Corte e poderá reverter a sentença

JP Rodrigues/Metrópoles
13 de 15

O clima é de tensão em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, após a decisão do ministro Marco Aurélio – que decidiu soltar presos condenados em segunda instância

JP Rpdrigues/Metrópoles
14 de 15

A Polícia Militar montou um cordão de isolamento entre os dois movimentos. Aconteceram dois conflitos onde os agentes de segurança tiveram que agir, mas as situações foram resolvidas sem prisões ou complicações

JP Rodrigues/Metrópoles
15 de 15

Manifestantes foram isolados para evitar confusão

JP Rodrigues/Metrópoles

 

Assunto do Twitter
Todo o imbróglio jurídico rapidamente virou o assunto mais comentado no Twitter. As tags “#Lula“, “#MarcoAurélio”, “O STF é uma vergonha” e “Lula Livre” ficaram entre os termos mais discutidos pelos usuários brasileiros da rede social, fosse a favor ou contra a medida.

Após a interferência de Toffoli, foi a vez de o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), ir ao Twitter para parabenizar o ministro Marco Aurélio Mello (confira a postagem abaixo).

Reprodução

 

Decisão isolada
De Curitiba (PR), a força-tarefa da Operação Lava Jato também ganhou protagonismo nessa quarta (19). O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Martinazzo Dallagnol criticou severamente a decisão do ministro Marco Aurélio Mello de soltar todos os presos detidos em razão de condenações após a segunda instância da Justiça ainda com recursos pendentes de análise em Cortes superiores.

Em coletiva de imprensa, Dallagnol afirmou que a medida era “equivocada”. E foi além: “Nós entendemos que essa decisão contraria o sentimento da sociedade, que exige o fim da impunidade. A decisão viola os precedentes estabelecidos pelo Supremo. É decisão isolada de um ministro, e não vai resistir ao próprio Supremo”, afirmou.

Já os integrantes da Câmara Criminal do Ministério Público Federal avaliaram, em nota distribuída à imprensa, que a decisão do ministro Marco Aurélio Mello contribuiria para a “insegurança jurídica” no país. Assinada por seis procuradores, sendo três deles subprocuradores-gerais da República, a nota dizia que os signatários estavam “indignados” com a decisão.

Em meio a toda a indefinição que dessa quarta, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, cobrou do Supremo uma “posição definitiva sobre a questão da presunção de inocência”.

“A OAB defende, há muito tempo, que o Supremo Tribunal Federal, tome, em nome da segurança jurídica, uma posição”, ressaltou Lamachia. Segundo ele, é “fundamental que a Constituição seja cumprida e de extrema importância que o STF resolva a questão o quanto antes”.

Logo depois de Dias Toffoli se manifestar, a defesa de Lula recorreu ao STF, solcitando que o próprio Marco Aurélio analise o pedido de soltura do petista. Os advogados argumentam que não cabe o tipo de recurso usado pelo presidente da Corte para derrubar a cautelar que suspendeu as prisões após segunda instância. O novo pedido da defesa foi encaminhado para Toffoli, que responde pelo plantão do Supremo durante todo o recesso do Judiciário.

Definição só em abril
Como a definição da prisão após segunda instância deve ficar mesmo para abril de 2019, se prevalecer o calendário estipulado por Dias Toffoli, o ex-presidente Lula terá de se conformar em completar um ano preso em Curitiba (PR).

Ao longo da quarta-feira (19) que chacoalhou a República, só o líder petista parece não ter se empolgado com a possibilidade de passar o Natal em casa. Segundo integrantes da cúpula do Partido dos Trabalhadores, que conversaram com Lula entre a canetada de Marco Aurélio Mello e o fim de festa dado por Toffoli, o ex-presidente não acreditou nem por um segundo que estava prestes a ganhar a liberdade. Sequer juntou os pertences espalhados pela sala especial que ocupa na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde o último abril. (Com reportagem de Larissa Rodrigues e Rafaela Benez)

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?