Entenda a conexão do Escritório do Crime com a morte de Marielle
Carro dos matadores da vereadora teria saído de Rio das Pedras, comunidade na zona oeste do estado, onde milícia atua
atualizado
Compartilhar notícia
A ofensiva nessa terça-feira (22/1) contra o Escritório do Crime, uma das milícias mais atuantes no Rio de Janeiro, lança luz sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) e de seu motorista, Anderson Gomes. O duplo homicídio ocorreu em 14 de março de 2018. Ao deflagrarem a Operação Os Intocáveis, responsável por investigar milicianos que agem em Rio das Pedras, as autoridades do estado prenderam cinco pessoas suspeitas de envolvimento na execução da parlamentar e de seu funcionário.
O jornal O Globo publicou um especial sobre a atuação dos membros do Escritório do Crime, milícia integrada por ex-policiais, e detalhou a conexão entre o bando e a morte de Marielle e Anderson.
Principal foco da operação, Rio das Pedras é a região de onde partiu o Cobalt prata, com placa clonada, usado no assassinato da vereadora e do motorista. A informação foi comprovada durante a apuração do duplo homicídio por imagens de câmaras de segurança de vias e comércios. De acordo com a reportagem, o veículo teria saído da localidade, passado pelo Quebra-mar, na Barra, antes de acessar a Estrada do Itanhangá e seguir pelo Alto da Boa Vista até a Tijuca.
Segundo a polícia, o celular “bucha” (registrado com o CPF de terceiros) usado por um dos suspeitos presos, que integra o Escritório do Crime, foi detectado no raio de abrangência de uma das antenas próximas ao local do homicídio, no bairro Estácio, zona oeste do Rio de Janeiro.
Os investigadores também ligam essa milícia à morte de Marielle e Anderson pela munição usada no duplo assassinato, do tipo UZZ-18. De acordo com a reportagem, foi a mesma empregada em ao menos outros três casos associados aos matadores da organização criminosa.
Motivação
O Ministério Público encontrou “fortes indícios” de que Marielle atravessou o caminho dos milicianos, o que teria resultado em sua morte. A questão fundiária na região de Rio das Pedras, incluindo o projeto de verticalização da comunidade, pode estar por trás do crime.
Segundo a reportagem, a pretexto de que alargaria ruas e acabaria com as enchentes na comunidade, a prefeitura do Rio de Janeiro cogitou autorizar construtoras a fazerem o saneamento básico do lugar em troca de erguerem prédios de até 12 andares na região. Haveria, inclusive, emissão de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), o que permitiria o aumento do gabarito de construção.
Moradores da área afetada – que iria do Itanhangá até o início da Avenida Embaixador Abelardo Bueno, passando pelo Anil – se rebeleram contra o projeto e suas consequentes desapropriações. Assessores da vereadora Marielle Franco foram ao local apoiar a comunidade.
Ainda de acordo com O globo, a interferência teria causado prejuízos à milícia de Rio das Pedras e cercanias. A prefeitura acabou decidindo abandonar o projeto devido à pressão de parlamentares, principalmente da equipe da vereadora do PSol. Contudo, antes de o Poder Público desembarcar da iniciativa, milicianos já teriam investido pesado em empreendimentos, como condomínios de prédios e até shoppings, em regiões próximas que receberiam os desapropriados. Em retaliação, teria vindo a ordem para matar Marielle, bem como de quem estivesse em sua companhia no dia marcado para ela ser executada.
Curicica
Por fim, a reportagem informa que, apesar das prisões dessa terça (22), a promotoria e a Delegacia de Homicídios da Capital (DH) não descartam a hipótese de o crime ter contado com a participação do miliciano Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando Curicica, e do vereador Marcello Siciliano.
De acordo com as investigações, diz o texto, o parlamentar ainda figura como suspeito de ser o mandante, e Curicica, por estar preso na época do assassinato, pode ter feito o contato com o Escritório do Crime para executar a vereadora. Marcello Siciliano nega envolvimento.
Ao levantar os crimes supostamente ligados à contravenção, o jornal carioca descobriu que pelo menos 19 deles, ocorridos de 2004 – quando o contraventor Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, foi assassinado – para cá, não foram elucidados.