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Engenheiro diz que recorreu a Lula para denunciar propina na Petrobras

Geraldo Aurélio Feitosa conta que a “mala preta” foi exigida para as obras do Centro de Pesquisas da Petrobras, no Rio de Janeiro

atualizado

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1 de 1 Lula - Foto: Divulgação/Instituto Lula

O engenheiro Geraldo Aurélio Feitosa, dono da empresa Cogefe Engenharia, relatou à Justiça Federal que sua companhia teria sido vítima do esquema de corrupção na Petrobras e que buscou ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da SIlva para tentar resolver o calote que tomou da estatal petrolífera por não ter pagado propina.

Segundo o engenheiro, a “mala preta” foi exigida para as obras do Centro de Pesquisas da Petrobras, no Rio de Janeiro. O depoimento foi tomado em 9 de dezembro do ano passado e encaminhado em vídeo pela Procuradoria da República em Minas Gerais para o juiz Sérgio Moro no último dia 1º.

Em suas declarações, Feitosa detalha como teria dialogado com o ex-presidente. Ele diz apenas que o petista lhe prometeu ajuda e que o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, teria indicado um diretor jurídico na estatal para ele conversar.

“Pediam (ex-dirigentes da Petrobras) inclusive para ir no Lula, como eu fui, através de um amigo aqui de BH (Belo Horizonte), o Frei Betto, me levou lá estive pessoalmente e (disseram) ‘não, vamos resolver, vamos resolver’. Aquele Paulo Okamotto disse que ia resolver, indicaram um diretor jurídico lá, e ficou do mesmo tempo”, disse.

Feitosa faz uma ressalva ao falar de Frei Betto, ou Carlos Alberto Libânio Christo, da Ordem Dominicana, amigo e assessor especial de Lula entre 2003 e 2004. “Mal sabia ele (Betto), porque o Frei Betto também era um inocente, era um frei”, afirmou.

O engenheiro era réu até o fim do ano passado em uma ação penal na Justiça Federal em Minas acusado de sonegar R$ 2,2 milhões por meio de empresas de fachada com as quais sua companhia teria mantido contrato, segundo a Procuradoria da República em Minas. Segundo ele, por causa desse calote da Petrobras sua companhia teve um prejuízo contábil de R$ 65 milhões.

O episódio que deu prejuízo para a Cogefe, segundo Feitosa, envolveu a obra do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), no Rio.

O engenheiro contou que neste período era recebido mensalmente pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e o ex-diretor de Serviços Renato Duque que lhe prometiam resolver o assunto “em breve”.

Mais de um ano depois das conversas, sua companhia ainda não tinha recebido os recursos e os ex-dirigentes da estatal, atualmente condenados na Lava Jato, lhe sugeriram que a Cogefe fizesse um contrato de cessão da obra para a Andrade Gutierrez, empreiteira que participava do cartel que fraudava licitações na estatal.

Feitosa relatou que aceitou fazer o contrato, que acabou sendo assinado e passou a responsabilidade pelas obras para a Andrade Gutierrez. Na ocasião, segundo relatou, ele pediu que fosse feito um acordo para que sua empresa recebesse o pagamento que faltava, o que nunca ocorreu. “Trocaram de interlocutor (a Andrade Gutierrez) oito vezes e nos deram uma banana, todas as canetas caíram, inclusive da Petrobras”, afirmou.

“Todo mundo dizendo que ia receber, demorou oito anos isso e não aconteceu nada, por isso a empresa paralisou, com prejuízo contábil de R$ 65 milhões por não recebimento de medição. A condição da Andrade Gutierrez era uma, o vulgo termo ai, a mala preta”, seguiu Feitosa em seu relato.

As obras do Cenpes envolvendo a Andrade já foram alvo de denúncia na Lava Jato em Curitiba. A Procuradoria da República no Paraná denunciou em julho de 2015 treze pessoas, incluindo executivos da empreiteira, por 167 atos de corrupção, no total de R$ 243 milhões, e 62 atos de lavagem de dinheiro, envolvendo um montante de R$ 6,79 milhões e US$ 1 milhão.

A denúncia aponta irregularidades envolvendo contratos da Andrade em oito unidades da Petrobras, incluindo o Cenpes.

Absolvição
Geraldo Feitosa e Paulo Rogério Feitosa foram denunciados pela Procuradoria da República em Minas acusados de fraudar documentos para que sua empresa, a Cogefe Engenharia, pagasse menos impostos. Foi nesta ação penal, que, durante seu interrogatório, Geraldo Feitosa disse que um fiscal teria tentado suborná-lo e comparou o episódio ao que teria ocorrido com sua empresa na Petrobrás.

Em 7 de novembro do ano passado o juiz Murilo Fernandes de Almeida entendeu não haver elementos suficientes para condenar os dois e acabou absolvendo os sócios da Cogefe. O Ministério Público Federal, contudo, recorreu da decisão e também pediu para encaminhar o depoimento de Feitosa que cita o esquema na Petrobras ao juiz da Lava Jato, em Curitiba.

A reportagem enviou e-mail para Frei Betto pedindo esclarecimentos sobre o caso na noite desta segunda-feira (13/2), mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço está aberto para a manifestação de Frei Betto.

Defesa
O criminalista José Roberto Batochio, que coordena a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o depoimento se trata da fala de um réu que lança acusações sobre outras pessoas para tentar se safar da Justiça – e que por isso deve ser visto com cautela.

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