Dono da Gol assina delação premiada e acusa Temer, Geddel e Cunha
O empresário Henrique Constantino admitiu pagamentos de propina em troca da liberação de financiamentos da Caixa para suas empresas
atualizado
Compartilhar notícia
O empresário Henrique Constantino, um dos donos da companhia aérea Gol, assinou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e admitiu pagamentos de propina em troca da liberação de financiamentos da Caixa Econômica Federal para suas empresas.
A delação foi homologada pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, e traz acusações contra o ex-presidente Michel Temer (MDB), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) e o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB). A informação foi antecipada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Metrópoles.
No depoimento, o empresário contou sobre seu relacionamento com os emedebistas e afirmou ter participado de uma reunião em 2012 com o então vice-presidente da República, Michel Temer, durante a qual houve o pedido de R$ 10 milhões em troca da atuação dos parlamentares em favor da liberação dos financiamentos pleiteados pela Gol junto à Caixa.
“Sobre a reunião em junho de 2012, em Brasília, com Eduardo Cunha e [o ex-ministro e ex-deputado] Henrique [Eduardo] Alves, informou ainda que se reuniu com eles e o então vice-presidente Michel Temer; que foi solicitado pelo grupo o valor global de R$ 10 milhões em troca de atuação ilícita de membros do grupo em diversos negócios, como foi o caso da operação da Via Rondon com o FI-FGTS”, disse Constantino em depoimento.
Segundo Constantino, essa propina foi paga via caixa 2 à campanha de Gabriel Chalita (PDT-SP) à Prefeitura de São Paulo em 2012 e por meio de repasses a empresas do operador financeiro do MDB à época, Lúcio Funaro.
“Efetuou pagamentos para a campanha de Gabriel Chalita em 2012 (pagamentos de despesas), conforme combinado com o grupo, além de efetuar pagamentos para empresas indicadas por Funaro, como Viscaya e Dallas”, relatou Constantino em depoimento ao MPF.
“Ficou claro para o depoente, nessa reunião, que a contribuição dos R$ 10 milhões era em troca de auxílio aos pleitos do depoente por esses membros do então partido PMDB”, completou o empresário.
Sobre os crimes cometidos contra a Caixa, Constantino se comprometeu a pagar R$ 70,7 milhões aos cofres da instituição. O valor corresponde a 10 vezes a propina paga por ele ao operador Lúcio Funaro, de R$ 7,07 milhões, que seria distribuída aos políticos do MDB.
Do total acordado, R$ 63,3 milhões serão pagos por meio de seis depósitos semestrais cuja primeira parcela tem que ser efetivada no próximo dia 30 de maio, e a última, em 30 de novembro de 2021. Outros R$ 7 milhões serão pagos em até 60 dias e vão ser usados na execução de projetos sociais ainda a serem definidos.
Confira os documentos cedidos ao Metrópoles na íntegra:
DECISÃO – TARJADA by Gabriela Vinhal on Scribd
1022880-56.2018.4.01 by Juliana Barbosa on Scribd
Delação de Funaro
A delação de Funaro, peça-chave da Operação Lava Jato, poderá ser usada contra o ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli (MDB). Dois anexos da delação de Funaro serão compartilhados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Filippelli é citado nos anexos 17 e 20, ao lado de Cunha. O objetivo era favorecer o dono da Gol e de parte da Viação Piracicabana, Henrique Constantino.
O Anexo 17 da delação de Funaro mostra que o esquema envolvia o pagamento de propina ao emedebista para a redução de impostos da gasolina de aviação e desoneração da folha nos setores de transporte aéreo e rodoviário, a pedido de Constantino.
Ao Metrópoles, o ex-governador afirmou desconhecer qualquer uma das irregularidades atribuídas a ele pela PGR ou por Funaro. “Eu ainda não vi nenhum documento, não recebi nada. Vocês [imprensa] ficam sabendo das coisas antes da gente. No entanto, a acusação é ainda mais absurda, porque eu não estava na Câmara Federal, portanto não tinha como atuar em nenhuma MP. Sobre redução de imposto, isso não é atribuição de vice-governador”, afirmou Filippelli.
A assessoria de imprensa do MPDFT informou que o órgão ainda não recebeu os anexos da delação de Funaro. Somente quando os documentos chegarem ao órgão, será feita a análise sobre a pertinência de investigá-lo via procuradoria.