Doleiro Leonardo Meirelles depõe contra Cunha no Conselho de Ética
O delator faz parte do rol de testemunhas sugeridas pelo PSOL e Rede, partidos que apresentaram a representação contra o peemedebista no colegiado em outubro do ano passado
atualizado
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O doleiro Leonardo Meirelles, sócio do também doleiro Alberto Youssef, vai depor na manhã desta quinta-feira (7/4), a partir das 9h30, como testemunha de acusação no processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética da Casa.
O empresário alega ter comprovantes de depósitos bancários que remontam US$ 5,1 milhões. Os paeis diriam respeito a valores que recebeu em suas contas no exterior e que teriam como destinatário final o presidente da Câmara. Meirelles disse que trocou os dólares por reais e entregou em espécie a Alberto Yousseff, doleiro responsável por levar a soma ao parlamentar.
O doleiro afirmou não ter, “a princípio”, conhecimento de ter feito transferências bancárias de contas de suas empresas para contas do presidente da Câmara no exterior, nem saber se Cunha tem contas secretas fora do País.
Transferências
Em abril de 2012, Youssef chamou o doleiro em seu escritório para informar que cerca de US$ 5,1 milhões seriam depositados em contas de Meirelles no exterior, afirmou o depoente. Youssef disse, segundo o doleiro, que ele deveria providenciar contratos fictícios de prestação de serviço para justificar a transferência.
Segundo Meirelles, o contrato fictício teria sido celebrado em maio de 2012 e o dinheiro foi enviado para contas dele por meio de três transferências: duas de cerca de US$ 2,4 milhões feitas em 8 de junho e 28 de outubro de 2012 e outra de US$ 400 mil feita em 7 de novembro daquele ano.
Meirelles disse que, devido ao alto valor do montante, Youssef confirmou que os cerca de US$ 5 milhões que seriam depositados viriam de Júlio Camargo, mas não comentou os motivos que levaram o lobista a pedir para fazer a transferência.
Outra delação
Em depoimento no âmbito da Operação Lava Jato, Julio Camargo disse ter pago US$ 5 milhões a Cunha. Segundo o lobista, o presidente da Câmara o teria pressionado a transferir o montante como pagamento por ter ajudado a viabilizar contratos de navios-sonda de empresas coreanas e japonesas com a Petrobras.
Após receber o dinheiro no exterior, o doleiro Meirelles disse que “arrecadou” os cerca de US$ 5 milhões em reais e levou para o escritório de Alberto Youssef. De acordo com Meirelles, o valor em espécie foi levado ao Rio de Janeiro pelo ex-policial federal Jaime Careca – que atuava como entregador de Youssef.
“Fiz a entrega sem saber quem era. Uma semana depois, em almoço, o Alberto comentou informalmente de quem se tratava”, disse o doleiro. Segundo Meirelles, Youssef disse que o valor foi entregue em um condomínio na Barra da Tijuca, na capital carioca, mesmo bairro onde Cunha possui residência.
Pendência
Meirelles contou que Youssef disse a ele que teria que terminar logo aquele contrato, porque era um assunto “pendente do passado”. “Ele comentou informalmente. Olha, você não imagina a pressão que estava sofrendo, graças a Deus consegui liquidar aquela transferência, que era de Eduardo Cunha”, disse no depoimento.
O doleiro afirmou ainda que “nunca” esteve com o presidente da Câmara. “O Alberto só me passava valores e pedia para checar contas. Ele usava tanto para receber como para repagamentos. Geralmente me informava só as informações bancárias”, contou.
Questionado pelo relator do processo contra Cunha no Conselho de Ética, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), se fez transferências bancárias para contas de Cunha no exterior, Meirelles disse que “não houve”. “Não que eu tenha conhecimento”, emendou.
Testemunha
Meirelles faz parte do rol de testemunhas sugeridas pelo PSOL e Rede, partidos que apresentaram a representação contra o peemedebista no colegiado em outubro do ano passado, e que devem ser ouvidas na fase de instrução probatória (coleta de provas e depoimentos) do processo de Cunha. Essa fase começou em 22 de março e pode durar até 40 dias.
Ação
Nesta quarta-feira (6), em mais uma ação para tentar adiar a análise do processo, que se arrasta há mais de cinco meses, a defesa de Cunha ingressou com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir a oitiva de delatores da Operação Lava Jato arrolados como testemunhas, entre Meirelles.
Advogados de Cunha sustentam que os delatores não podem contribuir com o objeto central do processo que analisa se o presidente da Câmara quebrou o decoro parlamentar ao, segundo a representação, mentir na CPI da Petrobrás dizendo que não possuía contas secretas no exterior. Afirmam ainda que os delatores querem se “beneficiar” dos depoimentos.
Depois da fase da instrução, o relator terá até 10 sessões para apresentar seu parecer sugerindo uma punição a Cunha, que poderá ser o pedido de cassação. Se aprovado pelo Conselho de Ética, o relatório seguirá para o plenário da Câmara, onde deverá ser votado. Caso seja rejeitado, o processo será arquivado.
Acusação
Cunha é alvo de processo no Conselho e Ética sob acusação de ter mentido que não tinha contas secretas no exterior durante depoimento à CPI da Petrobras na Câmara em 2015. Investigações da Operação Lava Jato, contudo, apontam que o peemedebista possui contas na Suíça que foram supostamente abastecidas por recursos desviados da petrolífera.
A defesa afirma que Cunha não tem contas no exterior em seu nome, mas, sim, offshores. Eles insistem que os valores que o presidente da Câmara tem no exterior foram transferidos para trustes no passado.