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Deputado preso por propina: “Acha que resolve sem dar nada?”

Wilson Santiago é apontado como chefe do grupo que desviou R$ 1,2 milhão de obra do sertão paraibano para pagamento de vantagens indevidas

atualizado

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Luis Macedo/Câmara dos Deputados
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1 de 1 wilson-santiago - Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

“Tu acha que resolve essas coisas sem dar nada a ninguém?” – Essa foi a pergunta feita pelo deputado federal Wilson Santiago (PTB-PB) ao empresário George Barbosa durante tratativas de propinas envolvendo a construção da adutora Capivara, no sertão da Paraíba.

Segundo denúncia apresentada neste sábado (21/12/2019), pela Procuradoria-Geral da República, o parlamentar teria afirmado que nenhum pagamento de medições da obra seria realizado sem que recebesse propinas. Ao total, Santiago teria recebido R$ 1,2 milhão no âmbito do esquema, diz a acusação.

A peça protocolada neste sábado é assinada pelo procurador-geral da República em exercício José Bonifácio Andrada, que imputa a Wilson Santiago 16 episódios de corrupção. A mesma acusação é feita em face do prefeito de Uiraúna João Bosco Nonato Fernandes, preso no âmbito da Operação Pés de Barro e flagrado pela Polícia Federal colocando R$ 25 mil na cueca.

Os dois políticos tiveram afastamento do cargo determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello.

Além dos políticos, cinco pessoas foram denunciadas: George Barbosa, executivo da Coenco construções, empresa responsável pelas obras da adutora; Evani Ramanho, Israel Nunes de Lima e Luiz Carlos de Almeida, secretários parlamentares de Santiago; e Severino Batista, Motorista da Secretaria de Governo e Articulação Política do município de Uiraúna.

O documento apresenta diálogos entre os integrantes do grupo supostamente chefiado por Santiago. Segundo a denúncia, o parlamentar utilizava recursos humanos e financeiros da Câmara dos Deputados, além da influência e do acesso à estruturas federais lhe conferidos pelo mandato parlamentar para liberar verbas para as obras do sistema e continuar as atividades criminosas.

A articulação de Santiago se daria para ‘agilizar’ o fluxo de verbas do Ministério da Integração Nacional, que custearia as obras da adutora. Segundo a PGR, o Wilson, João Bosco e George Barbosa teriam acordado a devolução de 15% do total do contrato de construção da adutora para os políticos, sendo 10% para o parlamentar, e 5% para o prefeito.

Logo após o contrato ser fechado, Wilson Santiago teria ‘recrutado’ os serviços de Evani, Luiz Carlos e Israel, em troca de cargos no gabinete da Câmara Federal, diz a acusação.

O trecho em que o deputado teria feito a pergunta “Tu acha que resolve essas coisas sem dar nada a ninguém?” é relativo a um diálogo entre Wilson, o empresário George Barbosa e a Evani Ramalho, secretária parlamentar de Wilson Santiago, apontada como suposta gerente das propinas.

Em outra conversa, Evani cobra de George R$ 400 mil em vantagens indevidas que estariam pendentes de entrega aos políticos. Segundo a PGR, tal diálogo teria acontecido na sede do PTB em João Pessoa e na ocasião, a servidora teria afirmado que o dinheiro ilícito era devido a Wilson Santiago e que o deputado encabeçava a organização criminosa. “Ele é o chefe. Ele é quem conduz”, diz a atual secretária parlamentar do deputado.

Já com relação ao papel do prefeito João Bosco no esquema, a PGR indica que cabia ao político utilizar as prerrogativas de Chefe do Executivo Municipal para impulsionar a quitação das medições da obra da Adutora Capivara mediante o pagamento das propinas. A peça da Procuradoria também apresenta diálogos que contam com a participação do prefeito.

A entrega das vantagens indevidas ocorreram a medida em que as medições da obra da adutora eram efetuadas e os correspondentes pagamentos pela construção eram liberados.

As entregas da propina, por sua vez, eram realizadas em diferentes locais, incluindo estacionamentos de hotéis e supermercados, praça de alimentação de aeroporto e até mesmo a sede do Partido Trabalhista Brasileiro em João Pessoa.

A denúncia da PGR lista 16 episódios em que os integrantes do esquema teriam se encontrado para as transações, apresentando imagens feitas pela Polícia Federal durante ações controladas da investigação.

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