Conversas vazadas: novos diálogos mostram Moro orientando Dallagnol
O ex-juiz teria pedido a inclusão de provas, reprovado delações, acelerado ou atrasado operações e atuado como chefe do MPF
atualizado
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Em novos diálogos obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados pela revista Veja nesta sexta-feira (05/07/2019), o ex-juiz Sergio Moro teria pedido a procuradores da força-tarefa da Lava Jato que incluíssem provas em processos que julgaria depois, além de ter feito pressão para frear delações, acelerado ou atrasado operações e atuado como chefe do Ministério Público Federal (MPF).
O atual ministro da Justiça e Segurança Pública de Jair Bolsonaro (PSL) teve o nome envolvido em uma crise no início de junho, quando o The Intercept publicou conversas que evidenciaram suposta troca de colaborações entre Moro e procuradores da Lava Jato. Os arquivos chegaram ao site de forma anônima e somam 1 milhão de mensagens em mais de 30 mil páginas.
Em uma das conversas divulgadas pela Veja, feitas no aplicativo Telegram, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, informa à procuradora Laura Tessler que Moro alertou para o fato de faltar um dado na denúncia contra Zwi Skornicki, representante de estaleiro que pagou propinas a funcionários da Petrobras.
“Laura, no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do [Eduardo] Musa e se for por lapso que não foi incluído, ele disse que vai receber amanhã e dá tempo. Só é bom avisar”, pontuou Dallagnol. O procurador se referia a um depósito bancário feito para Eduardo Musa, ex-gerente da área internacional da estatal.
Em outra conversa, o ministro da Justiça cobrou uma manifestação do MPF em pedido de revogação da prisão preventiva de José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em resposta, o procurador disse que providenciaria.
No dia 5 de julho de 2017, Moro questionou Dallagnol sobre a possibilidade de o ex-deputado Eduardo Cunha fechar um acordo de delação, o que foi negado pelo procurador. “Espero que não procedam”, disse o ministro.
Outro diálogo mostra uma suposta intervenção de Sergio Moro no trabalho da delegada identificada pela Veja como Erika Marena. Na oportunidade, ela foi questionada sobre a falta de um documento apreendido com executivos da Andrade Gutierrez. Ela, então, informou que esqueceu de incluir as provas no processo eletrônico.
“O russo tinha dito para não ter pressa para ‘eprocar’ isso, daí coloquei na contracapa dos autos e acabei esquecendo de ‘eprocar'”, respondeu. Russo, como divulgado anteriormente, era a forma como os procuradores da Lava Jato chamavam Sergio Moro.
Atuando em conjunto com Deltan, Sergio Moro teria cobrado, mais uma vez, uma manifestação por parte do MPF sobre um habeas corpus impetrado pela Odebrecht. O procurador pediu mais tempo para finalizar, mas enviou a peça “quase pronta para adiantar”.
A Veja divulgou também diálogos entre dois procuradores, Paulo Galvão e Roberson Pozzobon, que combinaram os detalhes para uma operação a pedido de Moro. “Estava lembrando aqui que uma operação tem que sair no máximo até por volta de 13 de novembro, em razão do recesso e do pedido do russo para que a denúncia não saia na última semana”, explicou Galvão.
Desde o início da divulgação dos diálogos, o ministro da Justiça foi ao Congresso Nacional duas vezes explicar as conversas aos parlamentares. Moro tem negado veementemente que cometeu crime e disse que as mensagens não mostram nenhuma irregularidade. O ex-juiz também afirma que não é possível provar a veracidade e a autenticidade desses diálogos.
Mesmo com a imagem abalada, no último domingo (30/06/2019), Moro viu a reputação dele ser defendida pela população, que foi às ruas em atos a favor da Lava Jato e da reforma da Previdência, aprovada na comissão especial da Câmara nessa quinta-feira (04/07/2019).