Confederação Israelita acusa Roberto Jefferson de antissemitismo
Presidente do PTB Nacional relacionou imagem diabólica com judeus, em publicação feita no Instagram, nessa sexta-feira (19/3)
atualizado
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A Confederação Israelita do Brasil (Conib) vai apresentar uma notícia-crime contra o ex-deputado federal e atual presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, por racismo.
Jefferson publicou, nessa sexta-feira (19/3), em uma rede social, a imagem de uma figura diabólica, identificada pelo político como sendo de Baal, o deus-sol dos cananeus – considerado como o deus falso, na versão cristã.
Em respeito aos leitores, o Metrópoles não vai reproduzir a postagem considerada ofensiva pela entidade judaica e por inúmeros internautas.
“Canaanitas e judeus sacrificavam crianças para receber sua simpatia. Hoje, a história se repete”, escreveu Roberto Jefferson na legenda da imagem, curtida por mais de 3,7 mil pessoas.
Na avaliação da Conib, o comentário é “abertamente antissemita” e evoca “uma das formas mais vis de atacar os judeus, o infanticídio”.
“A postagem caracteriza crime de racismo, com aumento de pena pelo fato de ter sido praticado por intermédio de rede social”, ressaltou a confederação, em nota divulgada neste sábado (20/3).
Ao Metrópoles, a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, autora do livro Dez Mitos Sobre os Judeus (leia aqui), explica que associar os judeus ao infanticídio se trata de uma mentira.
Ela conta que essa falsa relação tem sido feita desde ao menos a Idade Média, durante a proliferação da peste negra na Europa, e vem se “reinventando” ao longo do tempo.
“A questão mais grave é a ‘diabolização’ da imagem do judeu. É um exemplo muito claro desse mito dinâmico, que vai sendo manipulado e reinventado”, explica a especialista.
“Normalmente, esses mitos reaparecem nos momentos de crise, onde a mentira cai com uma luva na sociedade”, completa a historiadora, que coordena o Laboratório de Estudos sobre Etnicidade Racismo e Discriminação da Universidade de São Paulo (USP).
A Conib informou ainda que todas as evidências do ilícito e dos comentários de seguidores, que também podem ser caracterizados como crime, estão preservados para investigação criminal.
O Instagram foi notificado pela confederação para a remoção da postagem e punição do perfil. Procurado pelo Metrópoles, a rede social não se manifestou. O espaço segue aberto.
“Todo crime de racismo é repugnante e deve ser punido com o máximo rigor da lei. A história já nos mostrou, da forma mais dura e bárbara, como o racismo e o discurso de ódio são responsáveis pelos episódios mais terríveis da humanidade”, encerrou a Conib.
Em uma outra rede social, o Instituto Brasil-Israel e o Judeus Pela Democracia também se manifestaram em repúdio à publicação de Roberto Jefferson.
Confira:
Roberto Jefferson, talvez o principal aliado político de bolsonaro, publicou isso em seu instagram. Trata-se de uma mentira histórica absurda e de um grave gesto antissemita. A única história que se repete é a intolerância com aqueles que são diferentes.
Antissemitismo é crime! pic.twitter.com/WCdQCJjB96
— Judeus pela Democracia – Oficial (@jpdoficial1) March 20, 2021
Tem gente que confunde apoio a Israel com luta contra o antissemitismo, mas é sempre bom lembrar: é possível defender um governo que se diz “a favor de Israel” e, ao mesmo tempo, divulgar estereótipos do antissemitismo clássico. https://t.co/SeWnuS18DM
— Instituto Brasil-Israel 💉 (@ibi_br) March 20, 2021
Resposta
Sem pedir desculpas nem apagar a postagem, Jefferson voltou a se referir ao episódio na tarde desta sábado, em postagem no Instagram, onde fez referência ao sacrifício de filhos e filhas a deuses pagãos.
É a segunda vez nesta semana que Roberto Jefferson é acusado de atitude preconceituosa. Na sexta (19/3), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), usou as redes sociais para afirmar que recorreu ao Ministério Público para entrar com uma representação por injúria e homofobia contra o presidente nacional do PTB.
Há uma semana, Jefferson havia criticado Leite e chamou o tucano de “viado” ao comentar a suposta prisão de uma feirante por trabalhar durante o lockdown.