Caso Marielle: Dodge denuncia conselheiro do TCE e abre novo inquérito
Na despedida do cargo, procuradora-geral da República disse que houve “esforço para que as investigações passassem longe” dos reais autores
atualizado
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No último ato como comandante da Procuradoria-Geral da República (PGR), Raquel Dodge anunciou nesta terça (17/09/2019) que protocolou denúncia no Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão, por interferir no caso da vereadora assasinada, Marielle Franco (PSol-RJ). Ela também abriu um novo inquérito para apurar as mortes da parlamentar e do motorista Anderson Gomes. As execuções ocorreram em março de 2018.
De acordo com Dodge, Domingos Brazão valeu-se do cargo no TCE para acionar um dos seus servidores com intuito de fazer uma simulação que consistia em prestar informalmente depoimentos e levar uma versão dos fatos à Polícia Federal do Rio. “O que conduziu a investigação para um cúmulo desvirtuado por mais de um ano”, disse.
Segundo a denúncia, houve um desvirtuamento nos depoimentos prestados, para que a linha investigativa passasse longe dos reais autores da execução. “Estou denunciando os que interferiram na investigação para culpar quem não é culpado”, declarou a PGR.
A procuradora também pediu a federalização das investigações que apuram o mandante da ação criminosa. Para Dodge, a Polícia Federal e o MPF devem ser os responsáveis pelo inquérito e não o estado do Rio.
A procuradora-geral afirmou que houve “um esforço” para que as investigações no Rio de Janeiro “passassem longe dos reais autores do crime”. “Há inércia e dificuldade de investigar e identificar os mandantes, elucidando esta parte da trama criminosa”, justificou.
Entenda
De acordo com as investigações, a disputa por pontos políticos estaria por trás da suspeita do possível envolvimento do conselheiro afastado. Ao analisarem o mapa eleitoral das localidades onde Marielle tinha mais votos, os investigadores perceberam que a vereadora concorria, em diferente pontos, com a família Brazão.
O nome do ex-conselheiro aparece em troca de mensagens entre o miliciano Rodrigo Jorge Ferreira e a advogada Camila Moreira. A dupla teria arquitetado uma trama para apontar o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, além do vereador Marcello Siciliano, como autores do assassinato.
Em um dos diálogos, os agentes destacam que Ferreira é “conhecedor do submundo do crime carioca”, comentando o “curriculum de Brazão, que teria iniciado as atividades empresariais em ferros-velhos, atuando na receptação de carros roubados”. A investigação cita, ainda, que o ex-conselheiro seria ligado à base operacional do Escritório do Crime.