Binance após hacker roubar R$ 38 mil de cliente: “Cuidado na próxima”
Maior corretora de criptomoedas do mundo foi condenada pelo TJSP a pagar R$ 41,2 mil ao cliente após se negar a ressarci-lo
atualizado
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A Binance, maior corretora de criptomoedas do Brasil e do mundo, foi condenada a pagar R$ 41.238,18 a um auditor do Tribunal de Contas de São Paulo (TCESP) que perdeu todo o dinheiro alocado na exchange após ser vítima de um suposto hacker. O caso foi parar na Justiça pois a Binance se negou a ressarcir o cliente.
A corretora lamentou o ocorrido, disse que não poderia fazer nada para recuperar o dinheiro e afirmou, em inglês: “Please be careful next time” (“Por favor, tenha cuidado da próxima vez”, em tradução livre). O valor só foi pago após decisão do juiz de direito Luis Carlos Maeyama Martins, da comarca de São Pedro (SP).
Depois de uma grande pesquisa sobre o tema, o servidor público aplicou, em janeiro do ano passado, R$ 38,3 mil na exchange, para a compra de quatro moedas (Bitcoin, Chainlink, Polkadot e Cardano).
Em seguida, ele fez o download da carteira digital oficial da Binance, a Trust Wallet – que garante, em seu site, ser a carteira de criptomoedas mais confiável e segura – e transferiu os fundos digitais. No entanto, o auditor foi surpreendido, na manhã seguinte à transferência, pela subtração de todas as moedas digitais.
Na petição apresentada ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) o cliente afirma ter feito todos os procedimentos de segurança indicados pela corretora, mas mesmo assim foi roubado.
“Be careful”
O auditor registrou um boletim de ocorrência na delegacia virtual de São Paulo e procurou o suporte técnico da Binance para tentar recuperar o valor.
No dia seguinte à subtração, a Binance respondeu ao cliente, por e-mail, da seguinte forma: “Nós sentimos muito por sua perda. Infelizmente, não temos como recuperar fundos perdidos ou roubados. Essas transações são finais e não podem ser revertidas”.
A corretora também solicitou que o usuário parasse de usar a carteira comprometida e elencou cinco possíveis jeitos de ser fraudado:
- A frase de recuperação foi comprometida por meio de phishing ou golpes
- Alguém obteve acesso ao seu dispositivo
- Infecção por malware
- Interagindo com contratos inteligentes rouge ou DApps
- Baixando o aplicativo falso da Trust Wallet
Por fim, a Binance sinalizou que a culpa seria do cliente: “Por favor, tenha cuidado da próxima vez”.
Confira o e-mail enviado pela exchange ao auditor:
Tal qual o Telegram
O auditor processou a B Fintech, empresa brasileira do mesmo grupo econômico da Binance, na Justiça.
No tribunal paulista, os advogados da B Fintech alegaram que a empresa não pode responder pela Binance no país. Afirmaram, ainda, que a companhia “não é uma corretora, nem realiza a custódia de valores ou transferência de criptomoedas”.
A B Fintech disse realizar apenas a conversão de moeda real para criptomoedas, como uma casa de câmbio.
“A B Fintech é uma intermediadora de atividades de tecnologia e de conversão de moedas, além de ser prestadora de serviços de tecnologia e serviços de agente de coleta, não sendo parte legítima para figurar no polo passivo desta ação”, assegurou.
Além disso, afirmou que o auditor deveria pleitear a indenização exclusivamente da corretora Binance, entidade que não teria estabelecimento no Brasil.
Na prática, a manobra é similar à do aplicativo de mensagens Telegram, que, apesar de operar no Brasil, tem escapado das autoridades por funcionar no país apenas “virtualmente”. Com sede em Dubai, nos Emirádos Árabes, o Telegram entrou na mira do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por não responder aos pedidos de contrato da Corte Eleitoral. De forma inédita, contudo, a plataforma atendeu, nesse sábado (26/2), decisão do ministro Alexandre de Moraes para bloquear a conta do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.
Falha de serviço
No entanto, o próprio fundador da Binance, o empresário chinês-canadense Changpeng Zhao, também é sócio B Fintech. Ele tem 100% das cotas, segundo documentos da Junta Comercial de São Paulo (Jucesp).
Morador de Malta, Zhao tem uma fortuna estimada em US$ 96 bilhões, segundo estimativa da agência Bloomberg. O valor o deixa entre os homens mais ricos do mundo.
Além disso, conforme destacado pelo juiz de direito Luis Carlos Maeyama Martins, da comarca de São Pedro, a alteração de contrato social revela que o objeto da B Fintech seria “atuação como prestador de serviços de tecnologia, corretor e custodiante de criptoativos”, afastando a ideia de que a companhia atuaria apenas como uma “casa de câmbio” de criptomoedas.
“Não se exclui da relação de direito material a requerida B Fintech, pois, embora não tenha atuado efetivamente como corretora contratada pelo autor, a princípio, verifica-se estreita relação desta com a corretora internacional Binance, pessoa jurídica que viabilizou ao autor o investimento em criptomoeda, evidenciando se tratarem do mesmo grupo econômico”, assegurou o magistrado, em maio do ano passado.
O magistrado reforço que a B Fintech estaria mesmo representando nacionalmente a corretora internacional.
“A própria notícia quanto à invasão de hackers junto à corretora Binance reforça a falha do serviço, a qual se evidencia na hipótese, pois a requerida não se incumbiu de zelar pela custódia da criptomoeda através do sistema disponibilizado Trust Wallet ao autor, devendo responder solidariamente e objetivamente pelo danos materiais soerguidos, sendo descabida a fixação de astreintes haja vista a atualização do valor a ser reparado”, acrescentou Martins, do TJSP.
Outro lado
A Binance foi procurada na manhã de sexta-feira (25/2) para se manifestar sobre o achado. Contudo, não respondeu até a última atualização desta reportagem.
Os advogados Pedro Barradas Barata e Daniella Losasso Goerck, que defenderam a companhia na ação, também não se manifestaram. O espaço continua aberto.