Após ser rejeitado, filho de ministro do STJ revela batalha judicial
O ex-vereador Tiago Silva decidiu contar sua história após a morte da mãe: “Meu maior trauma foi a rejeição”, disse ao Metrópoles
atualizado
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Aos 36 anos, o diretor do Procon de Santa Catarina, Tiago Silva, ganhou na Justiça um processo de investigação de paternidade contra o atual vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Jorge Mussi, seu pai. Ele é filho de uma relação entre o ex-desembargador com a empregada doméstica da casa de Mussi à época. A batalha judicial para ser reconhecido durou aproximadamente sete anos.
Ao Metrópoles, Tiago contou que o ministro nunca quis nenhum contato com ele ou com sua mãe, Regina da Silva, falecida em março deste ano em decorrência de um câncer. Sem nunca ter trazido essa história à tona, o ex-vereador decidiu falar após passar o primeiro dia das mães sozinho. “Meu maior trauma foi a rejeição. Ele achar que sou um filho de segunda classe”, desabafa.
Um ano depois da vitória na Justiça, Tiago foi nomeado diretor do Procon do estado catarinense. Antes disso, foi vereador em Florianópolis por três vezes consecutivas. Em 2008, chegou a ser o mais votado da cidade. Apesar de ter feito história no mundo político, garante não ter se espelhado no pai: “Quis seguir essa carreira por causa dos trabalhos sociais nas comunidades que sempre fui muito ativo”.
Criado pela mãe e pela avó, que era lavadeira na casa da família Mussi, o ex-vereador conta que sempre teve interesse em saber quem era seu pai. Aos 18 anos, após insistir com a avó materna, soube que era Jorge Mussi. Mas, segundo Tiago, Regina não queria contato e nunca contou aos ex-patrões quem era o pai dele. “Ela foi demitida no início da gravidez. Ninguém queria uma empregada grávida”, lembra.
Após saber a identidade do pai, o diretor do Procon ligou no gabinete de Mussi e se apresentou. Queria saber se poderiam se encontrar, se o magistrado gostaria de conversar. “Contei a história, perguntei se ele se lembrava da minha mãe. Negou. Perguntei se tinha interesse em me conhecer ou fazer o exame de DNA, mas ele também não quis”.
Nunca pagou pensão
Tiago decidiu entrar na Justiça após o falecimento da avó materna. Na época, conta, Mussi era o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. “Era ele quem designava o juiz. Com isso, meu processo ficou suspenso por dois anos para que uma testemunha nos Estados Unidos fosse ouvida. E ela nunca falou”, explica. “Duvido que se ele não fosse o presidente do tribunal isso teria ocorrido”, denuncia.
Em 2018, Tiago venceu a ação. No entanto, a relação entre os dois não mudou. De acordo com o ex-vereador, o pai nunca o procurou ou pagou pensão, nem assumiu qualquer outra despesa referente à criação dele ou da gravidez da mãe.
“Meu pai frequenta as grandes rodas em Brasília e se envergonha de ter tido um relacionamento com a empregada doméstica”, lamenta.
Agora, com 37 anos, Tiago não alimenta mais o sonho de um dia criar uma relação com o pai. Entretanto, espera que, como magistrado, ele faça o seu próprio julgamento: “Eu sempre digo que o telefone um dia pode tocar. Mas não tocou”. Para o ex-vereador, o fato de Mussi ser uma figura pública não muda em nada a busca dele pela paternidade. “Eu exalto os Silvas de todo Brasil. Inclusive não uso o Mussi”.
Neste mês, Mussi foi escolhido vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tiago relata que, apesar de ter a paternidade assegurada, ele não foi convidado para a cerimônia. Veja o post onde ele relata o fato, escrito no Dia das Mães:
Homenagem à mãe
No último domingo (10/05), o ex-vereador fez um relato emocionado em que homenageia a mãe, conta sua história e diz não ter sido convidado para a nomeação do pai no STJ.
“Me tornei, nos documentos, Tiago Silva Mussi. Porém, muitas pessoas que acompanharam essa luta me questionam porque não assino usando o Mussi. Me sinto mais confortável sendo um Silva. Somos um país construído por Silvas. Muitos, inclusive, sem pai, mas a maioria honesto e ético”, escreveu.
Ministro do STJ
Nascido em Florianópolis, Jorge Mussi foi nomeado ao STJ pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2007. Antes disso, foi membro da Corte Especial, do Conselho de Administração e da Comissão de Documentação. Formou-se em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina.
A reportagem entrou em contato com a equipe do ministro em busca de um posicionamento dele sobre o caso. Entretanto, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta. O espaço continua aberto.