Após morte de botos, MPF exige embargo de dragagem na baía de Sepetiba
Quase 200 mil botos-cinza morreram, desde novembro de 2017, nas baías de Sepatiba e Ilha Grande
atualizado
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Desde novembro de 2017, mais de 170 botos-cinza morreram na região das baías de Sepetiba e Ilha Grande, no Rio de Janeiro. O número equivale a quase 10% da população total de cetáceos. O fenômeno intriga especialistas, que se preocupam com a preservação da espécie, classificada como vulnerável. Ainda não há confirmação do motivo das mortes, mas especula-se que um vírus pode ser o causador dos óbitos fora do comum.
O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro e em Angra dos Reis expediu recomendação ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e à Companhia Portuária Baía de Sepetiba (CPBS) determinando a suspensão imediata da licença de dragagem de 1.837.421m³ do fundo da Baía de Sepetiba. A interrupção deve ocorrer até a completa normalização do surto da virose causadora da morte de quase 200 botos.
A dragagem foi autorizada pelo Inea no ano de 2017, e começou a ser realizada no último dia 12 pela CPBS, que opera o terminal de minério da empresa Vale S/A.A recomendação do MPF está baseada em documento elaborado pelo Laboratório de Bioacústica e Ecologia de Cetáceos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O texto aponta que as atividades de dragagem afetam negativamente os mamíferos marinhos.
Segundo o relatório, “em relação às baleias e golfinhos, têm sido reportados impactos negativos que envolvem principalmente o abandono temporário ou permanente do ambiente. Além disso, a dragagem pode levantar plumas de sedimentos que, se contaminados, podem tornar os metais pesados biodisponíveis aos golfinhos e as baleias”.
Destino final
Há décadas, a empresa metalúrgica Ingá e outras empresas instaladas no Distrito Industrial de Santa Cruz se utilizaram da baía de Sepetiba como destino final de seus efluentes líquidos e sólidos ricos em metais pesados, principalmente cádmio, zinco e cromo.
“Altas concentrações de contaminantes desse tipo estão ligadas à depressão do sistema imune, principalmente em relação ao mercúrio, cádmio, chumbo, selênio e zinco, como foi o caso reportado para os golfinhos-nariz-de-garrafa”, registra o documento da UFRRJ.
O relatório ainda registra que o ruído produzido pela dragagem “tem o potencial de induzir estresse, que, por sua vez, pode reduzir a eficiência de forrageamento de mamíferos marinhos ou aumentar sua suscetibilidade a patógenos e aos efeitos das toxinas”.
Para os pesquisadores do Laboratório de Bioacústica e Ecologia de Cetáceos da UFRRJ, “uma vez que a única forma de recuperação populacional é o desenvolvimento de uma imunidade adquirida contra tal doença, é importante minimizar fatores estressores que podem levar os indivíduos a se tornarem mais suscetíveis aos impactos locais.” Sendo assim, concluíram, “não é recomendável qualquer atividade de dragagem, visto que a mesma será impactante para uma população que está ameaçada por um patógeno, tornando-a mais vulnerável à instalação de doenças”.