“Justiça precisa ser feita”, diz esposa de homem em estado vegetativo
Alexandre Moraes ficou em estado grave após superdosagem de remédio em Porto Alegre. Família pede que culpados sejam responsabilizados
atualizado
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“Todos os dias eu briguei dentro daquele hospital.” É esse sentimento de revolta que acompanha a família de Alexandre Moraes de Lara, paciente que ficou em estado vegetativo após superdosagem de um remédio no hospital Humaniza, em Porto Alegre (RS).
Alexandre deu entrada na instituição após sofrer problemas cardíacos. No entanto, em vez de receber dois comprimidos de um medicamento para tratar o quadro, acabou tomando 20. O erro fez ele ter uma parada cardiorrespiratória e ficar em estado vegetativo, que perdura desde outubro de 2021.
A descoberta de que o marido não iria mais acordar pegou todos de surpresa. “A gente estava em uma sala esperando a reanimação dele. Quando ele foi para a UTI, pensamos que ele poderia ficar com alguma sequela, mas que ele teria uma vida mais perto do normal possível. Achávamos que o teríamos de volta, mas depois vimos que isso nunca mais iria acontecer”, conta a esposa de Alexandre, Gabrielle Bressiane, 27 anos.
Na época, a necessidade de reunir forças foi ainda maior porque Gabrielle estava grávida de 3 meses. Hoje, ela considera que a filha Sarah foi o sopro de alegria em meio à tragédia. “A gente sente raiva, tristeza, e ao mesmo tempo felicidade, porque pelo menos temos a minha filha para alegrar”, afirma Gabrielle, que costuma levar a filha para visitar o pai.
Luta por justiça
Durante todo o período da gravidez, Gabrielle lutou para que o marido tivesse um tratamento digna e eficiente. “Praticamente todos os dias eu tinha que brigar no hospital porque sempre faltavam materiais que ele precisava, erravam uma medicação ou demoravam a atendê-lo”, conta a esposa.
Nos últimos 10 meses ela não expôs o caso de Alexandre porque havia aceitado um acordo proposto pelo hospital. No entanto, ao ver a demora para que o acordo fosse cumprido, ela cansou de esperar e decidiu revelar ao mundo tudo que viveu.
Agora, ela luta por justiça e quer a garantia de que o marido será assistido vitaliciamente. “Tudo o que queremos é que os profissionais sejam responsabilizados, porque eles foram afastados do hospital, mas ainda não foram punidos pela lei. Outra coisa que queremos é garantir cuidados permanentes para ele enquanto tiver vida, que ele tenha todo o cuidado e qualidade de vida dentro do estado dele. Esperamos que a justiça seja feita”, explica Gabrielle.
Além disso, ela espera uma indenização para ajudar a filha a ter uma boa qualidade de vida. “Queremos uma pensão para que a Sarah possa viver bem, até porque não teremos mais o pai para ajudar na criação dela. Claro que não existe valor que pague a perda dele, mas o mínimo é uma ajuda financeira”, diz.
Investigação
A Polícia Civil de Porto Alegre investiga a suspeita de superdosagem de medicamento. Em nota enviada ao G1, o Hospital Humaniza afirma que o atendimento a Alexandre ocorreu durante a gestão anterior da unidade médica. Um prontuário assinado por um ex-gestor do hospital confirma o erro da equipe.
“O Hospital lamenta profundamente o ocorrido e vem prestando toda a assistência médica necessária e disponível para a melhoria do quadro clínico do paciente. Ao mesmo tempo, vem mantendo tratativas com os familiares para, também, proporcionar o máximo de assistência e acolhimento necessários”, declarou a instituição em nota.