Juiz vê fake news de Russomanno contra Boulos e manda Google apagar vídeo
Candidato do Republicanos usou denúncia de comunicador investigado no STF para atacar adversário do PSol
atualizado
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São Paulo – Em uma vitória da candidatura de Guilherme Boulos (PSol) a prefeito de São Paulo, a Justiça Eleitoral determinou na noite desta quarta-feira (11/11) que o Google retire de seus servidores um vídeo usado pelo também candidato Celso Russomanno (Republicanos) para atacar o psolista. Para o juiz Emílio Migliano Neto, do Tribunal Regional Eleitoral do Estado, o material usado por Russomanno para atacar o adversário usou uma acusação que “não encontra lastro nem sequer indícios” e que pode “sem temor” ser chamado de “sabidamente inverídico”.
O magistrado viu fake news em denúncia veiculada nas redes sociais mais cedo nesta quarta pelo comunicador Oswaldo Eustáquio, um notório influenciador digital bolsonarista que é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos em Brasília. Eustáquio chegou a ser preso no âmbito do inquérito e ainda cumpre medidas restritivas impostas pelo Supremo.
Segundo a denúncia considerada inverídica pelo juiz, a campanha de Boulos teria repassado R$ 528 mil em verbas do fundo partidário a duas empresas que não funcionam nos endereços listados na Junta Comercial de São Paulo. A denúncia foi publicada no momento em que os candidatos a prefeito de São Paulo participavam de um debate promovido pela Folha de S.Paulo e pelo UOL e foi usada por Russomanno para atacar Boulos, o que o juiz que concedeu a liminar considerou “um estratagema altamente reprovável no atual momento em que passa nosso país”.
Em entrevista ainda nesta quarta ao jornal on-line Brasil Sem Medo, que é ligado ao guru de extrema-direita Olavo de Carvalho, Russomanno voltou a citar a denúncia e disse que “não importa quem fez” porque ele mesmo havia conferido que as empresas não funcionam nos endereços.
Em defesa divulgada logo após a acusação, a campanha de Boulos mostrou que as empresas citadas, uma produtora de vídeo e uma consultoria de comunicação, estão regulares e que não trabalham nos endereços porque, por conta da pandemia de coronavírus, migraram para o trabalho remoto. Para o juiz que concedeu a liminar, a explicação desmonta a denúncia de Oswaldo Eustáquio.
O episódio reflete o momento mais tenso de uma escalada de ataques que a campanha de Russomanno tem feito a Boulos, à medida que o candidato do Republicanos cai nas pesquisas de intenção de voto e vê seu lugar no segundo turno ameaçado pelo psolista. No último levantamento do Ibope, Boulos aparece numericamente à frente de Russomanno.
Por causa da denúncia considerada falsa pela decisão liminar, Boulos já havia feito, também nesta quarta, uma ação criminal contra Russomanno por “difamação encomendada”.
Logo após a veiculação da denúncia pela manhã, menções sobre o “laranjal” de Boulos pipocaram no Twitter. A plataforma Bot Sentinel, que monitora atividade inautêntica na rede social Twitter, apontou que a hashtag #LaranjaldoBoulos chegou a ser a 4ª expressão mais tuitada na rede social, em âmbito mundial, impulsionada por perfis falsos ou inautênticos.
Outro lado
O Google ainda não se manifestou sobre a determinação da Justiça Eleitoral paulista e, no momento em que essa reportagem era escrita, a denúncia seguia on-line nas redes de Eustáquio.
Já Oswaldo Eustáquio, em nota publicada em seu perfil no Twitter, disse que “a esquerda entrou em parafuso e conseguiu um juiz para censurar a matéria e a grande imprensa se cala após Boulos chamar este jornalista de vagabundo”.
O comunicador se refere a uma discussão entre os dois na saída do debate desta manhã, quando ele tentou abordar Boulos para falar da denúncia e foi rechaçado pelo candidato, que realmente o chamou de “vagabundo” e o acusou de ser um divulgador de notícias falsas. O próprio Eustáquio publicou em suas redes o vídeo do ocorrido.
A campanha de Russomanno ainda não se manifestou sobre a decisão.
A decisão
Veja aqui a íntegra da decisão judicial favorável à campanha de Guilherme Boulos:
Decisão (9) (1) by Raphael Veleda on Scribd