Jovens mortos em BMW: veja a cronologia da tragédia em Santa Catarina
Até o momento, a principal suspeita é de que os jovens tenham morrido por intoxicação por monóxido de carbono
atualizado
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A tragédia que levou à morte de quatro jovens em Balneário Camboriú (SC) começou pouco depois do Réveillon, na segunda-feira (1º/1). O que seria uma aposta de melhoria de vida para Nicolas Oliveira Kovaleski, 16 anos; Tiago de Lima Ribeiro, 21; Karla Aparecida dos Santos, 19; e Gustavo Pereira Silveira Elias, 24; que haviam acabado de se mudar para a cidade catarinense a fim de gerenciar uma empresa de marketing digital, transformou-se num trágico fim.
Segundo a investigação, o grupo buscaria a namorada de Gustavo na rodoviária local por volta das 3h15. A moça contou que os amigos reclamaram de enjoo e tontura, então decidiram ficar na BMW 320I, com o ar-condicionado ligado, até que estivessem melhores. Os quatro, no entanto, morreram dentro do veículo.
O fato, então, levantou inúmeras questões sobre o que teria causado a morte dos jovens. Uma câmera de segurança local flagrou o momento em que eles chegaram ao terminal.
Gustavo deu sinais de que estava passando mal. Saiu do carro, cambaleou, ergueu os braços e encostou num dos pilares da rodoviária. Karla também apresentou sinais de mal-estar. Os amigos a retiraram do veículo pelos braços e a deixaram sentada no degrau de uma escada do terminal, por um momento. Logo depois, ela também voltou para o veículo.
Confira:
A namorada de Gustavo decidiu descansar fora do veículo, e resolveu checar a situação dos amigos por volta das 7h. Ela encontrou o companheiro sangrando pela boca, e os demais, com olhos avermelhados. Assustada com a cena, a moça chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que chegou à rodoviária de Balneário Camboriú por volta das 7h30.
Os socorristas constataram a morte dos jovens no local. Eles haviam sofrido uma parada cardiorrespiratória. A polícia examinou a cena e colheu um breve relato da moça. Ela recontou o caso e afirmou que, entre o último contato com os amigos e a constatação de que eles haviam parado de respirar, cerca de 40 minutos se passaram.
Negligência?
Em determinado momento da investigação, a Polícia Civil do Estado de Santa Catarina (PCSC) apontou que uma das vítimas teria ligado para o Samu e relatado o mal-estar do grupo, porém o socorro não havia sido atendido.
Uma testemunha contou aos policiais que Nicolas teria acionado o serviço de emergência. O pedido de socorro não teria sido atendido, por não ser considerado emergencial, de acordo com o protocolo de atendimento. Os atendentes indicaram que ele procurasse um hospital.
Em nota enviada pela Secretaria de Saúde do estado catarinense, o Samu negou o recebimento do contato. O Samu alega que “recebeu o primeiro chamado às 7h21, com envio da Unidade de Suporte Avançado (USA) às 7h26 e a chegada ao local às 7h29”.
Os peritos da PCSC recolheram os celulares dos jovens a fim de averiguar chamada para o Samu. A polícia também enviou ofício ao serviço de emergência para apurar o suposto atendimento.
Possível causa
A análise preliminar da equipe de peritos revelou que um vazamento de monóxido de carbono entre o motor e o painel do carro causou a intoxicação do grupo de amigos, segundo o delegado Bruno Effori. Familiares do grupo de amigos contaram que, recentemente, a BMW havia passado por uma customização no escapamento para aumentar o ronco do motor.
A perícia indicou que uma perfuração na ligação entre o painel e o escapamento teria provocado o vazamento de monóxido de carbono para o ar-condicionado. Agora, os peritos tentam constatar se a perfuração aconteceu a partir de um defeito de fábrica ou se foi provocada pela alteração feita no veículo.
O monóxido de carbono é um gás sem cheiro e de ação rápida no organismo. Ele pode ser fatal, quando inalado, pois impede a entrega de oxigênio às células do corpo, após se ligar à hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio. Os sintomas iniciais incluem dor de cabeça, náusea, tontura e fadiga. Podem ser vagos e facilmente confundidos com outras doenças.
Os corpos das vítimas chegaram a Paracatu, no noroeste de Minas, na noite dessa quarta-feira (3/1). A prefeitura pagou o traslado, que custou cerca de R$ 30 mil. A previsão era de que o funeral do grupo fosse realizado ainda na noite de ontem.
Sonho de vida melhor
O grupo de amigos havia se mudado de Minas Gerais para Florianópolis, onde começariam um negócio próprio. Eles iniciariam as atividades de uma empresa de marketing digital nessa terça-feira (2/1). A mãe de Thiago os ajudaria nos primeiros passos do empreendimento.
Gustavo — descrito pelo tio como um jovem brincalhão e respeitoso — havia enfrentado uma depressão no ano passado e conseguiu superá-la com a ajuda dos amigos que morreram com ele.
Nicolas, o mais jovem do grupo, compartilhava o sonho de Gustavo por uma vida melhor. Segundo pessoas próximas, ele falava à mãe: “Vou trabalhar para comprar uma casa para a senhora, não aguento mais ver a mãe passando necessidade”.