Jovem que estudou em casa sem eletricidade passa em medicina na UFRB
Pertencente a uma comunidade quilombola e filho de pais analfabetos, o rapaz estudava em casa emprestada por uma amiga, sem energia elétrica
atualizado
Compartilhar notícia
O jovem Matheus de Araújo Moreira Silva, 25 anos, de Feira de Santana (BA), foi aprovado no curso de medicina na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
A preparação foi de muito esforço. Matheus nasceu e pertence a um grupo quilombola de Antônio Cardoso (BA). Sonhava com a aprovação desde o término do ensino médio em escola pública.
Dois anos depois, em 2015, foi aprovado no curso de enfermagem na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Mas optou pelo trancamento para se dedicar apenas à aprovação em medicina.
Filho de pais analfabetos, Matheus estudava em uma biblioteca municipal antes da pandemia. Mas como em casa não conseguia se concentrar, com os pais e mais quatro irmãos, obteve ajuda de uma amiga.
Ela emprestou uma casa para ele continuar os estudos. Porém, não havia energia elétrica, ventilação e internet. Mas foi lá que o estudante assinou um pacote de internet pelo celular e estudou sozinho, desde julho do ano passado.
O jovem da periferia de Feira de Santana deu aulas de reforço para pessoas do bairro para pagar seus materiais de estudo do Enem.
O estudo de seis horas por dia, inclusive aos finais de semana, foi feito muitas vezes de máscara para Matheus treinar para o dia da prova.
Vaquinha virtual
Em reportagem do G1, em abril passado, o estudante lançou uma vaquinha virtual para comprar materiais e um notebook, que ganhou por meio de uma doação.
Agora, lançou uma nova vaquinha (“História do Matheus”) para conseguir se manter ao longo do curso, até conseguir um estágio ou chegar na residência.
Matheus conquistou a nota de 980 na redação do Enem de 2020. E relata que dos oito anos que realizou a prova, quatro foram tentando a aprovação em medicina.
As aulas do tão sonhado curso de medicina começaram nessa segunda-feira (28/6) e o jovem será o primeiro médico de sua família e de sua comunidade quilombola.
“Eles estão em êxtase, em festa, por isso tudo, porque eles viram o meu esforço durante esse período todo. Estão muito, muito alegres”, afirmou.
“Eu estou bastante honrado em poder fazer o curso com o qual irei possibilitar mudanças de vida de várias pessoas. É um sonho se concretizando”, acrescentou o estudante.