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Jovem com paralisia cerebral pede doações após pai morrer de Covid

Pai de Gabriel, que tem paralisia cerebral, e de duas meninas, Zaquel Silva morreu aos 38 anos. Família faz vaquinha para ter onde morar

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1 de 1 WhatsApp Image 2021-04-14 at 19.37.02 - Foto: Arquivo Pessoal

Diariamente, Zaquel Nunes da Silva, 38 anos, carregava o filho Gabriel, 18, nos ombros. Emprestava a força de seus braços e pernas para o rapaz – que nasceu com paralisia cerebral e, para fazer atividades cotidianas, demanda o uso de cadeira de rodas e o auxílio de outras pessoas. A família vive no Morro do Alemão (RJ) e, rotineiramente, quando há tiroteios, precisa esconder-se em algum lugar seguro da casa.

Zaquel era vendedor ambulante e trabalhava dia e noite, pois desejava comprar uma casa em um lugar mais seguro, para viver com sua família. Em 1º de abril, porém, Zaquel morreu após 11 dias de internação por Covid-19. Tornou-se um dos mais de 360 mil brasileiros que perderam a vida para a doença.

Sem a presença do pai, Gabriel fica mais exposto aos riscos, com a mobilidade reduzida e impossibilitado de descer e subir o morro sem recorrer aos vizinhos. Além disso, a casa onde a família mora atualmente tem duas escadas, o que torna a rotina ainda mais difícil. O dono do imóvel alugado perdoou o pagamento atrasado, mas deu prazo para que eles encontrassem um novo endereço.

Zaquel tinha 38 anos e trabalhava para comprar uma casa em um lugar seguro

 

No dia seguinte à morte de Zaquel, amigos da igreja evangélica frequentada pela família começaram o movimento “Uma casa acessível aos filhos de Zaquel” . A vaquinha virtual quer arrecadar 100 mil para garantir um endereço “no asfalto”, adaptado e mais acessível à viúva de Zaquel, Gilvânia Tavares Nunes da Silva, 37 anos, e seus três filhos. Também possível ajudar via Pix: pelo celular (21) 96936-9546 ou pelo e-mail gilvania.tavais@gmail.com.

Com a morte do marido, Gilvânia, que é dona de casa, ficou responsável por sustentar Gabriel, as duas filhas – Gabryelly, 10 anos, e Mikaelly Vitória, 7 – e a mãe dela, que também é uma pessoa com deficiência (PCD), usuária de cadeira de rodas. “Se eu saio para trabalhar, quem vai cuidar deles todos? Eu fico impossibilitada de sair de casa e deixá-los sozinhos”, relata Gil, como é conhecida.

Agora, eles dependem de doações, já que a pensão recebida por Gabriel não é o suficiente para pagar aluguel, alimentação e outros custos de uma família com cinco pessoas – duas delas, com deficiência. “Nosso plano é comprar uma casa no pé do morro, no nome do Gabriel, para que ele não precise ser carregado. A gente quer ficar mais perto da escola, dos transportes e da igreja”, diz a mãe.

Os organizadores da campanha solidária também buscam uma oportunidade de inclusão de Gabriel no mercado de trabalho. A paralisia ocasiona a Gabriel limitações apenas físicas: prestes a terminar o ensino médio, ele assiste às aulas a distância, graças à doação de um computador. “Pelo menos não suspendem as aulas por conta de tiroteio toda hora, tem sido até melhor”, diz o jovem.

Ele aprendeu com o pai a realizar a manutenção de computadores e outros aparelhos eletrônicos. Os dois passavam várias horas juntos fazendo reparos para os vizinhos. “Trabalhar é o meu maior sonho, ajudar a minha mãe, terminar os estudos. Quero seguir na área de informática”, planeja Gabriel.

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"Quero ver vocês na faculdade", dizia o pai, que não teve oportunidade de estudar, aos filhos

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“O mundo me criou”
Zaquel trabalhava desde criança. Nasceu em Maceió (AL) e, aos 8 anos, perdeu a mãe. Aos 11, foi expulso de casa pelo pai, que havia se casado novamente com uma mulher que não aceitava seus filhos. Passou a viver nas ruas e dormia nas estações de ônibus.

“Ele contava que, quando era menino, sempre pedia ajuda, mas nunca roubou, vivia de carona e de pedir. Depois trabalhou em centros de recuperação. Foi nascido e criado na igreja, um homem muito sábio, cativante, que conquistava com o seu jeito espontâneo. Ele ajudava muita gente”, descreve Gilvânia.

Em 2000, Zaquel chegou ao Rio de Janeiro. No ano seguinte, conheceu a mulher com quem construiu a família à qual se dedicou até o último dia de sua vida. “A vida do Zaquel sempre foi ser guerreiro, nunca se envolveu com droga, bebida, nada de errado. Ele era uma pessoa querida na comunidade, cantava e tocava teclado na Igreja Evangélica Assembleia de Deus da Itaoca”, diz a esposa.

A música era uma das paixões de Zaquel

O sonho de Zaquel era ser juiz, mas ele só conseguiu estudar até o quarto ano do ensino fundamental. Todos os dias, ele rodava as ruas do Rio de Janeiro para vender meias e cuecas, principalmente nos bares. Às vezes saía de casa por volta das 11h e só voltava à 1h da madrugada, quando conseguia dinheiro suficiente para pagar pelo aluguel.

Nessa rotina, o trabalhador já foi assaltado e sofria com a violência urbana. Zaquel seguia em frente para que os filhos pudessem estudar. “Ele contava a história dele para os meninos e dizia: o mundo me criou, mas com vocês vai ser diferente, eu vou ver vocês na faculdade”, relata a viúva.

Na primeira fase da pandemia, Zaquel ficou sem trabalhar por receio de contaminação com a Covid-19. Isso só foi possível porque ele e Gilvânia receberam o auxílio emergencial. Quando o benefício acabou, porém, a necessidade de garantir a comida na mesa falou mais alto que o medo. “A gente acha que ele se contaminou no Saara, quando foi lá no centro do Rio comprar material para vender”, acredita Gilvânia.

Quando sentiu os primeiros sintomas, Zaquel fez teste para detectar a Covid-19 e começou a tomar remédios contraindicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), por não terem eficácia comprovada no combate ao vírus e oferecerem riscos à saúde: ivermectina, amoxicilina e prednisona, por exemplo.

“Ele tomou muita coisa por recomendação de pessoas que tiveram Covid. Só foi tendo piora. Ficou uma semana tomando e nada da febre passar, começaram as dores nos rins, dificuldade para urinar. Até que ele vomitou sangue”, relata Gilvânia. Zaquel ficou internado no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Rio.

Durante a internação, Zaquel passou cinco dias com auxílio de oxigênio e mais seis dias intubado. O paciente também precisou realizar hemodiálise e se alimentar por sonda. Teve paradas cardiorrespiratórias, os rins pararam e o coração não aguentou. No sexto dia de intubação, Zaquel partiu.

“Foi um susto tremendo, uma dor. Ele era o nosso provedor, a pessoa que corria atrás de tudo. Estou tentando começar a seguir sem ele”, afirma a mulher. Gilvânia e Gabriel tiveram sintomas leves de Covid-19, mas nunca receberam o resultado do teste, porque o hospital estava “sem sistema”.

Vacinação para PCD

A história de Zaquel e Gabriel se repete em vários lares brasileiros. Pessoas com deficiência (PCD) e seus tutores reivindicam prioridade na vacinação contra Covid-19. O governo federal incluiu PCDs entre os grupos a serem vacinados, mas não detalhou o calendário para que a imunização começasse.

Em Campo Grande (MS) e em alguns lugares de Minas Gerais e Piauí, a imunização dessa parte da população começou a ser realizada. Na cidade do Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde anunciou que todas as pessoas com deficiência permanente poderão, a partir do dia 26 de abril, vacinar-se contra Covid-19.

Em 8 de abril, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou um projeto que autoriza a inclusão de pais, mães e tutores de PCDs nos grupos prioritários de vacinação contra a doença do novo coronavírus.

A sociedade civil também se articula para acelerar esse processo. O Movimento PCD – Imunização já, com o lema “Eu Mereço uma Dose de Respeito”, está presente em 17 estados e conta com o apoio de organizações nacionais.

O Juntos Grupo também tem promovido ações nesse sentido. “Lutamos para que todas as pessoas com deficiência sejam vacinadas contra a Covid-19 imediatamente. Essa causa é amparada pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.164, de 2015), que garante o atendimento prioritário às pessoas com deficiência”, descreve a advogada Adriana Monteiro, mãe de Ana Luísa, que tem Síndrome de Angelman e é autista.

As pessoas com deficiência são mais vulneráveis porque têm:

  • dificuldades de seguir os protocolos de segurança (uso de máscaras, higienização das mãos e afastamento social);
  • imunidade mais baixa;
  • dificuldades de identificar e sinalizar os sintomas; e
  • dificuldade de ficarem sozinhas no hospital, em caso de internação, já que muitas precisam de atendentes e cuidadores.

No vídeo abaixo, Adriana e Ana Luísa exemplificam por que é importante vacinar prioritariamente essa parte da população:

Serviço

Ajude a família de Zaquel

Acesse a campanha: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/uma-casa-acessivel-aos-filhos-do-zaquel

Ou via Pix: pelo celular (21) 96936-9546 ou pelo e-mail gilvania.tavais@gmail.com.

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