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Jovem acusa segurança de racismo: “Desbloqueia para ver se é roubado”

“Abre a bolsa, pega o celular, desbloqueia para saber se é seu ou se é roubado”, teria dito o segurança do evento no Rio de Janeiro

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Mulheres são obrigadas a desbloquear telefones em saída de evento no Rio
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Rio de Janeiro – Duas mulheres e um homem negros teriam sido impedidos de sair de um evento após se recusarem a desbloquear seus próprios celulares. A exigência do segurança do Núcleo de Ativação Urbana (NAU), no centro do Rio, seria que eles provassem que os aparelhos não eram roubados, de acordo com denúncia.

O Metrópoles teve acesso à petição enviada à Delegacia de Crimes Raciais (Decradi), com o relato dos jovens do ocorrido na noite de 23 de abril, após as 23h, na saída da atração.

De acordo com Priscila Salgado, o segurança teria dito: “Abre a bolsa, pega o celular, desbloqueia para saber se é seu ou se é roubado”. Ela e os amigos chegaram ao local, mas, assim que viram que era necessário adquirir copo para o consumo de bebidas, decidiram sair.

Na porta do NAU, na data do Baile Urucum, o grupo teria sido abordado pelo segurança. De acordo com o relato, assim que o funcionário pediu a Priscila Salgado, Milena Souza e Alayê Imira para desbloquear os aparelhos, eles se recusaram. O funcionário disse que eles só sairiam do local após provarem que os aparelhos eram seus.

“Começou aí o show de horrores. Eles disseram que chamariam uma viatura para tirar a gente dali, foi então que liguei para a polícia porque estávamos sendo impedidos de sair”, disse ao Metrópoles Priscila, 32, coordenadora de negócios. “Ouvimos pessoas dizendo que, se a gente não tinha feito nada, era para desbloquear o celular, sem perceber que já tínhamos feito isso para ligar à polícia.”

O chefe de segurança foi acionado e teria passado a falar com pessoas brancas vítimas de furto no local, apontando para o trio, como se fossem bandidos. Em certo momento, o homem teria gritado com eles e dito que “a abordagem era legal e a obrigação de mostrar estava escrita no ingresso do evento”.

Segundo a versão, o funcionário explicou que chamaria uma viatura para tirar os três dali, mas que eles só sairiam após comprovar que os telefones não eram roubados. O homem deixou mais dois seguranças para vigiar o grupo nesse tempo. Um deles teria apontado o dedo no rosto de Patrícia. “Vocês estão acostumados a sair com a polícia. Se não deve, é só abrir a bolsa e desbloquear o celular”, teria dito.

“Foi violento. Fomos a uma festa majoritariamente branca, na semana passada, no mesmo local e não fomos tratados dessa forma. Já em uma festa majoritariamente preta, ocorreu isso”, contou Milena, 24, gerente de projetos, ao Metrópoles.

Assim que o grupo foi encaminhado para a 4ª DP e contou o caso, o delegado de plantão teria se recusado a fazer o registro de ocorrência, pois avaliou que o caso não merecia ser investigado.

O advogado Bruno Sankofa, acionado no meio da madrugada pelas vítimas, pontuou que ficou três horas na delegacia com o trio. Fez uma petição e enviou à Decradi para que o inquérito de racismo fosse investigado.

O gerente de projetos Alayê, 29, que mora em Belo Horizonte, estava a passeio no Rio: “O que deixou a gente mais indignado foi a forma da abordagem. Viramos o centro naquele momento. Eu vi que aquilo estava errado, mas decidi ficar mais de canto porque sou homem, negro e evito entrar nessas confusões, porque qualquer fala minha mais grossa poderia gerar uma revolta do lado deles.”

Investigação

Ao Metrópoles, a Polícia Civil disse que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) instaurou inquérito para apurar o crime de racismo. Testemunhas estão sendo ouvidas e os agentes realizam diligências para esclarecer os fatos.

A reportagem procurou o NAU para prestar esclarecimentos: “O caso está sendo investigado, mas ainda não foi comprovado que houve um crime de racismo. As partes já foram ouvidas, está sendo apurado, mas o processo não foi julgado”, disse Thiago Hirochi, sócio do NAU, ao Metrópoles.

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