“Joia” do governo, ministério de Dino é disputado por aliados de Lula
PSB pretende manter pasta e indica Cappelli para dar musculatura eleitoral, mas PT também quer vaga e há nomes fortes correndo por fora
atualizado
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O cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública é um dos mais importantes do Executivo federal, como mostra a própria trajetória de Flávio Dino, que, antes de ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), já era um dos integrantes do governo Lula com mais destaque na mídia e engajamento nas redes.
Dino nem saiu da cadeira ainda, mas o potencial desse cargo, tanto como “escada” para o Supremo quanto eleitoral, abriu disputa acirrada entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A questão já saiu dos bastidores, apesar de Lula ter optado, em princípio, por manter Dino no cargo até a sabatina, marcada para 13 de dezembro.
O atual ministro é filiado ao PSB, partido pelo qual se elegeu senador no ano passado, e a sigla luta para manter o posto.
O líder do partido na Câmara, deputado Felipe Carreras (PE), disse a jornalistas, na terça (29/11), que o PSB quer a vaga e vai oficializar o pedido em uma carta a ser entregue a Lula. “Vamos enviar uma carta com a reivindicação e a indicação do Cappelli, que está fazendo um grande trabalho”, disse Carreras, referindo-se a Ricardo Cappelli, atual secretário-executivo da pasta, o “braço direito” de Dino.
Caso não consiga colocar Cappelli para substituir Dino, o partido do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, vai insistir no desmembramento da pasta. Nesse caso, a campanha será para que Cappelli assuma um ministério a ser criado, o da Segurança Pública.
O objetivo do partido é preparar Cappelli para disputar cargos eletivos. No momento, a ideia é a disputa pelo Governo do DF em 2026. O PSB governou Brasília, com Rodrigo Rollemberg, de 2015 a 2019, e acredita que Cappelli, que atuou como interventor na Segurança Pública do DF após os ataques de 8 de janeiro, possa reabrir essa porta.
PT tem outros planos
Partido do presidente da República, o PT batalha pela sucessão de Dino, com o argumento de que a sigla já “perdeu” na indicação de Lula ao STF. O candidato preferido pelo partido ao Supremo era o advogado-geral da União, Jorge Messias, mas Lula optou por Dino.
Agora, o partido pressiona, mas, nos bastidores, pela “joia” da Esplanada que o MJSP representa. Além do próprio Messias, o PT quer colocar na mesa de Lula os nomes da própria presidente da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann; e do advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, que tem atuação política e institucional contra os métodos da Operação Lava Jato.
Tebet e Lewandowski no páreo
Lula, porém, pode resolver a disputa entre PT e PSB sem atender nenhum dos dois, segundo indicam interlocutores do presidente. Dos nomes nas bolsas de apostas para o substituto de Dino, destacam-se o da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que é do MDB, e o do ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski.
Questionada no início da semana, Tebet disse que não foi convidada, mas não afastou a possibilidade. Acrescentou que conhece bem a realidade da segurança pública por vir de um estado de fronteira (Mato Grosso do Sul) que é rota importante do tráfico de drogas. “A segurança pública é praticamente um mundo a ser resolvido de problemas”, ressaltou Tebet.
Já Lewandowski não representa partido nenhum, mas é amigo de Lula e pode ser beneficiado por uma feliz (para ele) coincidência. Como Lula, ele estará em Dubai no fim desta semana para a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP28), e os dois deverão conversar. Mesmo que não seja escolhido, Lewandowski poderá, portanto, ao menos tentar influenciar na escolha, visto que é conselheiro do presidente.
O ministro aposentado do STF foi convidado pelo governo a integrar a comitiva em razão do cargo que ocupa hoje: presidente do Conselho Jurídico da Confederação Nacional da Indústria (CNI).