João Doria inaugura museu ao ar livre e posa de grafiteiro
Após a polêmica que causou por apagar murais em São Paulo, prefeito faz as pazes com grafiteiros botando ele mesmo a mão na tinta
atualizado
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Nos primeiros dias de sua gestão, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), apagou pichações e murais na Avenida 23 de Maio, e iniciou polêmica com artistas de rua. Quem diria que, neste domingo (28/5), ele teria um dia de grafiteiro.
A estreia de Doria na arte de rua ocorreu num muro da Rua Doutor Moacyr Vaz de Andrade, na Vila Gustavo, zona norte paulistana. Ali foi inaugurada a primeira área do Museu de Arte de Rua (MAR), projeto da Secretaria Municipal de Cultura que selecionou grafiteiros para colorir muros públicos.
Vestindo máscara, luvas pretas e camiseta do patrocinador da ação, uma marca de tintas, o prefeito empunhou um spray de cor vermelha para iniciar seu primeiro desenho. Ele pintou um grande coração, remetendo ao símbolo de um de seus projetos mais conhecidos: o São Paulo Cidade Linda.
A calça jeans e o sapatênis, que costumam compor o look do gestor nas agendas mais informais, não o impediram de subir em uma escada para terminar a criação e inserir acima do coração as letras S e P. Ao “assinar” a obra, o prefeito fez questão de mostrar que o conflito com os artistas de rua ficou no passado. Na mesma parede, deixou registrada a inscrição “J.Doria / Grafite é Arte”.
Ao lado dele, jovens grafitavam 10 murais. Ao contrário do prefeito, a maioria não estava preocupada com o cheiro da tinta ou em sujar as mãos — trabalhavam com o rosto e os braços descobertos.
Desenhos de animais e pinturas que remetem à miscigenação brasileira e valorizam a cultura hip-hop foram algumas das temáticas. A única regra imposta aos grafiteiros no edital municipal que criou o MAR era que os desenhos não tivessem apologia a práticas ilícitas, como violência e uso de drogas.
Museu democrático
“Esse é o primeiro Museu de Arte de Rua. Foram os grafiteiros que escolheram (a área), assim como todas as demais áreas (que receberão o museu). A escolha é deles, a arte é deles e o que escolherem e onde escolherem, a Prefeitura viabiliza e o museu é implementado e passa a ser um ponto de visitação na cidade”, declarou Doria.
O primeiro edital do MAR levará pinturas para outros sete endereços. Cada coletivo de artistas selecionado vai receber entre R$ 10 mil e R$ 40 mil, dependendo do tamanho do muro e do número de grafiteiros envolvidos. Despesas com tintas e cachês dos muralistas serão pagos pelo patrocinador.
Os grafiteiros presentes no primeiro MAR pareciam ter deixado no passado o conflito que tiveram com o prefeito no início da gestão. Autor de um dos desenhos apagados na 23 de Maio, o grafiteiro Deley, de 18 anos, por exemplo, estava entre os artistas que pintavam o muro da zona norte neste domingo.
“Na época, achei que (apagar os grafites) foi uma falta de respeito e de diálogo, mas decidi participar do projeto porque considerei que é uma oportunidade para mostrar o valor da arte”, disse Deley.