João de Deus vai se entregar, diz advogado. “Não sei quando, nem onde”
Defesa vai ingressar com habeas corpus contrário ao mandado de prisão preventiva decretado contra o médium, acusado de abusos sexuais
atualizado
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Com a Polícia Civil de Goiás (PCGO) nas ruas para cumprir o mandado de prisão preventiva contra João de Deus, Alberto Zacharias Toron, advogado do médium, afirmou que o cliente pretende se entregar. “Vai se apresentar. Não sei quando, nem onde. Estou avaliando ainda”, disse, na tarde desta sexta-feira (14/12).
A Justiça acatou pedido da força-tarefa da Polícia Civil para a prisão de João de Deus feito na quarta (12), mas ele ainda não foi localizado. A defesa divulgou uma nota afirmando que pedirá habeas corpus contra a decisão, mas isso não exclui a apresentação espontânea. Segundo o advogado, a decisão do juiz é “ilegal e injusta”.
Outro advogado de defesa, Thales Jayme falou ao Metrópoles que está negociando as condições de entrega com o diretor-geral da PCGO, André Fernandes. Uma tentativa para que o médium fosse preso em Anápolis (GO) foi feita na tarde desta sexta-feira, mas as características do local não satisfizeram os advogados.
“É pela integridade do seu João. É claro que ele não vai ficar foragido para sempre. Estamos procurando um local seguro”, informou.
Mais cedo, a Polícia Civil do estado confirmou as buscas. “Informamos que o mandado de prisão preventiva representado pela Polícia Civil de Goiás em desfavor de João Teixeira de Faria, mais conhecido como João de Deus, foi deferido pelo Poder Judiciário nesta sexta-feira (14). Neste momento, a PCGO se empenha em dar cumprimento à referida determinação judicial”, destacou a corporação, em nota.
A polícia percorre endereços de João de Deus em Abadiânia e Anápolis, ambos municípios goianos. Os advogados manifestaram preocupação com a integridade física do “líder espiritual”. Ao jornal O Popular, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Irapuan Costa Junior, disse que “parece que ele está escondido”.
Assessores mais próximos acreditam que João de Deus vai se entregar. É o caso de Chico Lobo, braço direito do médium mais famoso do país, que está sendo acusado por pelo menos 450 mulheres de abuso sexual.
“A situação fugiu do controle de todos e esperamos o melhor desfecho. Pessoalmente, acredito que ele seja inocente. Trabalho há 14 anos com João de Deus e, nessa história, tem muitas coisas que não se encaixam”, disse Chico Lobo ao Metrópoles.
Oração por João de Deus
Às 14h desta sexta (14), os frequentadores fizeram uma breve oração pelo médium João de Deus, depois prosseguiram normalmente com as atividades. No sábado (15), o local terá, pela manhã, na Casa da Sopa, a comemoração de Natal. O administrador, Chico Lobo, explica que a festa ocorre há 15 anos e será celebrada novamente, independentemente dos acontecimentos.
Nem todos estão a par da situação desde que a prisão foi decretada. Jacilda Oliveira, 52 anos, trabalha como voluntária no local há três décadas. Ela mostrou-se surpresa ao saber da decisão judicial, expedida pelo juiz Fernando Augusto Chacha de Rezende, da Vara Criminal de Abadiânia.
“A gente deixa a Justiça cuidar disso. Mas eu venho aqui há 30 anos e afirmo que João de Deus sempre foi puro carinho, amor e caridade. Nunca faltou respeito com ninguém. Como voluntários, o que fazemos é doar o amor que ele nos dá. Não tem como alguém como ele ter feito essas coisas. Acredito na inocência”, destacou.
Uma outra mulher, a qual não quis se identificar, garante que não acredita nas denúncias. “Venho aqui há um ano e meio. No meu primeiro dia, sonhei com João de Deus. Nele, ele anunciou que teria dois netos, e logo que cheguei em casa tive a notícia confirmada”, contou.
Nota dos advogados de João de Deus
Em nota, os advogados do médium não falam em rendição e nem onde João de Deus está. Reclamam que, na última segunda-feira (10/12), estiveram no MP para obter cópias dos depoimentos prestados pelas vítimas e não tiveram acesso, sob argumento de que o processo corre em sigilo.
“Agora, veio o decreto de prisão preventiva e, estranhamente, nos disseram que o processo fora encaminhado de Abadiânia para Goiânia a fim de que o MP tomasse ciência da decisão. Sim, é importante que o órgão acusatório tome ciência, mas ninguém se preocupou em disponibilizar uma simples cópia da decisão para a defesa”, ressaltou a nota.
Ainda no documento, os advogados dizem que “é inaceitável a utilização de pretextos e artifícios para se impedir o exercício do direito de defesa. Que a autoridade judiciária queira impor a [prisão] preventiva, embora possamos discordar, é compreensível, mas negar acesso aos autos chega a ser assombroso”, destacou a nota, assinada por Alberto Zacharias Toron e Luisa Moraes Abreu Ferreira.