João de Deus não se entrega. Negociação deve se estender neste domingo
Polícia realizou buscas em mais de 30 endereços, sem conseguir localizar o médium. Para a corporação, rendição ainda está no prazo
atualizado
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Embora haja um mandado de prisão expedido e a Justiça já considere João de Deus foragido, a Polícia Civil de Goiás (PCGO) mantém as negociações com os advogados do médium para que ele se apresente voluntariamente. Oficialmente, a defesa do líder religioso informou às autoridades que o acusado se entregaria ainda no sábado (15/12), mas a versão mudou após as 19h, quando os defensores de João de Deus pararam de detalhar as tratativas com a corporação. Fontes ligadas tanto à polícia goiana quanto ao acusado passaram a admitir a possibilidade de a rendição ocorrer apenas neste domingo (16). Até lá, as conversas entre defesa e policiais prosseguem.
Ao Metrópoles, o advogado Alberto Toron descartou estar trabalhando para postergar a rendição do médium. “Ele vai se entregar. Desconfirmo a informação de que ele se apresenta só domingo”, afirmou, sem contudo garantir que João de Deus se renderia ainda no sábado. “Não posso informar nem a data nem horário. É um compromisso que eu fiz”, disse, não esclarecendo se o “compromisso” seria com seu cliente ou com as autoridades goianas. A única certeza dada pela defesa é de que apresentará pedido de habeas corpus contra a ordem de prisão somente na segunda-feira (17).
João de Deus é acusado de abusar sexualmente de centenas de mulheres que o consultaram em busca de conforto espiritual. A ordem de prisão preventiva contra ele foi expedida ainda na manhã da última sexta (14). Desde então, policiais fizeram buscas em mais de 30 endereços de Goiânia, Anápolis e Abadiânia, e também nas propriedades rurais do acusado, sem conseguir localizá-lo. A polícia também esteve na Casa Dom Inácio de Loyola, na região do Entorno do Distrito Federal, onde o médium realiza atendimentos. As buscas não surtiram efeito.
A Polícia Civil suspeita que ele esteja fora do estado. Nas negociações realizadas ao longo de sábado (15), uma das hipóteses era de que agentes fossem até o local onde ele está para fazer a prisão e o transporte até Goiás. Mas, conforme o delegado André Fernandes declarou durante o dia, como o mandado de prisão não fixou um horário-limite para que o acusado fosse detido, não houve descumprimento de prazo e, portanto, ele ainda pode se apresentar voluntariamente. Assim, João de Deus está em uma situação peculiar: para a Justiça e a Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, ele é um foragido; para a polícia de Goiás, não.
Mesmo assim, integrantes do grupo destacado para fazer a investigação das denúncias contra João de Deus e as negociações ainda colocam em dúvida se o acerto para que ele se apresente por conta própria às autoridades será de fato cumprido. Para eles, a defesa do médium deverá aguardar o resultado do pedido de habeas corpus. Se a medida for concedida antes de ele se apresentar, seria possível evitar um desgaste ainda maior para o líder espiritual, que atrai anualmente para a cidade goiana de Abadiânia 120 mil fiéis – 40% deles estrangeiros.
Uma vez preso, em virtude da idade (76 anos) e da natureza do crime de que é acusado, João de Deus deve ficar em uma cela individual.
Foragido
João de Deus passou a ser considerado foragido pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) no início da tarde de sábado (15/12). Para evitar fugas, o nome dele foi incluído na lista da Interpol. A Infraero – estatal que administra a maior parte dos aeroportos do país – também recebeu notificação sobre o caso: se o médium tentar embarcar em algum voo, as autoridades serão acionadas.
O primeiro acordo entre os advogados do líder espiritual e o delegado-chefe da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, era de que o médium se entregasse até as 12h de sábado (15). Mais cedo, no entanto, Alberto Toron, responsável pela defesa de João de Deus, alegou que a apresentação do cliente “não obedece a prazos rígidos” e “o importante é que ele o faça de maneira espontânea”.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás informou que “as buscas continuam, sendo realizadas por equipes da Deic [Delegacia Estadual de Investigações Criminais]”.
Limpa nas contas
Após as primeiras denúncias de abuso sexual, João de Deus teria retirado R$ 35 milhões de contas bancárias, de acordo com reportagem do jornal O Globo. Segundo a publicação, investigadores identificaram movimentações financeiras na última quarta (12), quando surgiram as primeiras acusações desse tipo contra o líder espiritual.
A retirada do dinheiro de aplicações fez com que o MPGO e a PCGO decidissem acelerar o pedido de prisão de João de Deus.
Festa em Abadiânia
Devido aos problemas com a Justiça, João de Deus não cumpriu uma tradição: ser o Papai Noel da tradicional comemoração natalina da Casa Dom Inácio de Loyola, onde promove os atendimentos espirituais. A festa ocorreu no sábado (15/12). A esposa do médium, responsável pela organização do evento, pediu orações. “Que nossos lares continuem cheios de amor, de respeito e de carinho”, declarou Ana Keyla, rapidamente.
Ao lado dela, estava o braço direito do marido, Chico Lobo, um dos administradores do centro espírita. “É um prazer dar essa festa. Ela é feita com amor, independentemente de qualquer coisa. Não estamos preocupados com nada, apenas com as crianças”, afirmou. Chico disse que não teve contato com o amigo nos últimos dias, mas acredita que ele não saiu do estado de Goiás.
A festa natalina foi o único evento na Casa Dom Inácio de Loyola nessa data (15). Durante o resto do dia, os portões do centro espírito ficaram fechados. O movimento nas ruas da cidade de Abadiânia foi tímido, com poucos moradores, fiéis e visitantes. O clima geral é de desânimo.