João de Deus: Justiça decreta prisão. Agora, por posse ilegal de arma
Médium está detido preventivamente desde domingo (16/12) por abusos sexuais
atualizado
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Enviadas especiais a Goiânia (GO) – A Justiça expediu um novo mandado de prisão contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, nesta sexta-feira (21/12). Desta vez, por suspeita de posse irregular de arma de fogo, crime com pena de 3 a 6 anos de reclusão. O líder espiritual já está preso preventivamente desde o último domingo (16), devido a denúncias de abuso sexual.
O novo pedido de prisão, feito pela Polícia Civil de Goiás (PCGO), foi feito após serem apreendidas, na terça (18), cinco armas de fogo sem registro, sendo uma garrucha com numeração raspada, na residência de João de Deus em Abadiânia (GO), onde o médium fazia atendimentos espirituais. Na ação, a polícia também apreendeu mais de R$ 400 mil em espécie.
Nesta sexta (21), em mais uma operação de busca e apreensão, os investigadores encontraram mais uma mala recheada de dinheiro e pedras que parecem ser esmeraldas.
A defesa de João de Deus entrou com um pedido de habeas corpus na Justiça de Goiás para revogar a prisão preventiva do cliente. Após negativa, os advogados recorreram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde também não obtiveram sucesso.
No momento, cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) decidir sobre a liberdade do médium. A Corte já recebeu pedido impetrado pelos advogados do líder espiritual.
Advogado de João de Deus, Alberto Zacharias Toron divulgou nota sobre a expedição do novo pedido de prisão contra seu cliente.
Segundo ele a decisão, é “desnecessária, pois o investigado já está preso”. “A nova busca e apreensão foi determinada com base em denúncia anônima e foi genérica, o que é inadmissível. E mais: não se lavrou auto de apreensão no local, como manda a lei”, criticou.
Abuso sexual
Na quinta-feira (20), João de Deus foi indiciado por violência sexual mediante fraude. O inquérito foi baseado no depoimento de uma mulher de aproximadamente 40 anos que teria sido abusada pelo líder espiritual em outubro deste ano na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), onde ele atendia.
Segundo o delegado Valdemir Pereira da Silva, mais conhecido como Doutor Branco, titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), existem provas robustas contra o médium, que podem levá-lo a cumprir pena de 2 a 6 anos de prisão.
“Acreditamos que há provas suficientes para uma condenação. O depoimento da vítima foi contundente”, disse. Ele contou que, na quarta (19), a mulher foi levada ao centro em Abadiânia e contou em detalhes o que teria ocorrido na sala de atendimento.
Relatou que, quando notou o pênis dele para fora da calça, ele teria interrompido o “tratamento”. Em seguida, teria pedido que ela não contasse sobre o atendimento a ninguém e a presenteou com dois quadros e uma pedra. “A vítima está assustada, ansiosa e com medo”, explicou o delegado pouco antes de entregar o inquérito no Fórum de Abadiânia.
Até o momento, 16 vítimas foram ouvidas pela polícia. O Ministério Público de Goiás já recebeu 506 e-mails com denúncias de abuso sexual contra o médium. De acordo com a polícia, esse pode ser único inquérito, já que os demais relatos de abuso são antigos e podem ter prescrito.
As denúncias contra ele vieram à tona no último dia 8, no programa Conversa do Bial, da TV Globo. João de Deus foi preso no domingo (16) e aguarda julgamento no Complexo Prisional da Aparecida de Goiânia. Ele nega todas as acusações.
Doutor Branco informou ainda que abriu novo inquérito contra João de Deus, por posse ilegal de armas. A polícia encontrou cinco armas na casa do líder espiritual e R$ 400 mil em espécie. A defesa do médium entrou com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta.
Modus Operandi
De acordo com a delegada Karla Fernandes, também da Deic, os depoimentos colhidos demonstram o modus operandi do líder religioso. O padrão seria de mulheres com 30 anos a menos do que a idade do médium. Quando João de Deus tinha 50, ele teria cometido abusos contra adolescentes. Nos episódios mais recentes, já septuagenário, os alvos teriam por volta de 40 anos.
Na maioria dos casos relatados, as mulheres buscaram o médium porque elas tinham dificuldades para engravidar ou estavam passando por problemas de relacionamento conjugal. “Eram pessoas vulneráveis. Inicialmente, não percebiam que eram abusadas, só depois que caía a ficha”, conta a delegada.
No depoimento de João de Deus, Karla Fernandes disse ter percebido um homem persuasivo, que mostra ter um controle muito grande da fala e equilíbrio emocional. Segundo a investigadora, o acusado não demonstrou alteração, exceto quando foi confrontado sobre a vítima mais recente. “Ele teve reação mais forte e depois disse que ela era uma pessoa complicada e não tinha credibilidade.”
“As vítimas têm que comparecer para narrar de forma personalíssima. Antes, muitas sentiam temor de falar porque a maioria não teve apoio da família”, disse a coordenadora da força-tarefa.