João de Deus: interditada farmácia que produzia “cápsulas energizadas”
Segundo a Secretaria de Saúde, medicamentos foram apreendidos em batida na manhã desta sexta-feira (21/12)
atualizado
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Apontada pelas vítimas como sendo o local onde João de Deus cometia abusos sexuais, a Casa Dom Inácio de Loyola foi alvo de novas buscas da polícia nesta sexta-feira (21/12). Técnicos da Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa) também fizeram inspeção no laboratório montado no centro de Abadiânia (GO), no Entorno do Distrito Federal. Após a batida, a fábrica foi interditada cautelarmente.
O alvo são as chamadas “cápsulas energizadas”. No depoimento de seis páginas que prestou na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Goiânia (GO) no dia 16 de dezembro, ao qual o Metrópoles teve acesso, João de Deus admitiu que fabricava remédios, que são revendidos aos “pacientes” do centro espiritualista.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que a farmácia possui alvará sanitário para manipulação e comercialização de fitoterápicos. No entanto, a interdição se deu pela produção em escala industrial para a qual o estabelecimento não estava liberado.
“A farmácia também não é autorizada a manipular e comercializar nenhum produto que não seja fitoterápico, medicamento produzido através de plantas”, disse a pasta em nota. A equipe chegou ao local por volta das 9h30 e coletou amostras de medicamentos e de água mineral vendida como fluidificada. Os produtos foram encaminhados ao Laboratório de Saúde Pública Dr. Geovanni Cysneiros (Lacen-GO), para que sejam analisados. Os resultados devem sair de 15 a 30 dias. A partir daí, novas medidas poderão ser tomadas.
No ato da inspeção, foram emitidos autos de infração e de apreensão cautelar, além de termo de intimação, que vão gerar relatório técnico, a ser entregue ao responsável técnico da farmácia, com as adequações necessárias para eventual liberação do funcionamento da farmácia.
De acordo com João de Deus, a caixa com 10 comprimidos é comercializada por aproximadamente R$ 50 — o valor, no entanto, pode chegar a R$ 100. “Não tenho certeza do preço. No atendimento, não é repassada a receita. As orientações são repassadas pelo espírito, ou seja, não é de maneira escrita. Apenas atendo e oriento”, afirmou.
Perguntado pelo advogado se ele coage as pessoas a comprar a medicação, disse que não existe qualquer imposição. Alguns até a adquirem mesmo sem “a orientação do espírito”. A força-tarefa da Polícia Civil e do Ministério Público de Goiás fez uma varredura no laboratório nessa terça-feira (18/12).
Por meio de nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) destacou que os medicamentos precisam ter o registro da instituição vinculado ao Ministério da Saúde. Quem age de forma contrária comete crime.
“A existência de alvará sanitário ou autorização para funcionamento são de responsabilidade da própria Vigilância Sanitária municipal ou estadual, que possuem autonomia administrativa e são vinculadas às respectivas secretarias de Saúde e responsáveis pela fiscalização e emissão dos respectivos documentos”, destacou o órgão.
A delegada Karla Fernandes, da Deic, informou no dia 19 de dezembro que o laboratório possui alvará de funcionamento. Depois da prisão preventiva de João de Deus, as cápsulas passaram a ser distribuídas gratuitamente. Funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola afirmaram ao Estadão que a mudança foi determinada pelo próprio médium, que costumeiramente indicava o remédio manipulado para mais de dois terços dos frequentadores.