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Jingles presidenciais são iguais e não sobreviverão após eleição

Especialista diz que falta “um chiclete de ouvido” entre apostas dos candidatos à Presidência. “Corrupção” está fora do coro de candidatos

atualizado

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Urna eletrônica
1 de 1 Urna eletrônica - Foto: TSE/Divulgação

Vai começar a temporada de jingles e aquela tradicional busca por colar na cabeça do eleitor o nome, o número e a mensagem que cada candidato quer passar. Como já é tradição, quem busca o voto vende “mudança”, mote quase onipresente nos refrões das músicas que tomarão conta do horário eleitoral a partir da próxima sexta-feira (31/8). O ritmo pode ser diferente, mas a promessa de “tirar o Brasil da crise” será cantada por todos os presidenciáveis.

Com base nos jingles já divulgados pelas campanhas, Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB) são os que mais abusam da promessa de mudar o rumo do país. Ciro diz que tem experiência para isso, Meirelles e Dias afirmam que só eles são capazes de fazer o que o eleitor espera e Bolsonaro até nomeou seu hit de Muda Brasil.

Para Carlos Manhanelli, especialista em marketing político e autor do livro Jingles Eleitorais e Marketing Político – Uma Dupla do Barulho, os jingles da eleição “estão todos iguais e parecem escritos por uma mesma pessoa”. “Tem uma falta de originalidade. Parece que um está copiando o outro. Nenhum deles vai sobreviver depois do período eleitoral. Não tem um chiclete de ouvido”, disse.

Entre os jingles já apresentados, Manhanelli notou que Alvaro Dias usa o sertanejo universitário para passar uma ideia de honestidade; que o nome Ciro é repetido 67 vezes em meio a um tecno brega; que Meirelles escolheu ritmos nordestinos para se vender como o homem que precisa ser chamado para resolver qualquer problema; e que o jingle de Bolsonaro repete quase um Lulinha paz e amor quando afirma “Bolsonaro com amor e com coragem”.

Emoção
Líder nas pesquisas de intenção de voto no cenário sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso na Lava Jato, Bolsonaro apela ainda à emoção para conquistar – ou ao menos manter – seu eleitorado em busca de uma vaga no segundo turno. O jingle espalhado pelas redes sociais do candidato e de apoiadores começa com os acordes do hino nacional e segue no ritmo do forró para afirmar que “olha para o futuro, quer ver seus filhos num país mais seguro” e, “com amor e com coragem”, vai “mudar a nossa Nação”.

Com a indefinição a respeito da candidatura de Lula, que terá seu registro julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nos próximos dias, o PT, por enquanto, mantém o jingle lançado para a convenção nacional do partido, que indicou o ex-presidente como candidato. A música remete às campanhas de 1989 e da vitória de 2002, famosas pelo “Lula lá” e pelo coro da “esperança”, mantendo a estratégia de usar o nome do ex-presidente o máximo durante a campanha deste ano.

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), caberá ao eleitorado agora julgar se as promessas de mudança vendidas nos jingles convencem e são ou não viáveis. “Obviamente, o que se tenta é seduzir o eleitor com promessas de um futuro novo. Mas até que ponto isso convence? Vale lembrar que vários desses candidatos estão ou já estiveram no governo”, disse.

Omissão
Teixeira também chama a atenção para a ausência da palavra “corrupção” nos jingles. Em vez de mencionar os escândalos revelados pela Operação Lava Jato e por outras investigações conduzidas pela Polícia Federal, a maioria dos presidenciáveis optou por destacar as palavras “honestidade” e “ficha limpa” nas músicas de suas campanhas.

Mesmo o candidato que levanta costumeiramente a bandeira da Lava Jato, o senador Alvaro Dias, omite o termo na balada sertaneja que levará para a TV e o rádio. Para o cientista político, a explicação é óbvia: “A maioria não toca na palavra corrupção porque não pode atirar pedra em ninguém.”

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