Jerominho ameaçava grupos da maior milícia do Rio, diz especialista
Ex-vereador morto a tiros tentava retomar o poder, perdido após prisão. Morte de rival ano passado e ano eleitoral intensificaram conflitos
atualizado
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A morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, nessa quinta-feira (4/8), acontece em meio a intensificação da guerra entre grupos de milicianos na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ele é apontado como um dos fundadores da Liga da Justiça, uma das primeiras milícias cariocas, que ajudou na expansão de grupo paramilitares na capital fluminense.
É o que explica o professor da Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e estudioso de milícias no estado, José Cláudio Souza Alves. Ele explicou ao Metrópoles que já existe uma guerra por poder entre as milícias e dentro da maior milícia do Rio, derivada da Liga da Justiça.
Essa guerra mais recente se iniciou com a morte do miliciano Ecko, em junho do ano passado. Ele era líder do Bonde do Ecko, que um dia já se chamou A Firma e antes era a Liga da Justiça. Ou seja, Jerominho foi um dos fundadores do que veio se tornar a maior milícia do Rio, que abrange bairros da Zona Oeste e municípios da Baixada Fluminense.
“Essa região já está em guerra desde junho do ano passado, já tem mais de um ano que essa guerra está se prolongando. Então, essa região toda já convive com muitas mortes e desaparecimento de corpos”, de acordo com o professor. Essa guerra seria entre vários grupos internos que estariam disputando o lugar deixado por Ecko ou por emancipação.
Retomada pela política
Além da morte de Ecko, a disputa política aquecida pelo ano eleitoral também teria influenciado na deflagração dessa guerra entre milicianos, já que existe uma forte ligação entre a política partidária e essas organizações criminosas, segundo o pesquisador José Cláudio. O próprio Jerominho foi vereador entre 2000 e 2008 e outro fundador da Liga da Justiça, seu irmão Natalino Guimarães, foi deputado estadual.
O poder de Jerominho ficou ameaçado após ficar preso mais de 10 anos. Ele foi indiciado na CPI da Milícia, um marco na luta contra o crime organizado no Rio de Janeiro. Quando ele saiu da prisão, a antiga Liga da Justiça havia se transformado em outra milícia, com diferentes lideranças.
“O Jerominho tenta retomar seu poderio. Ele tenta ser candidato a prefeito e não consegue. Ele começa a ensaiar a mesma estratégia anterior, de projeção política. (…). Ele tinha ainda alguma base nessa região, de negócios, de gente vinculada a ele. Ele começou a ensaiar um discurso de homem benfeitor, que não tem vínculo com a violência”, explicou o professor José Cláudio.
E é na retomada desse poder que Jerominho é executado por homens de preto armados de fuzil nesta quinta-feira, em plena luz do dia. O cunhado dele, que estava junto, também foi atingido e está hospitalizado.
“Jerominho passou a representar uma ameaça para grupos que, dentro dessa grande milícia (a maior do Rio de Janeiro), não estavam interessados em ver o poder do Jerominho reaparecer”, avaliou o pesquisador.