Janot escreverá dois livros, um deles com bastidor das delações da JBS
Depoimentos dos donos da companhia, Joesley e Wesley Batista, embasaram denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva
atualizado
Compartilhar notícia
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contou nesta segunda-feira (28/8) que irá lançar dois livros sobre seu período no cargo. Inclusive, com bastidores da delação da JBS, que levaram à denúncia do presidente Michel Temer (PMDB-SP) por corrupção passiva.
“Muitas das coisas que aconteceram a gente não pode veicular, e não foram veiculadas. Algumas eu poderei contar como memórias, outras terei de esperar um pouco mais para revelar. Acho que devo isso à sociedade brasileira, que quer conhecer um pouco do intestino de tudo isso”, justificou Janot.
O procurador-geral participou de evento no Rio de Janeiro, onde fez a revelação. “E tem outro projeto, que é de memória, mas sobre as opções que eu tomei nas investigações e as razões jurídicas e metajurídicas que me levaram a tomar (decisões), por exemplo, no caso JBS”, acrescentou.
Ele afirmou que a Operação Lava Jato não deve ser uma investigação permanente, precisa ter um escopo fechado, e que já é possível visualizar “até onde a investigação pode ir, e se espera que vá”.“A sociedade brasileira não pode ficar refém de uma investigação eterna”, salientou o investigador. Ele disse ainda que fatos levantados pela Lava Jato sempre podem gerar reações no Legislativo, no Judiciário e no Executivo.
“A partir do momento em que as investigações prosseguem, reações acontecem. Algumas iniciativas do Congresso geraram perplexidade, e uma delas foi a do abuso de autoridade. Estava em tramitação desde 2006, caminhava e parava conforme algum andamento mais marcante das ações. O preço da liberdade é a eterna vigilância”, afirmou.
O procurador-geral disse também que foi muito desgastante oferecer denúncia contra Temer. Questionado por jornalistas, ele contou que é “absolutamente favorável” à fixação de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). E esboçou: “Talvez de 15 anos, mas a valer somente para quem ingressar no futuro. Seria uma maneira de renovar a Corte”.
Acordos
O procurador-geral da República falou também sobre o sistema que prevê acordos de leniência e alertou para a necessidade de se melhorar a medida. “O sistema de leniência está uma bagunça, tem de ser arrumado. Tem de ser colocado de maneira clara”, avaliou.
“Você tem órgãos como Cade, CGU, AGU, MP, TCU todo mundo participando, o que dá insegurança para a empresa, que pergunta: ‘quem é o dono da bola?’ O que se quer evitar, e que hoje não é possível, é que acordo tenha reflexo na área penal, o que mais interessa à empresa. Hoje, não tem.”
Janot reafirmou que suas decisões à frente da PGR, da qual sairá dentro de duas semanas, sempre foram técnicas. “Não levo em conta o que dizem imprensa, ruas, rede social. É técnico. Algumas vezes a gente é tentado. Mas se você fizer uma vez, perde critério objetivo, danou-se, lascou”, disse. “Não levo trabalho para casa. Só assim consegui sobreviver esse tempo todo”.
O procurador-geral declarou também que não acredita que sua saída da PGR prejudicará a Lava Jato. “A Lava Jato não é de ninguém, é do coletivo, todo mundo se interessa, busca, cobra, fala. Eu vejo (sucessão) com naturalidade. “Disse ainda que, diante de “investigações maduras”, assinará atos de ofício até o último dia de sua permanência como procurador-geral, 15 de setembro.
Sobre a reforma política, sem nomear se o melhor sistema eleitoral é o proporcional, distrital, distrital misto ou outros, Janot posicionou-se contra os parlamentares puxadores de voto e contra o modelo já extinto de financiamento privado de campanha.