Janot diz à PF que Miller tentou fechar leniência e delação da J&F
Então auxiliar do ex-procurador-geral da República, Marcelo Miller teria agido para beneficiar empresa dos irmãos Batista junto à PGR
atualizado
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Durante depoimento à Polícia Federal em janeiro, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, detalhou como Marcelo Miller, ex-procurador de sua equipe, teria agido para garantir que o acordo de leniência da J&F ficasse com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e não com o Ministério Público Federal (MPF). As tentativas teriam ocorrido quando Miller já tinha deixado a PGR para tornar-se advogado da JBS, uma das empresas da holding J&F cujos donos e ex-executivos firmaram delação premiada com o MPF.
Segundo Janot, ele foi informado por procuradores que a J&F pedira para que a delação e a leniência da holding corressem de forma conjunta e simultânea na Procuradoria-Geral da República. A solicitação teria sido apresentada durante reunião com a presença de Marcelo Miller. Ao negar o pedido, afirmou Janot, ele determinou que Miller não poderia participar, em momento algum, do processo de colaboração da cúpula da JBS e, ainda, o auxiliar deveria ser informado de que caberia ao MPF conduzir o acordo de leniência.Os detalhes do depoimento de Rodrigo Janot foram divulgados na noite desta quinta-feira (15/2) pela TV Globo. De acordo com a reportagem, o ex-procurador-geral foi ouvido pela PF no inquérito que investiga justamente se seu ex-assessor, quando ainda pertencia à PGR, orientou os executivos da empresa para que conseguissem fechar seus termos de delação com o MPF.
De acordo com Janot, depois disso ele soube que o procurador da República do DF, Anselmo Lopes Cordeiro, quem ficou encarregado dos atos relativos à leniência do conglomerado, também determinara que Miller se retirasse do processo.
Constrangimento
Em seu relato aos policiais federais, Rodrigo Janot admitiu que a saída de Miller da PGR causou constrangimento, porque, dias antes de se tornar advogado da JBS, ele atuava na força-tarefa da Lava Jato, a qual tinha as empresas do grupo e seus donos, os irmãos Joesley e Wesley Batista, como alvos.
Apesar da saia justa, o ex-procurador-geral da República negou ter conhecimento a respeito de quem teria orientado os executivos da J&F a gravar autoridades, como o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), em conversas que seriam posteriormente apresentadas aos investigadores como provas de envolvimento em atos criminosos.