Jacarezinho: Defensoria e Câmara Municipal do Rio cobram explicações
Levantamento do Instituto Fogo Cruzado aponta que operação da Polícia Civil é a mais letal da história do Rio de Janeiro
atualizado
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Rio de Janeiro – A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou que está acompanhando com muita atenção os desdobramentos da operação policial que deixou pelo menos 25 mortos na manhã desta quinta-feira (6/5), no Jacarezinho, Zona Norte do Rio.
“Neste momento, a instituição está no local, por meio de sua Ouvidoria e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, ouvindo os moradores e apurando as circunstâncias da operação, a fim de avaliar as medidas individuais e coletivas a serem adotadas. Desde já, manifestamos nosso pesar e solidariedade aos familiares de todas as vítimas de mais essa tragédia a acometer nosso estado”, disse o órgão em nota.
A Câmara Municipal do Rio de Janeiro também está de olho na operação. A presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Casa, vereadora Teresa Bergher (Cidadania), vai acompanhar e cobrar explicações dos setores de segurança pública do estado: “Precisamos saber se houve arbitrariedades, porque ao menos 25 pessoas morreram. É isso é assustador. Uma chacina”.
A parlamentar lamenta as mortes. “Não dá para dizer que deu certo uma ação em que tantas pessoas morrem e que colocou em risco a vida de inocentes, tanto na comunidade quanto os que estavam no metrô. Precisamos cobrar da polícia um mínimo de inteligência, para evitar novos banhos de sangue, que não resolvem absolutamente nada. É difícil de entender que esta região, justamente onde fica a Cidade da Polícia, seja tão violenta”, afirmou.
Levantamento realizado pelo Instituto Fogo Cruzado mostra que a Operação Exceptis, deflagrada pela Polícia Civil na comunidade do Jacarezinho, é a mais letal da história do Rio de Janeiro. Até as 15h, 25 pessoas haviam sido mortas, sendo uma delas um policial civil.
Em 2021, o instituto já registrou 30 casos em que três ou mais pessoas foram mortas a tiros em situação semelhante. São 141 mortos nessas circunstâncias, de acordo com a ONG, sendo que 24 desses casos ocorreram em operações/ações policiais e resultaram em 113 mortos no total.
A entidade pondera que a maior chacina da história do estado do Rio de Janeiro ocorreu em 2005, na Baixada Fluminense. Na ocasião, 29 pessoas foram mortas por policiais armados à paisana que percorriam de carro Nova Iguaçu e Queimados e atiravam contra as pessoas que cruzavam o caminho. Neste caso, porém, não se tratava de uma operação policial oficial.
Ações terroristas
Ao justificar a operação deflagrada nesta quinta, na comunidade de Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, a Polícia Civil disse que a facção criminosa que atua na região age de forma semelhante a grupos terroristas, fazendo até o sequestro de trens da SuperVia.
Segundo as investigações, os criminosos têm “estrutura típica de guerra”, com centenas de “soldados munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo tipo de acessórios militares”.
O grupo, considerado um dos quartéis-generais da facção Comando Vermelho na região, alicia crianças e adolescentes para praticar crimes, como o tráfico de drogas, roubos e homicídios.
Com um intenso tiroteio, a operação deixou pelo menos 25 mortos, entre eles um policial, e dezenas de pessoas feridas. O agente André Frias, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), morreu após ser baleado na cabeça. Levado ao Hospital Municipal Salgado Filho com quadro clínico considerado grave, ele não resistiu.
Outros dois policiais também foram atingidos de raspão no braço e panturrilha e têm quadros estáveis. Ao todo, 21 traficantes foram identificados e são procurados pela polícia local. Segundo a Polícia Civil, são 24 suspeitos mortos e o agente.
De acordo com a Polícia Civil, entre os mortos estão 24 criminosos. Até o início da tarde, dez pessoas tinham sido presas. Foram apreendidas muitas armas e até munição antitanque.
Desde junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu operações em favelas durante a pandemia. A decisão permite ações apenas em “hipóteses absolutamente excepcionais”, após comunicação e justificativa ao Ministério Público.