“Já pensei em mudar de nome”, relata Mohana, filha de Ronnie Lessa
Filha de Ronnie Lessa, responsável pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, Mohana diz que é díficil perdoar o pai após o crime
atualizado
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Mohana, de 28 anos, é filha do ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa. Ele é acusado de ter assassinado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes na noite de 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro (RJ). E está detido na Penitenciária 1 do Complexo de Tremembé.
A moça revelou que não consegue encarar o pai, afirmando que ele “embrulha o estômago”.
A moça já pensou em mudar de nome e retirar o pai da identidade por conta do crime.
“É difícil olhar para ele, conversar. Olho e penso comigo mesma: “O que você fez, Lessa”— Mas ele é meu pai, e nunca deixará de ser. As coisas nunca serão como antes. Agora ele tem que assumir e pagar pelo que fez”, declarou em entrevista a O Globo.
Filha de Lessa relatou que ele sempre alegava inocência e “chegava a chorar”. De acordo com ela, ele fazia isso para se proteger. Ela estudou os processos do pai para ajudá-lo na defesa, e que era “sua defensora ferrenha”.
Formada em educação física, ela viveu em Orlando, nos Estados Unidos, onde obteve uma bolsa de estudos. Em 2019, aos 21 anos, testemunhou a prisão do pai pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
Após o ocorrido, ela abandonou o emprego nos EUA para cuidar do irmão, que na época tinha 14 anos, e da avó. A mãe, Elaine Lessa, e o tio, Bruno, também foram presos, acusados de obstrução de Justiça. E chegou a responder a um processo por contrabando de peças e acessórios de armas de fogo, mas foi absolvida.
Mohana paga pelos pais
Ela foi recusada em várias oportunidades de emprego por ser filha de Ronnie Lessa. Atualmente trabalha como consultora acadêmica. Seu irmão transformou o quarto de casa em um estúdio de tatuagem, enquanto sua mãe, Elaine, passou a atuar como body piercing.
Elaine foi presa em outubro de 2019 e deixou a cadeia em julho, beneficiada por decisão judicial que permitiu a conclusão da pena com medidas socioeducativas, como a prestação de serviços comunitários.
“Minha mãe tem muita mágoa do meu pai por tudo que passamos por causa dele. Passei cinco anos defendendo-o, até ele fazer a delação. Fiquei em choque. Eu me dediquei a ele. Engordei 50 quilos com isso tudo. Tenho doenças como TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) e tricotilomania (impulso de arrancar fios de cabelo e pelos do próprio corpo para alívio da tensão), que se agravaram muito”, conta.
Apesar de tudo, ela continua visitando o pai na prisão.
“Não posso abandoná-lo. É meu pai. Estou levando as coisas para ele na cadeia. É diferente. Não consigo olhar para ele, nem o beijar mais. Ele era meu herói. Embora eu seja religiosa, perdoá-lo é complicado. É difícil perdoar”, relata.
Depoimentos
O depoimento da testemunha de acusação Élcio de Queiroz foi iniciado na última sexta-feira e prossegue nesta segunda-feira (2/9). Ele foi responsável por dirigir o veículos usado na emboscada à vereadora Marielle Franci em 2018.
Mesmo após ter confessado sua participação no crime, Élcio acordou os benefícios em troca de informações à polícia e ao Ministério Público.