Isolamento social no Brasil cai pela metade em meio a colapso de UTIs
Disparada de casos de Covid-19 reforça necessidade de distanciamento. Estados e o DF têm medidas restritivas e vivem colapso na saúde
atualizado
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Enfrentando os dias mais letais da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o Brasil vivencia queda no índice de isolamento social, uma das principais medidas para conter a disseminação do vírus.
De acordo com dados da startup In Loco, somente 34,4% da população está cumprindo as medidas de distanciamento. O índice é oito pontos percentuais menor que o registrado há um mês, quando 42,7% da população estava isolada.
Para o leitor ter dimensão da gravidade da situação, o índice atual é quase a metade do registrado durante a primeira onda de casos de Covid-19. Em 22 de março de 2020, por exemplo, 62,2% dos brasileiros estavam cumprindo as medidas — a maior taxa já observada.
A comunidade médica-científica é categórica: como a vacinação ainda avança a passos lentos, o isolamento social e o uso de máscara são as principais ferramentas contra a Covid-19.
Atualmente, todos os estados e o Distrito Federal têm medidas restritivas impostas por governadores, como lockdown, toque de recolher e fechamento de setores da economia. É a primeira vez em 2021 que todas as unidades da Federação tem esse tipo de limitação.
Para se ter uma ideia de como o isolamento está baixo, somente uma unidade da Federação, o Pará, ultrapassa o índice de 40% de isolamento social. Ao todo, 42,8% dos paraenses estão permanecendo em casa. A taxa de isolamento é calculada pela localização por GPS de 60 milhões de celulares.
A situação mais grave está em Santa Catarina (30,3%), Mato Grosso do Sul (31%), Espírito Santo (31,2%), Minas Gerais (32,7%) e Distrito Federal (33%) — foto em destaque.
A queda no distanciamento social ocorre em um momento dramático da pandemia no país. O Brasil acumula recordes de casos e mortes pela doença.
O Brasil tem mais de 11,6 milhões de casos confirmados e 282 mil pessoas morreram vítimas do novo coronavírus. O Ministério da Saúde vacinou 10,3 milhões de pessoas.
Mudança de discurso
Nesta quarta-feira (17/3), o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, defendeu o isolamento social. “Cada um dos brasileiros tem que se conscientizar do seu papel e só juntos vamos poder evitar um grande número de óbitos e continuar a vida na maior normalidade possível”, afirmou durante visita à sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
A declaração é uma mudança de rota no discurso adotado pelo ministro durante a pandemia. Pazuello deixará o cargo por determinação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), após pressão de diversos setores. O cardiologista Marcelo Queiroga assumirá a vaga. Ele defende o distanciamento social e o uso de máscaras.
Ele ainda completou. “Vamos controlar a pandemia e com novos hábitos. Vamos mudar hábitos. Hábitos de usar máscara, de lavar as mãos, hábito de manter o grau de afastamento social, novos hábitos de horários, é necessário compreender isso”, concluiu.
O presidente Bolsonaro é crítico ao afastamento social desde o início da pandemia. As determinações de toques de recolher, fechamento do comércio e restrição de circulação — implementada por governadores e prefeitos — são alvo de constantes críticas do chefe do Palácio do Planalto.
Colapso
Aliado ao adoecimento vertiginoso, está a crise por leitos de unidade de terapia intensiva (UTIs). Segundo a Fiocruz país vive um “colapso” do sistema de saúde e caminha para uma “catástrofe”.
Segundo a instituição, 24 estados e o Distrito Federal têm taxas de ocupação dos leitos de UTI para a covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%.
“Trata-se do maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil. É praticamente o país inteiro com um quadro absolutamente crítico”, ressalta o documento.