Iphan propõe escudo antidrones nas laterais dos palácios de Brasília
O GSI, comandado pelo general Augusto Heleno, quer colocar torres na laje dos palácios presidenciais para monitorar drones
atualizado
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Considerado urgente pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o Projeto de Proteção das Instalações Presidenciais (ProPR) está paralisado pela burocracia. Preocupado com ataques ou espionagem por meio de drones, o órgão comandado pelo general Augusto Heleno contratou um escudo para os palácios do Planalto, da Alvorada e do Jaburu, mas o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) até o momento vetou duas versões da ideia, porque as antenas necessárias ferem o tombamento dos monumentos.
O impasse foi revelado pelo Metrópoles no início de agosto.
Agora, como solução, o órgão propõe que as torres não sejam instaladas no teto dos palácios, como quer o GSI, mas nas fachadas laterais ou em outro ponto do terreno. As sugestões estão em parecer feito no último dia 6 de agosto, mas que passou semanas com acesso restrito.
Ainda que seja subordinado ao governo federal, o Iphan tem como dever legal fazer cumprir as leis que tombaram o conjunto arquitetônico de Brasília como patrimônio histórico e tem resistido às pressões do GSI, que investiu R$ 2,49 milhões no sistema de detecção e neutralização de objetos voadores não tripulados.
No parecer que reprovou uma tentativa do GSI de instalar antenas menores do que as previstas inicialmente (que tinham até 20 metros de altura), o Iphan sugere três alternativas para o GSI:
1. Que os equipamentos sejam instalados não nos edifícios, mas em seus arredores; 2. Que seja colocada uma versão menor ainda dos sensores do escudo, mas afastados da beirada das lajes dos palácios e; 3. Que, em vez de no teto, se coloque as antenas nas fachadas laterais dos edifícios (viradas pros fundos).
Justificativas
O parecer assinado pelo coordenador técnico do Iphan-DF, Thiago Pereira Perpetuo, admitiu a importância de se proteger os palácios presidenciais, mas registrou que os projetos apresentados até agora pelo GSI, se realizados, iriam “enfraquecer o conjunto como um todo, atraindo o olhar do observador para algo que não deve ser visível”.
O documento critica ainda a qualidade dos projetos enviados pelo governo, que “desvinculado do contexto arquitetônico e ausente de um memorial descritivo que justifique as escolhas projetuais (…) prejudica a análise”.
Veja projeções do escudo antidrones bolado pelo GSI para proteger os palácios presidenciais:
Histórico
Na primeira versão, o escudo antidrones pleiteado pelo general Heleno previa torres de 20 metros em cima do Palácio do Planalto, de 10 metros no da Alvorada e de 6 metros no do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente.
Na versão mais recente, o equipamento previsto para o Planalto tem uma versão de 1,3 metro, que fica dentro de uma caixa. Para o Iphan, é a opção que menos agride o projeto arquitetônico concebido por Oscar Niemeyer. O órgão, porém, questionou o GSI sobre a possibilidade técnica de se instalar essa versão nos três edifícios e de o equipamento ficar mais longe da extremidade da laje (e da visão dos observadores).
O GSI ainda não enviou ao Iphan um novo pedido para finalmente tirar do papel seu escudo antidrones. Procurado pela reportagem, o órgão não se manifestou sobre as sugestões.
A revelação, pelo Metrópoles, de que o GSI pressiona para instalar as estruturas nos palácios tombados revoltou admiradores da obra de Niemeyer e repercutiu até no exterior. O jornal inglês The Guardian, por exemplo, publicou reportagem sobre o risco que correm os edifícios projetados por um dos expoentes do modernismo no mundo.
Como funciona o escudo antidrones?
As antenas que o GSI quer no teto dos palácios foram contratadas junto à empresa Segurpro Tecnologia em Sistemas de Segurança, que ganhou a licitação de R$ 2,49 milhões para executar o Projeto de Proteção das Instalações Presidenciais.
Pelo contrato, além de instalar os equipamentos, a empresa precisa capacitar os servidores do setor de segurança que vão operá-los.
O sistema tem, segundo o contrato assinado, a capacidade de identificar veículos não tripulados que se aproximarem da área restrita e “neutralizá-los”.
Não é, porém, uma bateria antiaérea que vai lançar mísseis no centro da capital para abater drones. A tecnologia do sistema permite, em teoria, que o operador corte a comunicação do drone com seu controlador inicial e passe a controlá-lo, fazendo com que pouse em lugar seguro e seja capturado.