Ipec: 8 em cada 10 brasileiros consideram o Brasil um país racista
Levantamento aponta também que a população brasileira considera que pessoas pretas são mais criminalizadas
atualizado
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Uma pesquisa feita pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) e divulgada nesta quinta-feira (27/7) mostra que 81% da população brasileira consideram o Brasil um país racista. O estudo “Percepções sobre o racismo no Brasil” foi encomendado pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Seta).
Segundo o levantamento, 60% das pessoas concordam totalmente que o Brasil é um país racista e outros 21% concordam em parte. Além disso, o estudo também aponta que 88% dos brasileiros consideram que a população negra é a mais criminalizada do que as indivíduos brancos.
A pesquisa ouviu 2 mil pessoas, de 127 municípios brasileiros espalhados pelas cinco regiões do país, durante todo o mês de abril de 2023. A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% da população brasileira se declara negra. No entanto, esse grupo ainda enfrenta grandes obstáculos para ocupar diferentes espaços.
O levantamento mostra ainda que 44% da população brasileira considera raça, cor e etnia como o principal fator responsável por gerar desigualdades no país. Em relação à abordagem policial, 79% consideram que ela é baseada na cor de pele, tipo de cabelo e vestimenta da pessoa.
“Esses dados escancaram o racismo no Brasil, e demonstram que a população em geral reconhece o racismo em uma das suas faces mais cruéis: a violência institucional, no caso específico, a policial. De forma prática, ela é reflexo do racismo que estrutura nossas instituições, da maneira como naturalizamos a violência contra as pessoas negras e as pessoas moradoras das periferias -cuja maioria é negra”, analisa Ana Paula Brandão, gestora do Projeto Seta e diretora programática na ActionAid.
Violência verbal
A pesquisa aponta também que 36% das pessoas convivem com indivíduos que têm atitudes racistas e 46% que convivem com pessoas que sofrem racismo. Este recorde mostra que a população brasileira identifica que o Brasil é racista, mas tem dificuldade para nomear o racismo em experiências pessoais.
“Por um lado existe uma dificuldade de identificar o racismo estrutural e, por outro lado, a dificuldade de identificar o racismo no universo privado pela pessoa respondente, ou seja, no cotidiano das escolas, do trabalho, das famílias e outros espaços de convivência. É possível relacionar o cenário com o baixo percentual de pessoas que aprenderam sobre o racismo nas escolas de forma adequada”, destaca Jaqueline Santos, consultora de monitoramento e avaliação do Projeto Seta.
Segundo o estudo, a principal forma de identificar uma manifestação racista pela população brasileira é pela violência verbal, como xingamentos e ofensas (66%), seguida de tratamento desigual (42%) e violência física, como agressões (39%).
“O movimento negro denuncia há décadas o mito de que a democracia é igual para todos no Brasil, principalmente para jovens entre 16 e 24 anos, faixa etária mais impactada pelo racismo. O próximo passo é avançar na qualificação deste debate, pois, como já dizia Lélia Gonzalez, o racismo no Brasil é profundamente disfarçado”, afirma Márcio Black, coordenador de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum.