Carro circula indevidamente por Brasília com identificação do Ipea
O Metrópoles flagrou no Parque da Cidade veículo parado com adesivo do órgão, que nega uso e promete apurar irregularidade
atualizado
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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estuda acionar a Polícia Federal para investigar o uso indevido de um veículo com adesivo do órgão. O Metrópoles flagrou o automóvel parado no estacionamento 11 do Parque da Cidade no dia 9 deste mês. O carro supostamente oficial ficou ao menos 55 minutos no local. Dentro dele, um motorista dormia com os vidros entreabertos.
Segundo os registros do Departamento de Trânsito (Detran-DF) e da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o veículo é de uso particular e “nunca pertenceu a órgão público”. Tanto a autarquia quanto a corporação não informaram a situação do automóvel, como existência de multas, licenciamento e pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Apesar do adesivo fixado no para-brisa (veja foto abaixo), o Ipea nega que o carro pertença à frota. Inicialmente, o órgão informou que o veículo seria da empresa Trans21, que prestou serviço até junho de 2018. Procurada pela reportagem, a transportadora afirma não ser a dona do automóvel.
O carro, um Toyota modelo Corolla na cor preta, tem circulado pelas ruas de Brasília identificado como pertencente ao governo federal. Contudo, ninguém sabe explicar como e por que está adesivado como de uso do Ipea. O órgão estuda abrir uma sindicância e acionar investigadores da Polícia Federal.
Depois de ser questionado, o Ipea afirmou, em nota, que não utiliza carro oficial e que esse também não pertencia à empresa. “Todos os servidores e o presidente do instituto utilizam serviço de táxi, por meio de uma cooperativa”, destaca. O último contrato de locação de automóveis, de acordo com o Ipea, foi rescindido em 14 de junho de 2018. Esse convênio atendia apenas ao presidente do órgão.
O Ipea explica que, quando existia contrato de locação de veículos oficiais, era utilizado o adesivo com as palavras “Governo Federal” na cor amarela. Em uma consulta ao cadastro dos servidores, o órgão não identificou o dono do Corolla em questão como funcionário efetivo ou terceirizado.
Empresa nega
O gerente da Trans21, Eduardo Rossi, nega qualquer vínculo com o automóvel. “Pela placa e modelo, o carro nunca fez parte da nossa frota. Enquanto atendemos o Ipea, não usávamos esse modelo, e nenhum foi adesivado”, explica.
Durante um ano e meio, a empresa prestou serviço ao instituto, o que causou estranheza diante da atribuição feita pelo Ipea. “Isso é incompetência do órgão. Bastaria consultar a placa. É preciso ter cuidado ao divulgar essas informações”, reclama.
Mudanças em 2018
No ano passado, o ex-presidente Michel Temer mudou as regras para o uso de carros oficiais. Desde então, os veículos, tanto da administração pública federal direta quanto de autarquias e fundações, serão divididos em três categorias: de representação, de serviços comuns e de serviços especiais.
Os carros passaram a ser usados exclusivamente pelo presidente e pelo vice-presidente da República, pelos ministros de Estado e por ocupantes de cargos de natureza especial. Também poderão ser utilizados pelo presidente, diretor-geral ou diretor-presidente de agências reguladoras.
Os veículos de serviços comuns serão modelos básicos, destinados ao transporte de material e de pessoal a serviço. Já os de serviços especiais serão usados para questões ligadas à segurança pública e nacional, atividades de inteligência, saúde pública e fiscalização e coleta de dados.
O decreto proíbe, por exemplo, o uso de veículos oficiais para serviços de transporte coletivo ou individual de pessoal a partir da residência ao local de trabalho e vice-versa, para fins de excursões de lazer ou passeios, uso aos sábados, domingos e feriados, para o transporte de parentes de servidor público ou de pessoas não vinculadas ao serviço público.