Instrução era para retirar golpistas do Planalto, dizem membros do GSI
Integrantes do GSI apontam que orientação para prisões para invasores do Planalto surgiu posteriormente, pelo então ministro Gonçalves Dias
atualizado
Compartilhar notícia
Integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) disseram, que, inicialmente, a orientação no dia 8 de janeiro era apenas para retirar os invasores do Planalto. A instrução para que os golpistas fossem presos surgiu posteriormente. As declarações foram feitas em uma investigação interna da pasta, para apurar a atuação dos membros do GSI no dia dos ataques. Os depoimentos foram enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF).
As declarações apontam que a primeira determinação partiu de Carlos José Russo Penteado, então secretário-executivo do GSI. A orientação dele era para a condução dos invasores para fora do Planalto e que os integrantes do GSI os orientassem a deixar também as proximidades do local.
“A missão da tropa de choque e do pessoal de serviço do GSI era retirada dos invasores do Palácio do Planalto”, disse o então diretor-adjunto do Departamento de Segurança Presidencial, coronel Wanderli Baptista, em depoimento aos quais a TV Globo teve acesso.
Horas depois, os servidores receberam uma nova ordem do então ministro-chefe da pasta, Gonçalves Dias, para que os invasores fossem presos. Os servidores foram ouvidos em fevereiro — antes da demissão de Dias e da divulgação de imagens do circuito interno do Planalto.
Retirada dos golpistas
Conforme o depoimento do coronel Wanderli Baptista, inicialmente, o esforço era para a retirada dos invasores do interior do Planalto.
“No primeiro momento, a missão de todos nós […] era de evacuar a instalação [Palácio do Planalto] tendo em vista que o grande número de manifestantes não permitia, naquela ocasião, qualquer tipo de detenção ou prisão. A missão da tropa de choque e do pessoal de serviço do GSI era retirada dos invasores do Palácio do Planalto”, disse.
No entanto, de acordo com as declarações do coronel Baptista, mais tarde naquele dia, o ministro Gonçalves Dias determinou que as tropas realizassem a prisão dos invasores.
O coordenador-geral de Segurança das Instalações, André Luiz Garcia Furtado, também declarou ter recebido ordens iniciais do então secretário-executivo do GSI para que os invasores já retirados fossem orientados a deixar a área do Palácio do Planalto. Porém, em depoimento à Polícia Federal, prestado em 23 de abril, ele não fez menção ao general Penteado.
Segundo Furtado, após a desocupação dos pisos superiores do Palácio, a maioria dos golpistas foi retirada por meio da torre de emergência do Planalto. Ele também declarou que os invasores foram “naturalmente concentrados, na área externa, nos fundos e na lateral oeste do Palácio do Planalto [gramado e estacionamento]”.
“Neste momento, por determinação do general Penteado, estas pessoas foram orientadas a se retirarem do local”, afirmou.
Informações desencontradas
De acordo com o coronel Baptista, houve uma demora na transmissão da ordem de Gonçalves Dias aos integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal e do Exército, que atuavam para conter os golpistas, para prender os invasores. Segundo ele, o fato gerou um desencontro de informações.
Segundo o relato do coronel, a confusão levou a um embate entre o comandante da tropa da PM e o então comandante do Batalhão da Guarda Presidencial do Exército, coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora. Conforme Baptista, a orientação de prender os invasores havia chegado somente ao comandante da PM. Sem ter infomações, ao ser comunicado pelo policial, Fernandes da Hora se negou a cumprir a ordem.
“O comandante da tropa da PMDF retorna até a mim, dizendo ‘Comando, vou prender o coronel do Exército’. Eu, de imediato, passei à frente da tropa de choque da PMDF e fui falar com o coronel Fernandes, que estava cumprindo a missão de retirada dos manifestantes do Palácio e não tinha ciência, até aquele momento, da ordem de prisão determinada pelo ministro do GSI”, declarou Wanderli Baptista.
Ainda de acordo com Baptista, a confusão foi resolvida de “imediato”. Ele avaliou que “foram realizadas abordagens pela PMDF, algumas, a meu ver, de forma muito enérgica, resultando em algumas prisões imediatas”.
Regras de segurança
Além dos depoimento, o GSI encaminhou ao STF outros documentos, entre eles um que trata das “Regras de Engajamento para as Atividades de Segurança de Instalações”.
O documento estabelece os procedimentos que devem ser adotados pelos integrantes do Departamento de Segurança Presidencial e tropas militares envolvidas na proteção dos Palácios das Residências Oficiais.
Entre as orientações contidas no documento estão, por exemplo, que pode haver emprego de força proporcional à agressão para “preservar a incolumidade do patrimônio”. Ou seja, impedir o ataque ou tentativa de invasão às instalações presidenciais.
Em menção a “casos especiais”, as regras apontam que, mesmo sem avisos, cidadãos que não têm autorização ou que tentam invadir palácios e terrenos pertencentes aos locais devem ser “abordados e detidos para identificação e averiguação das atividades que estavam realizando”.
O texto prevê que essas pessoas podem, inclusive, receber ordem de prisão.