Inspiradas pelo caso Mari Ferrer, adolescentes criam copo antiassédio
Por meio de reações químicas, o objeto consegue detectar substâncias como “boa noite Cinderela” e avisa sobre o perigo
atualizado
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Inconformadas diante de casos em que mulheres são dopadas e em seguida violentadas, duas adolescentes de Sapucaia do Sul (RS) criaram um copo antiassédio. Laura Fonseca, 16 anos, e Laura Larrossa, 17 anos, alunas do Sesi, analisaram as alterações químicas que ocorrem em bebidas adulteradas e criaram um dispositivo que sinaliza essas mudanças no nível de pH.
Ao identificar o sinal de perigo, por meio de microcontroladores, o copo – de 17cm de altura, 8,5cm de diâmetro na base e 9,8 cm de diâmetro na boca – vibra. O projeto faz parte do trabalho de iniciação científica proposto pela escola para conclusão do ensino médio.
Após as análises químicas e a confirmação da hipótese inicial, de que é possível identificar a mudança no pH ao dissolver os fármacos cujo efeito colateral é a sonolência, elas testaram os sensores e definiram o formato do copo.
As alunas começaram a trabalhar com a proposta no final do ano passado, quando estavam no 2º ano. Elas tiveram orientação dos professores João Alberto Braccini e Eduarda Fehlberg, da Escola Sesi Arthur Aluízio Daudt. Agora, a ideia é finalista da 19ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia da USP, que acaba nesta sexta-feira (26/3).
Ao todo, mais de 4 mil estudantes inscreveram 1.250 projetos, que foram julgados e selecionados por professores universitários e especialistas para a mostra virtual e a votação do público. Estudantes de escolas públicas e privadas de todo o Brasil participam do evento, que, neste ano, será virtual.
Motivação
Cerca de 500km separam Florianópolis (SC) de Sapucaia do Sul (RS), mas as duas localidades estão conectadas pela empatia feminina. Em dezembro de 2018, Mari Ferrer acusou o empresário André Aranha de dopá-la colocando “boa noite cinderela” em sua bebida e estuprá-la no Café de La Musique, em Florianópolis. Durante o processo, a influencer catarinense foi humilhada em audiência ao exigir Justiça.
Ao saber do processo, em 2019, as duas jovens do município da região metropolitana de Porto Alegre sentiram-se solidárias diante daquela dor. Quando o caso ganhou destaque na mídia, Laura Fonseca e Laura Larrossa começaram a pensar no que poderiam fazer para proteger outras mulheres.
“A gente acompanhou passo a passo desse julgamento. Mesmo com tantas provas a Justiça não foi feita. Isso nos impactou muito. Não envolve só a Mari Ferrer, é sobre todas as mulheres e o nosso direito de relaxar nos momentos de diversão”, diz Laura Larrossa
Laura Larrossa destaca que mulheres ainda enfrentam muitos desafios e preconceitos nas ciências exatas. “Ainda é difícil ver mulheres na engenharia, por exemplo. Somos duas mulheres jovens criando esse projeto e querendo criar um impacto positivo”, afirma. Ela destaca como uma de suas principais influências a mãe, que é formada em química. Larrossa deseja ser farmacêutica, após terminar o ensino médio no fim deste ano.
Já Laura Fonseca, 16 anos, é a filha mais velha de uma professora com um metalúrgico. Sempre amou ciência e desejava desenvolver estudos com propósito. “Não queria fazer apenas um projeto para me formar, queria algo com impacto. Me senti impotente diante da história da Mari Ferrer e conversando sobre isso com a Laura chegamos a essa ideia”, lembra. Laura Fonseca deseja tornar-se advogada,
Tenho um grande carinho pelos professores que nos encorajaram. Ter mulheres na ciência é muito importante. A Justiça pode ser falha então ideias como essa podem ajudar muitas pessoas
Laura Fonseca
Em vídeo, elas explicam o funcionamento do copo: